Chegou a Lisboa com vontade de mostrar aos portugueses o seu novo trabalho e recordar composições antigas. «Délibáb» foi gravado em Buenos Aires, na Argentina, e contou com a participação de Carlos Moscardini.
Neste trabalho, Ramil destaca a canção «Milonga de los Morenos». Dedicada aos negros, de quem, segundo o intérprete, Jorge Luís Borges fala «de uma forma muito amorosa», a canção contou com a colaboração de Caetano Veloso. «É realmente um momento muito especial do disco», remata o cantor.
Vitor nasceu numa casa com seis irmãos músicos e teve de aprender a abstrair-se e a criar «no meio daquela bagunça». Portanto, para ele «a música surge nos lugares mais imprevistos».
O cantor pertence à velha guarda e confessa que não tem uma grande relação com a internet, apesar de reconhecer as suas potencialidades. «Eu não vejo a internet como um perigo. Eu vejo a internet como a ferramenta de uma grande mudança e nós ainda estamos no processo de mudança», conclui. No entanto, percebe que este momento crítico pode ser inquietante para quem já está em actividade.
Para seu espanto, foi eleito num concurso online, como o melhor cantor brasileiro em 2008. «Eu não uso as redes sociais. Eu sou de uma geração que não entende, na verdade, o funcionamento dessa exposição. Mas, ao mesmo tempo, eu entendo que ela existe e que pode ser muito legal», diz o compositor.
Onze músicas compõem «Délibáb», o nono disco de Ramil, que, desde os anos oitenta, surpreendeu a crítica pela sua capacidade de experimentar e surpreender. Em 1984 Vitor estreou-se com «A Paixão de V segundo ele próprio» onde reuniu um vasto elenco de músicos brasileiros num disco experimental com uma sonoridade medieval.
Apenas três anos depois, após regressar ao sul do Brasil, lança «Tango», um disco mais pensado, com canções mais elaboradas. O palco passou a ser espaço natural do intérprete durante os anos 90 que, simultaneamente, decidiu explorar a sua veia literária. Estreou-se com o livro «Pequod».
A conjugação das duas artes permitiu-lhe reflectir sobre a sua própria identidade e seguiram-se vários discos, entre eles, «À Beça», «Ramilonga», «Tambong», «Longes» e «Santolep Sambatown». O violão é actualmente o melhor amigo de Vitor que equaciona, inclusive, regravar alguns temas antigos. Canções que, segundo este, ficaram muito mal gravadas dada a «concepção de som muito feia» à qual «ninguém escapou ileso» nos anos oitenta.
Este é apenas um dos vários projectos que o compositor tem em curso. Está actualmente a terminar uma nova obra literária e a lançar-se na produção do seu songbook e de um documentário sobre «Délibáb».
No dia 4 de Abril, Vitor Ramil vai tocar sozinho com o seu violão. Esta é a forma como mais gosta de se apresentar. «É um tipo de espectáculo que me dá muita liberdade para improvisar, para tocar outras coisas. A partir das milongas vou seleccionar um repertório que perpasse os meus outros trabalhos», promete o compositor brasileiro.
Concerto: 4 de Abril – Culturgest (Lisboa)
Preço dos bilhetes: 15 euros ( 5 euros para jovens com idade inferior a 30 anos)
@ Inês Fernandes Alves
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