Ícone do Yé-yé e artista talentosa, Sylvie Vartan, que está a despedir-se dos palcos aos 80 anos, era uma cantora popular com títulos às vezes provocadores e melodias frequentemente melancólicas que relembravam o exílio da sua Bulgária natal.
Na sexta, sábado e domingo, a mulher que formou um casal lendário com Johnny Hallyday está a dar os seus últimos três concertos no Palais des Congrès em Paris. Intitulados "Je tire ma révérence" [Retiro-me, em tradução livre].
Trata-se do ponto final de uma carreira de 63 anos para uma das maiores artistas francófonas: cerca de 50 álbuns, 40 milhões de discos vendidos e duas mil capas de revista, mais do que outras estrelas francesas como Brigitte Bardot e Catherine Deneuve.
Entre as suas cerca de 1.500 músicas, há muitos sucessos: de "La plus belle pour aller danser" (1964), composta por Aznavour, a "L'Amour, c'est comme une cigarette" (1981) e "Comme un garçon", onde ela troca o vestido "pelo blusão" e "o cinto", letras irreverentes para a época.
No entanto, ela chegou ao canto por acaso.
"Desde os 6 anos, queria ser atriz. E depois a vida levou-me para outro lugar", contou.
Em 1961, o seu irmão Eddie Vartan, sete anos mais velho e também músico, fê-la faltar à escola para gravar "Panne d'essence" com Frankie Jordan. Foi o sucesso instantâneo aos 17 anos e a primeira atuação no Olympia.
Esta sala mítica de espetáculos irá recebê-la durante décadas, às vezes acompanhada por futuras estrelas mundiais como os Beatles em 1964.
A estudante de 'twist'
Algo introvertida, a 'estudante do twist' rapidamente transforma-se numa 'femme fatale' e animal dos palcos.
A loira com a voz grave nasceu em 15 de agosto de 1944 em Iskretz, uma vila na Bulgária. Cresceu na capital Sófia, onde o seu pai trabalhava na embaixada francesa.
Tinha oito anos quando a sua família fugiu do regime comunista para a França no Expresso do Oriente. Uma rutura que pode ser sentida nas suas canções, como a mais mítica "La Maritza", nomeada em homenagem a um rio búlgaro.
"As canções bonitas são melancólicas. A melancolia está comigo desde a infância", disse.
Não regressaria ao seu país natal até 1990, onde adotou a sua filha Darina com o seu segundo marido, o produtor americano Tony Scotti, com quem se casou em 1984.
Em Paris, o início foi difícil para os Vartan, que viveram num quarto de hotel durante cinco anos.
"Depois de cair subitamente" no sucesso, a adolescente, uma perfeccionista, deixou a sua marca nesta profissão difícil, "especialmente para as mulheres".
Sylvie Vartan enfrentou uma tempestade de críticas em 1965 ao ser a primeira a cantar... de calças.
O casal que formou com o "ídolo da juventude" Johnny Hallyday, pai do seu filho David, foi vítima dos paparazzi.
O 'casamento de uma geração'
A união dos dois em 1965 numa vila no Oise, no meio de uma corte de fãs e jornalistas, foi o 'casamento de uma geração'.
Às vezes, dividiam o palco e gravaram "J'ai un probleme" (1973), um dueto que permaneceu famoso.
"Si tu n'es pas vraiment l'amour, tu y ressembles" [Se não és verdadeiramente o amor, pareces], cantavam.
Em 1968, Sylvie Vartan sobreviveu a um acidente de carro que custou a vida da amiga de infância Mercedes Calmel Mendès. Dois anos depois, outro acidente, do qual Johnny saiu ileso, forçou-a a ficar seis meses nos EUA para recuperar o seu rosto. Aproveitou a oportunidade para fazer aulas de dança e se iniciar nos espetáculos 'ao estilo americano0.
A união dos 'enfants terribles' do rock terminou em divórcio em 1980, após muitos choros, ruturas e reconciliações.
Ela mudou-se para Los Angeles para a sua terceira vida. Mas regularmente regressava à França e ao seu público.
Frustrada a oportunidade de representar em "Os Chapéus de Chuva de Cherburgo" (1964), teve uma carreira modesta no teatro e no cinema, com apenas um papel importante em L'ange noir" (1994), de Jean-Claude Brisseau, ao lado de Michel Piccoli e Tchéky Karyo.
"Se sinto uma falta, é no cinema", confessou.
Bastante discreta sobre a sua vida privada, deu um murro na mesa após a morte de Johnny Hallyday, no final de 2017, para apoiar publicamente o seu filho e a atriz Laura Smet, filha da relação do cantor com a atriz Nathalie Baye, na batalha jurídica contra a viúva Laeticia após terem sido excluídos do testamento.
A disputa amplamente pública sobre o 'Elvis da França' chocou o país, com muitos fãs indignados ao saber que Hallyday teria deserdado os seus filhos biológicos. Com os bens congelados, o caso só foi resolvido por acordo entre as partes em junho de 2020.
Sylvie Vartan é tia de Michael Vartan, ator popularizado pela série "Alias", filho do seu irmão Eddie, falecido em 2001.
Em 2024, ao anunciar que se ia reformar, recordou que, se Johnny estava "praticamente morto em palco", esse "não seria o caso" dela.
Uma despedida 'irrevogável' dos palcos, confiou a cantora à agência France-Presse em novembro.
"Vivi num vulcão desde que comecei. Fiz tanta coisa que, a certa altura, tem de se acalmar um pouco. Está na hora", disse.
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