A produção da companhia Helios Collective chama-se "Mad King Suibhne" e vai ser apresentada na Lilian Baylis House, uma sala da ENO dedicada a peças de ópera contemporâneas.

A ópera foi composta para o 10º. aniversário da Bury Court Opera, no sudoeste de Londres, em março deste ano e recebeu boas críticas.

A companhia procura agora prolongar a vida do espetáculo para ser apresentado noutras salas.

O autor é Noah Mosley, que se inspirou num texto irlandês do século XII que conta como o rei Suibhne é levado à loucura após matar o próprio amigo numa batalha.

O guerreiro abandona a família e isola-se, alternando entre momentos de lucidez e de total delírio.

"Lida com a doença mental de uma forma bastante humana. Tem sete cenas e uma música muito bonita, muito melódica, o que não acontece sempre com as óperas contemporâneas", afirmou o barítono português à agência Lusa.

Este é o primeiro papel de protagonista de Ricardo Panela numa opera completa contemporânea, que se tem especializado em óperas clássicas e música de câmara.

Recentemente, participou na produção "Les Dialogues des Carmelites", de Francis Poulenc, encenada por Luís Miguel Cintra no Teatro Nacional de São Carlos em fevereiro deste ano, e durante o verão foi Masetto na produção de Don Giovanni, de Mozart, na época da Opera Holland Park, em Londres.

Tem sido no Reino Unido que Ricardo Panela tem feito a sua carreira, após um mestrado na Guildhall School of Music and Drama, desafiado por uma professora de canto que conheceu quando frequentava a Universidade de Aveiro, cidade de onde é natural.

Desde então apresentou-se em palcos como Leighton House Museum, Southbank Centre, Wexford Festival Opera, Longborough Festival Opera, além de uma incursão à Casa da Música, no Porto.

"O objetivo desta produção foi criar uma ópera nova excitante e vibrante, explorar o potencial expressivo desta forma de arte em diferentes disciplinas, como o canto, a representação, o movimento e o design, promover jovens artistas em ascensão e, claro, contar uma história bonita com música e teatro", resumiu o autor, Noah Mosley, à Lusa.

A companhia vai apresentar "Mad King Suibhne" no âmbito de uma série de ‘masterclasses’, a que se seguirá uma curta temporada no centro de artes Messums Wiltshire, um antigo edifício agrícola do século XIII, entre 30 de novembro e 02 de dezembro.

O compositor elogia Ricardo Panela, com quem trabalhou na ópera de Astor Piazzolla "Maria de Buenos Aires" no ano passado: "A sua intensidade sombria vai retratar de forma magnífica a trajetória de Suibhne pela saudade, loucura e depressão e trará ao exame de consciência de Suibhne uma profunda integridade pessoal".

A participação em "Mad King Suibhne" é fruto de um investimento do cantor lírico de 33 anos para interpretar personagens protagonistas, ao aperceber-se de que a maior parte dos papéis desse nível tinham tendência a estar preenchidos por outros profissionais.

"Procurei companhias pequenas para ter oportunidade e experiência de palco nesses papéis", justificou o português.

Para 2018, tem previsto o regresso ao Teatro Nacional de São Carlos para participar em "L'enfant et des sortilèges", de Maurice Ravel.