“A ideia foi criar uma biblioteca pública dedicada ao Médio Oriente e Norte de África, com livros escritos em árabe, persa, hebraico, em turco, em urdu, apesar dos muitos dialetos que também existem, sobretudo no Iraque”, disse à Lusa Maria João Tomás, professora da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), investigadora do Observatório de Relações exteriores desta instituição académica (Observare) e uma das impulsionadoras do projeto.

A criação desta Biblioteca Pública tenta desta forma tornar acessível ao público e habitantes desta zona de Lisboa zona os livros escritos em árabe, persa, e nas restantes línguas, que apenas existem nas bibliotecas das universidades e reservadas aos alunos, explicou a dinamizadora do projeto e especialista na área do Médio Oriente.

“A Junta de freguesia de Arroios, com mais de 90 nacionalidades, está a promover a interculturalidade através da divulgação da cultura dos países destes imigrantes, mas também divulgar a estas pessoas a nossa cultura”, assinalou, ao sublinhar o acolhimento “desde a primeira hora” da presidente da Junta, Margarida Martins, e do vogal da Cultura e Bibliotecas, António Serzedelo. A equipa envolvida no projeto restringe-se atualmente a cinco pessoas.

Uma iniciativa que não se pretende apenas aberta a estudiosos mas também ao “grande público” e com uma “forte componente de interculturalidade”, não apenas para divulgar entre os lisboetas e portugueses a cultura destes países, mas também difundir a cultura portuguesa entre os estrangeiros que habitam em Arroios e outras zonas da cidade.

“Temos livros de autores portugueses traduzidos para estas línguas, com o apoio do Instituto Camões, que é nosso parceiro”, destacou.

“Existem também parcerias com faculdades, universidades, mas a primeira foi com o Instituto Camões, absolutamente essencial para divulgar a nossa cultura, os nossos autores portugueses traduzidos para estas línguas”. Se necessário, os livros requisitados podem ser enviados por correio, e devolvidos da mesma forma.

A Biblioteca Pública do Médio Oriente está situada no espaço da Biblioteca de São Lázaro, na Rua do Saco, perto do Intendente e do Martim Moniz, e a inauguração oficial está prevista para maio, mas dependente da evolução do desconfinamento.

“A grande preocupação é a interculturalidade, por isso vamos fazer não apenas colóquios e conferências mas também cursos de línguas, leituras de poesia ou ‘workshops’ de dança e culinária. Temos uma cantina ao lado”, indicou.

A doação de livros dos países envolvidos tem sido feita pelas embaixadas, em particular a representação do Emirados Árabes Unidos, Marrocos ou da Tunísia “cujo em embaixador foi um dos grandes entusiastas desta iniciativa”. E já estão prometidas entregas de obras pela representação da Palestina “e quase todos os outros países. Vamos também contar com a Turquia, com Israel, todos pertencem a esta região”, frisou.

Um projeto que pretende sublinhar a “noção de pertença, de inclusão, no fundo o que Arroios tem sempre feito, um lugar de todos. Na Biblioteca não teremos apenas livros árabes, o nosso primeiro espólio, mas em persa [farsi], já prometidos, e esperamos livros em hebraico e em turco”.

Em maio, caso os tempos o permitam, o objetivo consiste em promover um festival de rua com uma representação das diversas embaixadas, desde Marrocos aos confins do Médio Oriente, com a cerimónia a conferência inaugural mantidas no espaço da biblioteca.

“Os temas dos colóquios e conferências que projetamos vão incidir na história e cultura mas também da cultura em comum, porque temos uma história e uma cultura em comum com este mundo, não apenas com os árabes que cá estiveram mas também com os persas e inclusive com a Turquia devido às trocas diplomáticas no período do Império Otomano”, acentuou Maria João Tomás.

“Há muito para explorar, não nos vamos meter nas questões políticas, mas apenas na parte da História, Cultura, e nas relações bilaterais entre Portugal e todos os países desta área que estão envolvidos”, acrescentou.

Apesar de a maioria do espólio da Biblioteca Pública do Médio Oriente resultar de doações das embaixadas destes países, também está aberta a particulares que queiram participar, e com o nome do doador a figurar na biblioteca.