Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças (...)

                                      - Fernando Pessoa

Sabia que há uma Fundação, no nordeste do Brasil, cuja diretora tem apenas onze anos? Ou que aumentaram o número de publicações de banda desenhada, em Portugal, no último ano? Que muitos artistas brasileiros gostam de pré-publicar as obras no AmadoraBD? E, será que sabia que, este ano, a exposição central é dedicada à presença dos mais novos nas folhas dos livros aos quadradinhos? Então, aproveite e revisite um século de banda desenhada, nos corredores do Fórum Luís de Camões.

Antes de todas as pranchas serem penduradas e os olhos se demorarem nas cores ou palavras escritas, há um trabalho de preparação do Fórum Luís de Camões - para abrigar o festival internacional - que é um dos principais quebra-cabeças da equipa do AmadoraBD.

Este ano, com o tema d'"As Crianças na Banda Desenhada", os designers prepararam um imaginário, vincadamente infantil, maioritariamente em cartão, que nos leva dos carroceis às brincadeiras com caixas que se tornam em tudo aquilo que sonharmos. Mas, as alusões à infância não começam só com as luzes que nos recebem logo na entrada.

AmadoraBD exposição central

Se a banda desenhada contemporânea europeia nasceu nos traços de Stuart Carvalhais, era impossível deixar de fora a celebração do centenário de "Quim e Manecas". Porém, a exposição central foca-se nas mais memoráveis crianças desta arte: claro que falamos dos Peanuts de Schulz, da Mafalda de Quino e de Calvin & Hobbes de Bill Watterson. Com um espólio composto por originais de vários museus e coleccionadores, muitos desenhos antigos, publicações raras, muitas delas únicas após as Grandes Guerras, e personagens de vários séculos: o convite para não perder esta edição extende-se, cada vez mais, a toda a família (sem contar que há espaços secretos que só os mais novos podem visitar!)

No piso térreo, destaque ainda para a exposição do português Pedro Massano, homenageado pela cidade da Amadora, que junta muita investigação e teoria e apresenta um desenho realista de um famoso acontecimento da história lusa: a Batalha de Aljubarrota. Ainda, neste andar, há espaço para um cantinho especial: o que nos apresenta a Fundação Casa Grande que, a partir de Nova Olinda no nordeste do Brasil, se dedicou a combater a pobreza geracional dando emprego a crianças e fazendo-as adquirir competências artísticas. Aliás, não podemos deixar de referir que a sua diretora tem onze anos e assumiu o cargo aos sete; o diretor da gibiteca prepara-se para a deixar a alguém mais novo, afinal já completou os dezassete; a diretora da biblioteca orgulha-se dos seus sete anos e, o diretor de teatro é o "caçula" com quatro. Abandonando a área comercial, também zona de autógrafos, descemos de piso para continuar a aventurarmo-nos pelo universo dos "quadrinhos".

No Piso -1, encontra-se o auditório, e a exposição organizada pelos jornalistas Luís Salvado e Sara Figueiredo Costa, "1 Ano de Edições em Portugal": uma retrospetiva sobre aquilo que se publicou, desde o último festival até agosto deste ano, no universo português dos livros aos quadradinhos. E ainda há tanto para ver! Podemos falar da pequena exposição dedicada à Carta dos Direitos das Crianças, do argumentista André Oliveira, de Jim del Mónaco, do concurso de BD que nos devolveu "Quim e Manecas", dos resquícios das tertúlias da Banda Desenhada de Lisboa (que já celebra 30 anos)... Há ainda uma revisitação da Bíblia especial ou a história de como uma menina cria o mundo a partir de um lápis. Há ateliers, colóquios e atividades paralelas e a certeza de que não há desculpas para não rumar ao AMADORABD. O resto? O resto pode ver aqui.