Cinco mulheres que falam “a partir de vozes de muitas mulheres”, nomeadamente de “bruxas, como todas as mulheres que desafiaram o poder estabelecido ao longo dos tempos”, precisou António Júlio em declarações à agência Lusa.

“Bruma”, uma pesquisa e texto original de Raquel S., fala de mulheres “que foram rejeitadas e temidas, por várias razões, e que foram postas, e elas próprias se colocaram, à margem da sociedade”, acrescentou o encenador.

Cinco mulheres numa sociedade pautada por uma "bruma" que é regida por homens e está montada para que nada mude no sistema, e que reclamam também a necessidade de estabelecer uma nova ordem ou desordem.

Nas falas das personagens subentende-se um discurso político no qual aquelas mulheres se opõem à ordem vigente reclamando uma nova.

Se num plano, as cinco mulheres vão jogando em palco com um imaginário de bruxaria, de superstições, rezas e cânticos enquanto trabalham um corpo que monta, desmonta, faz e desfaz, noutro plano vão-se posicionando em relação a um monstro, um diabo, que as obriga a trabalhar de determinada forma.

Questionado sobre o facto de serem as mulheres a reclamarem pela necessidade de melhores dias e de impor uma nova ordem, num mundo dominado por homens, António Júlio disse que “provavelmente são as mulheres que são capazes de o fazer”.

“Ao longo dos tempos, as mulheres foram mantidas, e continuam, em lugares para que a ordem não se alterasse e continuassem a ser os homens a mandar, mas são elas que têm a força para alterar as coisas”, referiu.

Em “Bruma”, há também uma relação implícita que remete para outros corpos que vão sendo centrifugados pelo sistema, como os pobres, os migrantes ou os negros, “num modelo de sociedade que ao longo dos séculos foi construído com base na dominação do homem branco”, acrescentou.

A interpretar “Bruma” estão Ângela Marques, Carolina Almeida, Catarina Borzyak, Filomena Gigante e Margarida Gonçalves.

Fernando Moreira assina o espaço cénico, Lola Sousa os figurinos, Rui Sousa é responsável pela música e Wilma Moutinho pelo desenho de luz.

“Bruma” é uma produção do Teatro do Bolhão e da companhia Astro Fingido e vai estar em cena até 4 de dezembro, com sessões de quarta-feira a sábado, às 19h00, e, ao domingo, às 16h00.