"Corta-e-cola", de Afonso Cortez, e "Punk Comix", de Marcos Farrajota, são dois livros unidos pela mesma lombada que sistematizam informação e recordam, de forma cronológica, quem foram os protagonistas do punk em Portugal que deixaram discografia e como o movimento foi representado na BD.

"O punk não foi um movimento contínuo, mas fragmentado, esporádico, dissolvido entre outras propostas, em permanente mutação, como aliás qualquer movimento juvenil", afirma Afonso Cortez na introdução.

A análise é feita a partir das capas de discos, "porque impondo essa obrigação de olhar para as capas se rompe, logo à partida, com a ideia generalizada do punk como mero estilo musical. A capa faz parte do manifesto. Embora, muitas vezes não manifeste nada", escreveu.

Depois de mais de 150 páginas, Afonso Cortez conclui que ao longo daqueles vinte anos (1978-1998) o grafismo foi entendido "apenas como um pormenor. E que a falta de cultura visual, ou mesmo de estudos, se reflete de forma catastrófica na falta de qualidade do que é produzido".

Embora os Faíscas e os Minas & Armadilhas sejam referenciados como os iniciadores do punk na música portuguesa, Afonso Cortez assume "Há que violentar o sistema", de 1978, dos Aqui d'el Rock, como o primeiro disco punk português.

A partir daí, faz um levantamento dos discos editados, comenta a vertente gráfica das capas, mapeia os locais de concertos e a crítica na imprensa e complementa com testemunhos de músicos recolhidos pelo próprio.

Mata-Ratos, Crise Total, Kus de Judas, Cães Vadios, Censurados, Nestrum, Desarranjo Cerebral, Renegados de Boliqueime, Vómito, Peste & Sida, X-Acto são algumas das bandas referidas no livro, repartidas pelo autor por quatro momentos, dos primórdios em finais de 1970 até ao punk/hardcore dos anos 1990.

Já sobre a BD, Marcos Farrajota explica o mote do livro: "Serve como uma base de referência para quem quiser pegar na BD para relacioná-la com o punk, subculturas urbanas, música, cultura DIY, artes gráficas e editoriais".

Recusando o punk que serve de "modelito de tribo urbana", Marcos Farrajota recua a finais dos anos 1970 para encontrar as primeiras referências ao punk na BD portuguesa. Surgem na revista Tintin, assinadas por Fernando Relvas e Pedro Morais, "mas são situações em que os punks são apenas paisagem urbana".

Será Fernando Relvas a assinar, em 1983, no semanário Se7e, "o primeiro trabalho de corpo inteiro" sobre punk, "sob a forma de uma personagem forte e feminina" chamada Sabina.

Marcos Farrajota faz ainda referência à atitude "militante e amadora" de publicação, da auto-edição, dos fanzines, das coletâneas e da tecnologia da fotocópia e enumera vários autores que desenharam sobre o punk, como Diniz Conefrey e João Mascarenhas.

O autor questiona ainda a forma quase sempre estereotipada de representar um punk - "é um figurante com uma crista, ponto final" - e a sexualidade: "A representação da homossexualidade ou de outras sexualidades conta-se pelos dedos da mão na BD portuguesa".

Quanto à ideia de um livro-duplo sobre punk, Marcos Farrajota afirma que é somente "um modus operandi punk que fortalece o espírito de comunidade e de entre-ajuda, opondo as ideias tontas de competição selvagem que dominam todos os aspetos das nossas vidas".

"Corta-e-cola - Discos e histórias do punk em Portugal (1978-1998)" e "Punk Comix - Banda desenhada e punk em Portugal" serão apresentados na sexta-feira. no espaço Disgraça, em Lisboa, com a presença dos autores e com atuações de Presidente Drógado e Scúru Fitchádu.

O livro é uma edição da Associação Chili Com Carne e Thisco.

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