A BD, apresentada como a primeira novela gráfica da Guiné Equatorial e proibida no país, foi publicada originalmente em 2014, em espanhol, depois em inglês e ganha agora tradução em português pela editora e livraria Tigre de Papel.

"O Pesadelo de Obi" é assinado por Chino, Tenso Tenso - pseudónimo de dois autores equato-guineenses - e por Ramón Esono Ebalé, declarado crítico do regime de Obiang, e que esteve cinco meses preso entre 2017 e 2018.

"É nossa esperança que a publicação de 'O Pesadelo de Obi' permitirá a um público mais vasto conhecer a obra e a mensagem de Ramón, despertando a atenção para a injustiça da sua indefinida detenção arbitrária e para a corrupção da ditadura cleptocrática da Guiné-Equatorial, que opera em total impunidade", lê-se na introdução do livro.

O longo texto introdutório contextualiza e justifica a criação desta banda desenhada, que denuncia abusos de poder e repressão do regime de Obiang, desigualdade e pobreza no país, e circulou no país "de mão em mão".

"Nunca antes fora publicada uma BD guineense e era chega a hora. Nesta BD, a história aconteceria na Guiné as personagens, situações, linguagem e humor seriam guineenses", lê-se no longo texto introdutório.

O objetivo do livro, referem os autores, era que "desmistificasse Obiang e encorajasse os guineenses a recuperar a confiança e a rir dele".

Na história, os autores colocam o presidente do país a viver um pesadelo, no qual é "assediado pelos seus piores medos, transformando-se numa vítima dos seus próprios abusos. Não apenas do roubo de toda a riqueza da Guiné-Equatorial (milhões e milhões todos os anos), mas também da deceção, intimidação, tortura... e do abuso mais grave, que atinge todos os outros e é o mais imperdoável: o desprezo pela sua própria gente".

Por conta de um grupo de portugueses, o livro tem edição em Portugal também por ser "um país próximo da Guiné-Equatorial, por via da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)".

"O Pesadelo de Obi" será apresentado na terça-feira, às 18:30, no Espaço TodoMundo, em Lisboa, e incluirá um debate com a presença da ex-eurodeputada Ana Gomes, da jornalista Bárbara Reis, da eurodeputada Marisa Matias e de um dos promotores da edição portuguesa, Frederico Pinheiro.

O ativista e cartoonista Ramón Esono Ebalé esteve cinco meses detido e foi libertado em março de 2018, depois de o Ministério Público da Guiné Equatorial ter retirado as acusações de lavagem de dinheiro e falsificação por falta de provas.

A libertação de Ebalé foi celebrada por várias organizações não governamentais internacionais.

Teodoro Obiang, 77 anos, está há 40 na liderança da Guiné-Equatorial, país africano que desde 2014 é membro da CPLP.

Na altura, a adesão foi contestada por várias organizações da sociedade civil, que alegaram o facto de poucos no país falarem português e acusaram o regime de várias violações de direitos humanos.

Em julho deste ano, em entrevista à agência Lusa, Obiang rejeitou as acusações de violação dos direitos humanos feitas por organizações não-governamentais, considerando que os relatórios das Nações Unidas “são claros” na absolvição do seu regime.

Meses antes, em fevereiro, a Amnistia Internacional alertou para as detenções arbitrárias, ataques e perseguições que ativistas e jornalistas estavam a enfrentar, no país, devido ao seu trabalho.

A Human Rights Watch disse no seu relatório anual que a "corrupção, pobreza e repressão de direitos civis e políticos continuaram a minar os direitos humanos na Guiné Equatorial", e que as "receitas do petróleo servem para financiar o exuberante estilo de vida da elite política, tendo sido feitos poucos progressos na melhoria do acesso da população a cuidados de saúde primários e educação".

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