“São 32 espaços diferentes onde a programação vai passar ao longo de seis semanas. São mais de 30 artistas e o número de espaços importa, não tanto pela quantidade, mas por traduzir essa cartografia que é desenhada dentro de cada cidade”, destacou o diretor artístico, John Romão, à margem da apresentação do evento em Faro.

Paul B. Preciado, Agnieszka Polska, Héctor Zamora, Ana Borralho, João Galante, Vera Mantero, Gabriel Chaile, Orquestra do Algarve, João dos Santos Martins, Ana Jotta, Joana Sá e Filipe Pereira e Marina Herlop são alguns dos artistas que integram a edição de 2023 da bienal.

A programação experimental e heterogénea da bienal, que tem como mote o “Presente Invisível”, ‘viaja’ entre as artes performativas, as artes visuais, a música, o cinema, debates e ‘workshops’.

O diretor artístico da BoCA sublinhou que um dos destaques desta edição passa pelas colaborações entre artistas.

“[Vamos ter] Muitas duplas e muitos artistas que convocam a colaboração de outros artistas e vários cruzamentos entre as comunidades e outros artistas, dando visibilidade a outras práticas”, disse John Romão.

A bienal passará por 32 espaços culturais, patrimoniais e verdes de Lisboa e de Faro, entre teatros, museus, centros culturais, espaços patrimoniais, naturais e discotecas, com projetos que serão apresentados apenas numa das cidades e outros que circulam pelos dois territórios.

“Convocamos e convidamos o público a circular por espaços convencionais e não convencionais [...] que criam eles próprios um ecossistema conceptual que traduz os temas desta edição. É muito interessante ver como projetos de artistas, uns bastantes conhecidos internacionalmente e outros mais emergentes, podem estar em ligação por estes espaços tão diferentes”, frisou.

As criações encomendadas, produzidas ou coproduzidas pela BoCA vão abordar temas como os movimentos migratórios, apagamentos históricos, extrativismos e as violências racial e de género.

“Há esta tentativa de dar voz, dar lugar e colocar uma luz sobre aquilo que consideramos que está mais escondido e não tem tanta visibilidade”, explicou o diretor artístico da bienal, que pretende “provocar, refletir e fazer agir, tomando outras consciências sobre o mundo”.

A artista visual e realizadora polaca Agnieszka Polska vai estrear-se no teatro com “The Talking Car / O Carro Falante”, com um elenco composto por Albano Jerónimo, Bartosz Bielenia, Íris Cayate, Aaron Ronelle e Vera Mantero.

O mexicano Héctor Zamora, inspirado por um dos ofícios mais antigos do seu país, os ‘globeros’, vendedores de balões coloridos, apresenta a ação performativa “Quimera”, com pessoas migrantes a vender volumosos conjuntos de balões que formam palavras que aludem à crise e à migração.

O cartaz inclui também as duas primeiras incursões do filósofo Paul B. Preciado no palco e no cinema, com o texto “Eu Sou o Monstro que vos Fala”, pela voz de um grupo de cinco intérpretes trans e não binários, e o filme “Orlando, a minha biografia política”, adaptação da obra de Virginia Wolf.

Três propostas do realizador e encenador Marcus Lindeen sobre identidade e mudança de género, a apresentação do saxofonista Benkik Giske e do bailarino Romeu Runa e a primeira ópera do músico e artista visual Pedro Alves Sousa são outras das propostas.

Para ver há ainda o concerto “Pripyat” de Marina Herlop, que cruza música, performance e artes visuais a partir de um poema de Mário Cesariny, a instalação do artista argentino Gabriel Chaile em homenagem a Alcindo Monteiro, assassinado em 1995 em Lisboa, e o espetáculo “SPAfrica”, de Julian Hetzel e Ntando Cele.

A bienal conta também quatro ‘workshops’, entre dança e performance (com a coreógrafa brasileira Gaya de Medeiros ou a uruguaia Tamara Cubas), artes performativas e teatro (com a artista multidisciplinar Ntando Cele) e artes sonoras (com o saxofonista e artista multimédia Pedro Alves Sousa), e cinco debates.