O espetáculo “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos”, de Charles Möeller e Cláudio Botelho, apresenta 50 canções do autor brasileiro “que são, por si só, uma peça de teatro”, disse um dos autores.
Em declarações à Lusa, Cláudio Botelho afirmou que apenas foram escolhidas canções compostas por Chico Buarque para teatro, cinema e televisão, e realçou que é a primeira vez que a obra do poeta e compositor é abordada nesta perspetiva.
“São canções que tem princípio, meio e fim, e que são, por si só, uma peça de teatro”, frisou.
Este espetáculo, que se estreou em 2014, no Brasil, por ocasião do 70.º aniversário de Buarque, sobe à cena no Coliseu do Porto, nos dias 8 e 9 de março, e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, nos dias 11 e 12 do mesmo mês.
“O Chico [Buarque] não é dado a celebrações, e nunca aceitaria colocar a sua vida em palco, mas nós encontrámos uma maneira de falar da sua obra. Não foi uma tarefa simples, a sua obra é grande e com muitos aspetos variados, mas nós já tínhamos trabalhado a produção de Chico Buarque, o que facilitou”, contou.
“Chico Buarque em 90 minutos” conta a história de uma companhia de teatro que anda em digressão.
“Nós criámos uma situação ficcional, em que uma trupe viaja pelo Brasil, que ‘mabemba’ [que se desloca de casa em casa], como dizemos no Brasil, e o Chico tem até uma canção chamada ‘O mambembe’, que incluímos no alinhamento”, disse.
“Há o dono da trupe, a sua mulher e o filho, uma cigana, e uma atriz mais velha. Nada é falado, antes é contado através da música, por outro lado as personagens estão no início de demência, o que cria no espetador um certa dúvida, se será mesmo assim, ou não”, adiantou.
Botelho acrescentou que os figurinos “remetem para um teatro brasileiro similar ao de Portugal, nomeadamente d'A Barraca, e o espetador fica na dúvida se usamos a roupa do dia-a-dia ou a de uma personagem”.
O palco é partilhado por oito atores, entre eles Cláudio Botelho, que encarna o patrão da trupe, e quatro músicos.
As canções escolhidas foram compostas por Chico Buarque para produções musicais como “Gota d’água”, “Ópera do malandro”, “Roda vida”, “Bye, bye Brasil”, “Joana francesa”, “Para viver um grande amor”, “O corsário do rei”, “Calabar”, “Quando o Carnaval chegar”, “O grande circo místico” e “Dona Flor e seus dois maridos”, esta última baseada na obra homónima de Jorge Amado.
Do alinhamento faz também parte “Funeral de um lavrador”,canção composta por Chico Buarque para a montagem do poema “Morte e vida de Severina”, de João Cabral Melo Neto, pelo grupo do Teatro da Universidade Católica de São Paulo, em 1965.
Segundo Claudio Botelho, Chico Buarque “viu e gostou do musical, e até nem se lembrava já de uma canção”, quanto a reparos ou exigências, “nenhuns, apenas dois dias depois telefonou a pedir para cortar umas estrofes”.
“Ele explicou que não era com o nosso trabalho, ele é que não gostava mais daquelas estrofes”, esclareceu Botelho.
Chico Buarque pediu para retirar duas estrofes da canção “Bárbara”, de “Calabar”, “pois não são boas mais, e também uma de ‘Pedaço de mim’, da ‘Ópera do malandro’, com muito pesar nosso, pois a estrofe é linda”, afirmou.
Francisco Buarque de Hollanda nasceu a 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro, popularizou-se como músico, ligado ao movimento da Música Popular Brasileira (MPB).
Em 1965, em duo com Nara Leão, interpretando a canção “A banda”, de sua autoria, venceu o II Festival de MPB, ex-aequo com um grupo composto por Jair Rodrigues e os trios Maraiá e Novo, que interpretou “Disparada”.
Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, Chico é autor de vários romances, o mais recente “O meu irmão alemão”, editado no ano passado em Portugal, e também de peças teatrais.
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