Sara Tavaresé dona deum talento inato. A compositora e intérprete, que jáconta com 17 anos de carreira, com 17 anos de puradedicação à música, é uma das vozes mais acarinhadas pelo público e pela crítica nacional einternacional. Portadora deum timbreúnico,o seu nome já está mais do que consagrado no panorama daWorld Music e o seu talento sem igual já levou o nome de Portugal e das suas origens a viajar um pouco por todo o mundo.

Depois do concerto no festival Sintra Misty, em outubro de 2011, eis que finalmente chegou omomento de assistirmos ao tão aguardado concerto em nome própriode Sara Tavares em Lisboa, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. "Xinti", o seuúltimo álbum, editado em 2009, que, segundo a própriaartista, não foi devidamente divulgado devido à pausa quefoi obrigada afazer na sua carreira, foi o pretexto para o espetáculo da noite de ontem.

Pouco passava das 21h00 quando Sara Tavares e o seu "gang" -termo que utilizou para designar os músicos que a acompanham em palco - subiram ao palco. De vestido verde e casaco vermelho, a cantora deu início ao concerto com a música Caminhanti, passando, logo a seguir,para Amor é, do álbum "Balancé".

“É, para mim, um «prazeirasso» estar aqui convosco esta noite. Para nos acompanhar e se juntar a estes músicos maravilhosos convidei Filipe Raposo” -e, desta forma, Saradirigiu-se à plateia lotada do CCB,onde pescouo jovem pianista queviria a acompanhara cantora na maioria dos temas, começando por Quando dás um pouco mais. Depois de agradecer o apoio, as emoções positivas e todas as orações que lhe chegam por parte de fãs e músicos, Sara apresentou os seus comparsas nesta aventura de subir aos palcos: Ivo Costa (bateria), Gogui Embaló (baixo), Miroca Paris (percussão), Jon Luz (cavaquinho) e Luiz Caracol (guitarra e cavaquinho).

Seguiu-se, no repertório,Lisboa Kuya, Dam bô - um dos temas mais pedidos pelos seus admiradores através do facebook -e Nha Cretchéu - uma canção “para o romance, para corações cheios e quebrados, mas colados com um novo amor”.

Um dos inúmeros grandes momentos da noitedeu-secom a canção Balancé, dedicada a uma grande amigade Sara, que a inspirou a tornar-se compositora. À medida que o concerto continuava, os aplausos intensificavam-se e as vibrações positivas tornavam tudo muito especial.

“Estão sempre a questionar-me quando é que canto canções novas e quando é que lanço um álbum novo. Por isso mesmo, vou apresentar-vos uma música nova. Chama-se Ginga e convido Nancy Vieira a juntar-se a nós, para a interpretar”. Para além desta canção, Nancy Vieira encantounuma sentida homenagem a Cesária Évora, interpretando uma morna acompanhada apenas à viola e com um casal de bailarinos a corporizar a canção, tornando o momento bastante emocionante.

O concerto continuou com Voz di Vento, seguindo-se outro momento puramente mágico, proporcionado pela interpretação de Eu Sei, apenas como piano de Filipe Raposo como fundo. “Espero que todos se estejam a sentir bem…A próxima música nem era para fazer parte do álbum "Xinti". Quando a compus, foi como se estivesse a meditar nos acordes de guitarra. Por isso, convidei Rão Kyao para se juntar a nós e tocar flauta neste tema” -eSaratermina a intervenção dedicando a canção Ponto de Luz à sua mãe.

Para celebrar o carinho e amizade que a une a Luiz Caracol, Sara Tavares deu-lhe a oportunidade de interpretar um poema de Fernando Pessoa, o qual contou tambémcom o bandolim de Júlio Pereira, que os acompanhou em palco. O dueto entre Sara Tavares e Luiz Caracol continuou por mais uma música, que contou com referências a Tito Paris e a outros nomes sonantes da música africana projetadas nos painéis que decoravamo palco, em jeito de homenagem.

Mana Fé e Mi Ma Bo, tema que dá nome ao seu primeiro álbum, foram as canções que se seguiram, durante as quais umelemento do público, amiga da cantora, elogiada pelos excelentes passos de dança, foi chamada para o palco, onde, cúmplice de Sara Tavares, improvisou pequenos passos de dança. O facto da cantora se apresentar com o pulso partido não impediu que, volta e meia, dançasse um pouco ou tocasse alguns instrumentos de percussão.

Poka Terra, Bué (você é), Keda Livre e Di Alma -uma canção dedicada a todos, por serem a sua família da alma - foram os últimos temas interpretados pela cantora, que deixou o público de alma preenchida e revigorada pelos ritmos quentes e cheios de energia.

Mas o público aplaudia cada vez mais e mais e não saía do seu lugar. Sara e a sua banda regressam novamente para um encore bastante animado, onde não faltou o grande êxito Bom Feelinge o temaOne Love.

Paz, amor e felicidade foram as palavras de ordem ao longo de todo o concerto e, como não poderia deixar de ser, a mensagem para fechar de excelente maneira todo o espetáculo.

Mas o público, exigente,queria mais uma canção e Sara tornou o desejo realidade, mesmo não tendo mais nada preparado. Comovida e de modo totalmente improvisado, a cantora interpretouVoá Borboleta, tema do seu primeiro álbum, deixando o público de boca aberta e petrificado de emoção.

Sem dúvida que Sara Tavares transporta consigo o puro conceito de ser uma artista universal. A sua voz e a sua postura livre e verdadeiramente tranquila transformam-na num mito vivo, que tem tudo para continuar a brilhar. As suas composições têm vida, boas vibrações e vivem integralmente como cidadãs do mundo.

Este espetáculo segue agora para a Casa da Música, onde vai aterrarno próximo dia 1 de março.

Ana Cláudia Silva