Esta versão de "Amado Monstro" teve estreia prevista para o passado dia 1 de abril, mas, devido à pandemia da covid-19, sobe à cena no dia 10 de setembro, com adaptação, tradução, encenação e interpretação de João Didelet e Marcantonio Del Carlo.

Questionado sobre os efeitos da pandemia no teatro, João Didelet disse à agência Lusa que "é como estarmos a viver com a espada sobre as nossas cabeças, nunca sabemos qual vai ser o seu desenvolvimento e se temos de fechar portas".

"Já ultrapassámos muitas crises, mas nunca tivemos de fechar portas e lidar com este medo", disse.

Sobre a peça, João Didelet afirmou à Lusa que "aborda as relações humanas, de como as pessoas parecem ser uma coisa e não o são, havendo, paralelamente, uma crítica ao sistema capitalista".

"As empresas estrangeiras que apenas exploram os recursos dos nossos países", especificou Didelet, recordando que Tomeo escreveu a obra "num período de crise em Espanha", em 1987.

Javier Tomeo (1932-2013) nasceu em Huesca, na região de Aragão (noroeste de Espanha), assinou histórias de cariz popular sob o pseudónimo Frantz Keller, durante a década de 1950, no início da carreira.

Aquele que considerou o seu primeiro romance, "El cazador" ("O Caçador"), só chegou às livrarias em 1967, depois de, em 1963, ter publicado, com José María Estadella, o ensaio "La brujería y la superstición en Cataluña".

Vários romances de Javier Tomeo foram adaptados ao teatro, nomeadamente "Amado Monstro", publicado originalmente em 1987, tendo sido levado à cena, pouco depois, em Saragoça, e na capital francesa, Paris, onde alcançou êxito, permanecendo em cartaz no Teatro Nacional de la Colline, ao longo de 1989.

Autor de mais de 50 títulos, Tomeo, formado em Direito e Criminología pela Universidade de Barcelona, escreveu obras como "Los bosques de Nyx", para teatro, "Cidade de Barbastro", "O Gallitigre", "O Crime do Cinema Oriente", "Os Mistérios da Ópera", "Napoleão VII" e "Contos Perversos", entre outros.

Algumas das obras suas estão traduzidas em Portugal, designadamente "Amado Monstro", com as versões de Margarida Santiago, publicada pela Teorema, em 1989, e de José Bento, com o título "Querido Monstro", surgida nos Livros Cotovia, em 1990.

Em 2009, juntou-se a tradução de José Luís Ferreira, para o Teatro Municipal da Guarda.

"O Castelo da Carta Cifrada" (1990), publicado pela Editorial Caminho, e "Histórias Mínimas" (1992), pelos Livros Horizonte, são outros títulos de Tomeo em português.

O escritor morreu em Barcelona, em 2013.

Na obra literária, "Amado Monstro" materializa-se numa entrevista de emprego de João, na casa dos 30 anos, com o diretor dos recursos humanos de um banco. João nunca trabalhou e candidata-se a segurança, contrariando a vontade de uma mãe dominadora, algo que as personagens descobrem ter em comum.

A entrevista depressa se desenvolve, atravessando diferentes assuntos, segredos e preocupações, num jogo de poder entre as personagens, numa trama sempre atenta aos gestos de cada um.

"A entrevista resvala para os nossos amados monstros", adiantou Didelet à Lusa, que não quis revelar outros pormenores sobre a peça, que tem cerca de 65 minutos de duração e se "desenvolve de uma forma equilibrada".

A proposta de levar “Amado Monstro" à cena foi de Diogo Infante, que, desde 2017, é diretor artístico do Teatro Trindade, da Fundação Inatel, em Lisboa.

A peça, em cartaz até outubro, tem desenho de luz de Virgínia Esteves, música original de André do Áudio e figurinos de Didelet.

"Amado Monstro" vai estar em cena de quarta-feira a domingo, às 19:00, de 10 de setembro a 25 de outubro.