A segunda noite do Caixa Alfama começou, para o SAPO On The Hop, na Esplanada do Museu do Fado. Foi lá que se concentraram, neste sábado, os primeiros entusiastas do fado a jantar, a beber um copo ou a apreciar as instalações enquanto esperavam pela atuação de Júlio Resende. O som instrumental de Resende foi a melhor forma de começar uma noite pautada pela alegria de Anita Guerreiro, a tristeza de Aldina Duarte, a força de Carminho e o interessante fado à janela.

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A curiosidade para ver e ouvir Júlio Resende foi grande. Apesar de falhar na interação com o público, o músico foi mestre nas teclas do bonito órgão que tinha à sua frente. As salvas de palmas foram várias e longas num ambiente intimista que mostra a capacidade do festival de dar várias experiências em vários locais. “Estou muito feliz por estar nesta festa do fado”, confessou o artista. Após tocar Mariquinhas, Gaivota e Da Alma, Júlio Resende fez um apelo: “que haja muitos mais (festivais de fado) pelo mundo fora!”. Resende terminou com um tema que dedicou ao público e deixou os corações de Alfama a palpitar.

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Saído da esplanada, o SAPO On The Hop aproveitou para ver um pouco do fado à janela, aberto a todos os que passavam pelo largo em frente ao Museu do Fado. Numa noite de poucos nomes sonantes no cartaz, aproveitámos a oportunidade e testemunhámos como o fado pode acontecer em qualquer esquina de Alfama. Os turistas tiravam fotos à fachada onde três guitarristas coordenavam entre si vários fados populares. Cheira Bem, Cheira a Lisboa foi rainha e chegou às vozes dos presentes num belo momento de acompanhamento vocal no meio do largo. O fado está mais do que aberto a todos, é só aproveitar – mensagem recebida!

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Porém, quem nos conquistou do primeiro ao último minuto foi Anita Guerreiro. A fadista de 77 anos entrou e alegrou, sem recurso a microfone. “Tudo bem-disposto?”, grita mal entra. A resposta podia ser, naquele momento, negativa, mas depois da primeira canção já todos estavam mais animados levado pelo furação Anita Guerreiro. Num registo mais vadio, a fadista esteve sempre em interação com o público, provocando-o até com anedotas sobre políticos, personalidades famosas ou a sociedade no que agora chamaríamos de stand-up comedy (meets fado). De olhos fechados, interpretou temas mais tocantes como Sou Tua (“como o luar é da lua, as pedras são da rua, eu sou tua”, cantou) que disse ser ideal para “as senhoras dedicarem aos seus namoradinhos”.

Apesar do calor que se fazia sentir naquele pequeno espaço, Guerreiro não torceu a voz nem por vez, gesticulando de forma intensa a cada tema. “Aquilo que tem de ser tem muita força”, canta a certa altura. Cantou sobre Coimbra, sobre a vida, sobre Alfama e sobre o amor – mais do que cantar, interpretou fado. E foi em “festa” com um cheirinho a Lisboa (Cheira Bem, Cheira a Lisboa) que terminou a sua atuação, sendo logo de seguida abordada pelas pessoas presentes. Sem dúvida a melhor da noite!

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Entre Anita Guerreiro e Carminho, o SAPO On The Hop ainda deu um salto à atuação de Aldina Duarte. À janela estavam os residentes da zona (onde até um cão batia palmas) a apreciar o fado mais triste da fadista. Xale Encarnado foi o ponto alto, com Aldina a mostrar as potencialidades da sua voz, apesar de ter um registo mais atenuado em palco, onde o que reina é mesmo o instrumental.

Tempo de ir para Carminho, o grande nome da segunda noite do Caixa Alfama 2014, que às 23h45 começou a sua atuação no Palco Caixa. Para encerrar o festival, nada melhor do que uma fadista nascida e criada em Alfama: “é uma emoção estar em Alfama com um mar de gente… eu passei a minha infância nestas ruas porque a minha mãe tinha uma casa de fados”, confessa ao público, logo após terminar o primeiro tema da noite. “A magia do nosso fado é atual”, diz, sem dúvidas.

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Pouco depois cantou A Folha, da sua autoria, e logo de seguida um dos seus fados favoritos: Meu Amor Marinheiro. O concerto ia a meio quando a banda aproveitou para fazer um solo bastante aplaudido por um recinto quase totalmente cheio. Carminho regressa e, acapella, interpreta Alfama de Amália Rodrigues, num dos momentos mais intensos e emocionantes da noite. O concerto seguiu para Bom dia, Amor – com uma bela história sobre amor e expectativas - e outras canções do repertório de Carminho, mas vai ser aquela Alfama que ecoará nas nossas cabeças sempre que nos lembrarmos do Caixa Alfama.

Fotografias: Rita Sousa Vieira