Genuíno Madruga na sua volta ao mundo, João Garcia no topo do monte Evereste e Michael Collins a orbitar a lua partilham uma capacidade incomum: estarem sozinhos sem sentirem solidão, “um dos males do século”.

O feito destas figuras consideradas heroicas é relatado no livro “Uma luz na noite escura”, que é lançado na quinta-feira, em Lisboa, do psiquiatra João Carlos Melo, no qual aborda a capacidade de estar só e de superar vários estados de solidão.

No livro, que será apresentado pelo psiquiatra Daniel Sampaio, o médico dá a conhecer experiências de solidão vividas por várias personalidades, mas também por anónimos, introvertidas e extrovertidas, alegres e tristes, umas que sucumbiram à solidão e outras que aprenderam a estar sós, na sua própria companhia.

Em declarações à agência Lusa, o psiquiatra começou por dizer que o livro não tem a pretensão de “dar receitas sobre como não se sentir só”, mas dar exemplos de pessoas que “não são heróis, que não têm poderes”, mas que em situações de grande isolamento não se sentiram sós.

“Se estas pessoas que são como nós conseguem, todos podemos conseguir”, disse, explicando que o importante é as pessoas terem um foco na vida como aconteceu com o navegador açoriano Genuíno Madruga, o primeiro português e a décima pessoa em todo o mundo a conseguir dar duas voltas ao mundo sozinho num pequeno barco.

O mesmo sucedeu com João Garcia, o português que esteve sozinho no “topo do mundo”, o cume do Evereste, e Michael Collins, o astronauta que “foi o homem mais só desde Adão”.

Segundo o especialista, o importante é as pessoas terem “uma missão, um desafio” que pode ser uma “coisa simples do dia a dia”, mas também ajudar os outros.

Deu o exemplo do que está a acontecer neste momento com o apoio às vítimas da ofensiva militar russa na Ucrânia, o que disse ser “a verdadeira solidariedade” porque são pessoas desconhecidas, mas podíamos ser nós.

Por outro lado, salientou, “enquanto houver alguém que pensa em nós, nunca estaremos sós”.

João Carlos Melo contou que o tema do livro já estava a ser pensado “há muito tempo” porque observava em muitos doentes formas de solidão que não eram habituais.

“Isto permitiu-me perceber que havia uma solidão diferente das outras que é a dificuldade ou a incapacidade da pessoa transmitir a outra o que é que está a sentir”, explicou.

No livro escreve que “a solidão, ainda que seja inerente à condição humana, parece estar a crescer e a tornar-se um enorme problema, que afeta tudo e todos”.

“Há quem considere que é uma doença (…) com graves repercussões tanto físicas como psicológicas. E é também, naturalmente, um problema social”, sublinha.

No entanto, existe uma outra necessidade, “nem sempre compreendida e respeitada, mas igualmente vital: a necessidade de estar só” e ainda outra vertente, “a capacidade de estar só”.

À pergunta o que é a solidão, afirmou: “É uma característica da condição humana, porque em última análise há um reduto dentro de cada um de nós que é incomunicável com os outros”.

Outro aspeto da solidão, é a pessoa não conseguir fazer companhia a si própria. “Quando estão desacompanhadas sentem uma verdadeira solidão, o que gera nelas uma angústia tão grande que têm que ir procurar outras pessoas”, disse.

Sobre se as pessoas procuram ajuda devido à solidão, João Carlos Melo disse que geralmente isso não acontece.

“Procuram quando surgem sintomas associados à solidão, como ansiedade, insónia, depressão, porque sentem que é mais adequado socialmente pedir ajuda para estas situações”, rematou.

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