Ao testemunhar esta quinta-feira no julgamento que decorre nos arredores de Washington, a atriz Amber Heard disse que o seu ex-marido, Johnny Depp, a agrediu sexualmente e ameaçou "cortar" o seu rosto com uma garrafa partida durante uma acalorada discussão, um mês após o seu casamento em 2015.

A atriz de "Aquaman", de 36 anos, relatou vários casos de alegados abusos físicos e sexuais por parte do protagonista de "Piratas das Caraíbas" durante o seu segundo dia no banco das testemunhas no julgamento que está em curso nos arredores de Washington.

Heard deu a sua versão sobre um incidente que teria ocorrido em março de 2015 na Austrália, onde Depp filmava o quinto capítulo da franquia de sucesso.

Depp havia testemunhado no julgamento que uma "furiosa" Heard foi a agressora na discussão e cortou a ponta de um dos seus dedos com uma garrafa de vodka.

No entanto, a atriz disse que confrontou Depp por causa da sua forma de beber e ele a desafiou a tirar dele uma garrafa.

"Peguei e atirei-a no chão entre nós", contou ela. "Isso realmente o enfureceu", disse, acrescentando que Depp arremessou contra ela latas e garrafas.

"A certa altura, ele colocou uma garrafa partida no meu rosto, na área da garganta, na linha da mandíbula e disse que cortaria minha cara", lembrou.

Com a voz embargada, Heard afirmou que Depp arrancou a sua roupa e a agrediu sexualmente com uma garrafa.

"Johnny colocou a garrafa dentro de mim", enquanto ameaçava matá-la, disse.

Segundo ela, na manhã seguinte, descobriu que Depp havia usado o seu sangue, comida e tinta para escrever mensagens "incoerentes" em todas as superfícies da casa.

"Envergonhada"

Na audiência no condado de Fairfax, Virgínia, Heard também acusou Depp de esbofeteá-la e dar-lhe um pontapé num avião enquanto estava alcoolizado, depois de acusá-la de ter um caso com o ator James Franco.

"Senti-me envergonhada", disse ao júri.

"Era a primeira vez que passava por algo assim", acrescentou, à beira das lágrimas.

James Franco e Seth Rogen em "Alta Pedrada"

"Ele estava zangado comigo por ter aceite o trabalho com James Franco", contou Heard, ao relatar o incidente no avião, ocorrido em maio de 2014.

"Odiava, odiava James Franco, e acusava-me de ter um caso em segredo com ele no passado, desde que fizemos juntos 'Alta Pedrada' ['Pineapple Express']", acrescentou, referindo-se à comédia de 2008.

"Ele chamou-me de p***", afirmou a atriz.

Heard disse que Depp, que tinha bebido, deu-lhe uma chapada na cara e um pontapé nas costas enquanto mudava de lugar.

Os membros da equipa de segurança de Depp e as suas assistentes estavam no avião no momento dessa interação, contou a atriz.

"Caí no chão", relembrou. "Ninguém disse nada, ninguém fez nada. Era como se se pudesse ouvir um alfinete cair naquele avião".

"E lembro-me de me sentir muito envergonhada", acrescentou.

Depp, de 58 anos, processa Heard por um artigo de opinião publicado no jornal Washington Post em dezembro de 2018, no qual a atriz se descreveu como uma "figura pública que representa o abuso doméstico".

Heard não mencionou Depp no artigo, mas o ator processou-a por insinuar que era um abusador e pede 50 milhões de dólares em perdas e danos.

A atriz contra-processou, pedindo 100 milhões de dólares e alegando que sofreu "violência física e abusos desenfreados".

"Como um bebé"

Johnny Depp à chegada ao tribunal a 5 de maio

Durante os quatro dias que passou a prestar depoimento, Depp negou as agressões físicas e garantiu que a ex-mulher era a parte violenta da relação.

Heard também testemunhou sobre outras ocasiões em que o ator alegadamente a agrediu, incluindo uma em que "suspeitava" que tinha partido o seu nariz.

A atriz deu detalhes sobre o uso contínuo de drogas e álcool do ator e os seus esforços recorrentes para ficar sóbrio durante o relacionamento.

Contou que um segurança uma vez teve que carregar Depp inconsciente nos seus braços "como um bebé" até à sua casa alugada em Londres.

"Lembro de pensar que tinha que ser isso. Fiquei animada ao sentir que estávamos num novo capítulo, que Johnny finalmente tinha atingido o fundo do poço", disse.

Mas apesar de "um milhão de promessas de ficar limpo e sóbrio", da terapia de casal e dos esforços de reabilitação, Depp sempre voltava a beber e usar marijuana e cocaína.

Na quarta-feira, a atriz tinha dito que o ex-marido era obsessivamente ciumento e dava socos nas paredes e batia nela quando estava bêbado.

"Era o amor da minha vida", declarou Heard.

"Mas também era essa outra coisa. E essa outra coisa era horrível", afirmou.

A atriz disse que Depp a agrediu pela primeira vez depois de ela se rir de uma das suas tatuagens: "Deu-me uma estalada sem motivo".

Os advogados de ator levaram especialistas que testemunharam que o ator perdeu milhões devido às alegações de abuso, incluindo 22,5 milhões de dólares pelo sexto filme da franquia "Piratas das Caraíbas".

O ator iniciou um processo contra Heard nos EUA após perder outro caso por difamação em Londres em novembro de 2020, que apresentou contra o tabloide britânico The Sun por chamá-lo de "espancador de esposas".

Depp, nomeado três vezes para os Óscares, e Heard conheceram-se em 2009 no set do filme "O Diário a Rum" ("The Rum Diary") e casaram-se em fevereiro de 2015. O seu divórcio foi finalizado dois anos depois.

(*) Notícia atualizada com novos depoimentos de Amber Heard.