SAPO Mag (S.M.): Conta-nos que vamos encontrar em "Toda a Cidade Ardia".

Ana Guiomar (A.G.): A peça chama-se "Toda a Cidade Ardia", e é inspirada em poemas da Alice Vieira, bem como entrevistas da Alice. Contudo, gostamos sempre de frisar que não é a Alice Vieira em palco. Existem muitas pessoas que vão com a expectativa de que seja a Alice Vieira, mas não é (risos). Existem factos biográficos, muitos poemas, mas não existe a verdadeira Alice Vieira em palco. A minha personagem é a Ana, a protagonista da peça, que é interpretada por mim e pela Sílvia Filipe. A história é a biografia dessa mulher, desde os seus seis ou sete anos, até aos seus 70. Passamos por vários períodos nesta história, por várias épocas, e está a ser muito interessante.

S.M.: O que é mais desafiante para ti nesta peça?

A.G.: Para mim o mais desafiante é o facto de nós falarmos para o público. Nós não falamos com o público, mas falamos para o público. Tanto eu como a Sílvia temos partes da peça onde a nossa história é contada em narrativa e isso torna-se muito engraçado. Uma das coisas que a nossa encenadora, a Marta Dias, nos pediu, foi que a nossa história fosse uma coisa, os poemas outra, mas que contássemos sempre tudo para a plateia. Ela tem uma ideia, que eu acho muito interessante, de que quando se publica um poema ou algo tão íntimo é porque se quer partilhar, por isso fazer do espectador a própria personagem torna as coisas muito mais íntimas. Eu não sei se consegui essa perfeição, essa proeza, mas gostava muito que isso tivesse acontecido. Talvez num momento ou outro...

S.M.: Este é um novo projeto teu, mas está prestes a terminar. Como te sentes?

A.G.: Sim, o normal até costumam ser carreiras longas no Teatro Aberto, mas esta foi só um mês, por isso ela é nova e ao mesmo tempo está quase a acabar, mas eu sinto-me bem. Tenho sempre muita expectativa para estrear porque quero saber o que as pessoas disseram. Depois tenho muitos nervos, e todos os dias acho que vou morrer. No entanto, é tudo muito bom, o contacto com o público. Não é tanto por mostrar o meu trabalho ou por vaidade, não é mesmo! Nesta peça há muita partilha e as personagens não somos nós, mas acabamos por demonstrar algumas das nossas fragilidades.

S.M.: Sentes que no teatro acabas por explorar um lado mais dramático como atriz, em comparação com a tua experiência televisiva?

A.G.: Sim, sim. Eu também quero muito experimentar comédia e alta comédia no teatro, mas trabalhando no Teatro Aberto eles fazem coisas mais dramáticas e narrativas um bocado mais pesadas, é um facto. Eu acho que tem acontecido, e é diferente, porque no teatro temos muito tempo para treinar e trabalhar o texto, enquanto na televisão é um trabalho completamente diferente, embora haja personagens muito densas em televisão e muito trabalhosas, mas eu tenho feito coisas mais leves, sim.

S.M.: Que balanço fazes do teu percurso profissional?

A.G.: Bem, não vou estar aqui a despejar o currículo não é? (risos) Eu acho que sou atriz, mesmo atriz, e digo às pessoas que sou atriz há relativamente pouco tempo. Eu tinha sempre aquele pudor de 'estás numa novela, ainda não és atriz', na segunda não és atriz, na terceira talvez comeces a considerar ser atriz. Agora na quarta e na quinta, ok, se calhar sou mesmo. É um bocadinho assim, e acho que o meu percurso tem sido polvilhado de uma sorte incrível! É claro que tudo é também resultado de trabalho, mas eu conheço tanta gente que trabalha e que não tem esta sorte...

S.M.: E a cozinha é uma novidade na tua carreira...

A.G.:  É uma novidade para o público, sim, mas eu sempre gostei muito de cozinhar. Tinha muita vontade de fazer um projeto relacionado com a cozinha, mas não sabia como, nem quando ou porquê. Acho que a cozinha também comunica e é preciso saber comunicar bem, e como tive uns meses parada, já sabendo o que iria fazer a seguir, senti-me com vontade de fazer outra coisa, e tudo surgiu de uma forma muito natural. Achei que o Instagram era uma boa rede social, porque é uma rede muito rápida, e eu gosto de coisas rápidas e quase instantâneas. É uma rede com a qual me identifico muito.

S.M.: Os "Morangos com Açúcar" foram a plataforma onde ficaste mais conhecida no início da tua carreira. Se tivesses de dar outro nome à série, qual escolherias?

A.G.:  Uau (risos). Por acaso "Morangos com Açúcar" é um nome realmente interessante. Não sei, talvez... "Sal e Pimenta"? "Água Fria"? Não sei, não sei (risos).

S.M.: Do ponto de vista do Diogo (Valsassina, o namorado de Ana Guiomar), qual seria o pior encontro que vocês dois poderiam ter?

A.G: Levá-lo a uma tourada. Mas eu também não quereria ir. Calma, isto não é bom. Espera... Já sei, um jantar romântico. Daqueles jantares cheios de velinhas onde vem alguém receber à porta ou uma sessão fotográfica em casal, essa então é ótima. Ele ia detestar.

S.M.: Sendo tu uma amante da cozinha, e tendo em conta do nome do teu projeto culinário ( "Mãe, Já Não Tenho Sopa") diz-nos qual é o prato confecionado pela tua mãe sem o qual não podes viver, bem como o prato em que tu superas a tua própria mãe.

A.G: Boa (risos)! A minha mãe faz sopa muito bem mesmo e eu adoro a sopa da minha mãe. O prato que eu consigo superar é algo tão simples como arroz,  que a minhã mãe não sabe fazer (risos). A minha mãe é mesmo uma prova de fogo para fazer arroz lá em casa.

S.M.: E uma vez que já tens o teu Bart (o cão de Ana Guiomar), será que iremos ter uma Lisa?

A.G: Adoraria! No entanto iria ser um Totoro, cinzento, mas o Bart é mau, muito ciumento... (risos)