Adaptado a partir da obra homónima do escritor britânico, publicada em 1865, “Alice no País das Maravilhas” que Ricardo Neves-Neves e Maria João Luís encenam agora é, contudo, uma dramaturgia adaptada desta obra e que tem muito da que a sucede, “Alice do Outro Lado do Espelho”.
“Queríamos uma personagem menos cândida, mais maria-rapaz, mais pespineta e isso influenciou muito o ponto de partida da adaptação”, afirmou à Lusa Ricardo Neves-Neves, à margem de um ensaio para imprensa da peça.
O encenador admitiu que só a meio da adaptação da peça se apercebeu que acaba por contar a história de “Alice no País das Maravilhas” através dos diálogos e das personagens de “Alice do Outro Lado do Espelho”, embora a narrativa seja da primeira obra.
Esta é, segundo o diretor do Teatro do Elétrico, a novidade deste texto que encena com Maria João Luís, diretora do Teatro da Terra, depois de, em 2015, terem encenado juntos uma adaptação de “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens.
O 'nonsense' e o humor são territórios privilegiados das dramaturgias escolhidas por Ricardo Neves-Neves desde que leu a obra de Lewis Carroll, aos 19 anos, quando transitava para o segundo ano do curso do Conservatório de Lisboa, explicou.
A linguagem do autor da obra original é uma linguagem que o encenador aprecia e admira e na qual se sente mais à vontade para encenar, disse o próprio à Lusa.
Contudo, a peça que agora se estreia na sala Garrett do D. Maria II tem “um terço a um quarto dos textos” saídos da pena de Ricardo Neves-Neves.
“Ora porque há necessidade de colar cenas, e portanto há que escrever texto para que elas encaixem, ou então pelo simples facto de ao trabalhar o texto o encenador ter sentido vontade de escrever”, como o próprio afirmou.
E como tanto Ricardo Neves-Neves como Maria João Luís gostavam de levar esta obra à cena optaram por fazê-lo agora, mas não por se tratar de altura de Natal.
“O Lewis Carroll toca o surrealismo de uma maneira muito direta e acho que era chegado o tempo de o pôr em cena. Não por ser Natal, mas porque tanto eu como a Maria João Luís achámos que era uma boa altura para o fazer”, frisou Ricardo Neves-Neves.
“Alice no País das Maravilhas” tem banda sonora ao vivo e a batida da música respeita os batimentos cardíacos de Alice, acentua o encenador.
“Porque a banda sonora foi pensada de acordo com o caminho que a Alice tem neste país”, referiu, acrescentando que não é, pois, de estranhar que o ritmo da música acelere quando Alice “está mais curiosa” ou que abrande quando ela “está receosa e com necessidade de silêncio”.
A história centra-se em torno da personagem que dá nome à peça e que devido à curiosidade é atraída para uma toca de um coelho, a partir da qual é transportada para um local fantástico povoado por criaturas particulares.
Nesta obra, Lewis Carroll socorreu-se das personagens para fazer uma crítica à sociedade britânica da época e aos seis hábitos.
Com tradução de Margarida Vale de Gato, “Alice no País das Maravilhas” tem direção musical de Rita Nunes e direção vocal de João Henriques.
Na interpretação estão Ana Amaral, Beatriz Frazão, Beatriz Maia, Helena Caldeira, Inês Dias, Joana Campelo, José Leite, Leonor Wellenkamp Carretas, Márcia Cardoso, Maria João Luís, Patrícia Andrade, Pedro Lacerda, Rafael Gomes, Sílvia Figueiredo.
A orquestra é composta por Ana Cláudia Santos (flauta), Fernando Matias (baixo elétrico), Ivo Rodrigues (trompete), José Massarrão (saxofone), Marcos Lázaro (violino), Paulo Lafaia (bateria), Pedro Ferro (piano), Rita Nunes (saxofone) e Xavier Ribeiro (trombone).
A cenografia é de Ângela Rocha, os figurinos de Rafaela Mapril e trata-se de uma produção do Teatro do Elétrico e Teatro da Terra em coprodução com o D. Maria II, com o Cineteatro Louletano e com o Teatro Nacional S. João.
No D. Maria II vai estar em cena até 06 de janeiro, com representações de quarta a sábado, às 19:00, e aos domingos, às 16:00. No dia 6 de janeiro, haverá uma sessão com interpretação em língua gestual portuguesa e uma conversa com os artistas no final do espetáculo.
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