![You Can’t Win, Charlie Brown no CCB: Uma noite sem derrotas](/assets/img/blank.png)
“After December” abriu caminho à banda, recebida com grande entusiasmo. As notas do novo single viajam entre o piano de Afonso Cabral, a bateria e os efeitos digitais. Uma mistura de Cinematic Orchestra, Animal Collective e Grizzly Bear, com os lamentos sinfónicos de Bon Iver e um quê do que faz deste ensemble de seis tão especial. Não poderia haver canção tão certeira para uma noite de chuva, com toda a sua beleza e liberdade.
Em “Fall for you”, o groove sai do baixo, mas são as teclas que quebram a neblina, sombria e adulta, vinda do alinhamento, onde moravam as estreias.Os instrumentos saltam de mão em mão, por entre os batimentos percursivos que iniciam “Green Grass #1”.Sem demoras, com mudanças cromáticas na tela por detrás da banda, “A while can be a long time” mostra a forma como amigos e artistas se completam com a maior majestosidade melódico-indie. Um regresso ao passado e ao disco de 2011, com uma personalidade promissora, celebrada noite dentro.
"I wanna be your fog", o terceiro tema do novo trabalho, é arrepiante, doce, e difunde sorrisos entre o palco e a plateia.Delicado, "I've been lost" marcou o primeiro ponto alto da noite, aplaudido durante os primeiros acordes. Os YCWCB são criativos, versáteis e dinâmicos. As palmas servem para fazer música e as harmonias saem-lhes da alma, calma e confortável.
Do primeiro EP, gravado em casa, "com os microfones que por lá andavam", ouve-se “Sort Of”. Esta é a musica favorita de um amigo, mestre da masterização dos álbuns da banda - Luís “Walter Benjamin” Nunes – que procurava o amor, com um corte de cabelo fresco, como ponto forte.
“From a soothing mouth” antecede a marcha rítmica, cavalgante e explosiva que é “Until December”, uma das músicas filhas de “Chromatic” (2011).“Post Summer Silence”, da autoria de Salvador Menezes, um dos homens na frente do palco, poderia ser a mensagem no final de uma carta, como um abraço que se dá à distância.
OsYCWCB, descendentes da Pataca Discos, dedicaram agradecimentos a toda a família musical e derivados. David Santos, o Noiserv de serviço, investiu em gloriosas intervenções orais e ofereceu risos. “Over the sun / Under the Water”, a dois tempos, da sua faceta acústica para espasmos electromagnéticos, anuncia a fase final do maior concerto da carreira do projeto.
Depois de darem vida nova a “The Velvet Underground & Nico”, a experiência contribuiu para a descoberta de novas sonoridades, demonstradas ao longo da performance."Be my world", a primeira amostra em forma de single de “Diffraction/Refraction”, dá-nos a conhecer um Charlie Brown crescido, saído da escuridão do palco, em contagem decrescente.
Já no encore, “An Ending” chega encantadora ao piano, num déjà vu inicial, que se estende até ao desfecho mais delicioso. Segue-se “Heart”, uma mini canção - em duração, não em emoção - em multi-voz.
O final chegou com "Natural Habitat", duas palavras que resumem a noite na perfeição. Os You Can’t Win, Charlie Brown mostraram a viagem até mais uma vitória, desta vez em cima de um dos mais importantes palcos de Lisboa.
Texto: Sara Fidalgo
Fotografias: Marta Ribeiro
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