Essa ‘luta’, que está para durar, é apenas uma entre várias histórias, pessoais e profissionais, de uma carreira de 25 anos, que Magazino (Luís Costa) partilha em “Ao Vivo”, biografia editada esta semana e escrita ‘a quatro mãos’ com a jornalista Ana Ventura.
Com o livro, o DJ, cuja carreira começou aos 17 anos em Setúbal, terra onde nasceu, quer “ajudar pessoas”, “que estejam a passar pelo mesmo problema [um cancro] ou que tenham alguém na família a passar por um problema idêntico”, mas também “pessoas que julgam ter problemas e que, no fundo, percebem que, afinal, não têm nada de que se queixar”, contou em entrevista à agência Lusa.
Magazino assume que era uma dessas pessoas e que estes últimos dois anos a “lutar pela vida, e não contra o cancro, porque lutar contra algo pressupõe algo negativo”, aprendeu “a relativizar muito”. “Coisas que dantes me doíam ou me deixavam angustiado agora não têm importância”, partilhou.
No livro, Magazino chegou mesmo a escrever que o cancro lhe salvou a vida, que o curou por dentro, afirmações que admite poderem ser consideradas polémicas, mas para as quais tem uma explicação.
“Antes de ser diagnosticado era um robot da sociedade, vivia para viajar, tocar discos, que é aquilo que realmente gosto, mas já nem sentia prazer, não dava o reconhecimento devido”, partilhou.
O diagnóstico chegou no final de 2019, ano que passou constantemente a viajar em trabalho.
“Tocava na sexta-feira em Londres, sábado em Marrocos, na semana seguinte no Brasil, na Argentina, na semana a seguir na Alemanha, depois em Angola. É o sonho de milhares de miúdos por esse mundo fora e eu consegui atingir esse patamar de viver só de tocar discos, mas já fazia aquilo de uma forma mecânica, chegava a segunda-feira cansado, só pensava que tinha três dias para descansar para depois voltar a ir em aviões por esse fim de semana fora”, recordou.
Agora sente que as coisas seriam diferentes: “Se voltar a tocar, e acredito que vou voltar a tocar de forma regular, vou dar muito mais valor e sentir muito mais emoção a fazer aquilo que fazia”.
“O cancro curou-me nisso. Eu estava quase morto por dentro, não tinha chama. E agora sinto essa chama que não sentia antes”, disse.
Ao longo desta ‘luta’, Luís Costa passou “muitas fases” e sente que a doença lhe “despiu a alma”.
“Tive momentos em que não conseguia mexer-me, as auxiliares e as enfermeiras tinham que me dar banho, mudar-me as fraldas, e isso fez-me afastar o ego que tinha de artista, tornou-me uma pessoa mais genuína”, partilhou.
No dia da entrevista com a Lusa, Magazino tinha estado de manhã no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, “a fazer transfusões”, e regressaria mais tarde “para fazer quimioterapia”.
Na segunda-feira começa uma nova ronda de quimioterapia “ainda mais agressiva”, mas, antes disso, no sábado, regressa ‘aos pratos’, ao fim de quase dois anos, para uma atuação na festa da editora e promotora Bloop Recordings, da qual é sócio, na Piscina Olímpica do Restelo.
“Estou a imaginar-me no meio daquelas largas centenas de pessoas, com energia e a dar-me motivação. Elas inspiram-se em mim e eu motivo-me nelas, isso é o que me faz ter mesmo muita vontade de voltar a tocar, e isso é que supera todas as dores que a quimioterapia provoca e todas as infeções que tenho pelo corpo”, afirmou, partilhando que até estava a arrepiar-se só de pensar.
Magazino é agora “uma manta de retalhos”: “Fui tantas vezes cortado e cosido, já levei mais de 170 transfusões de sangue, já não sou o mesmo que era há dois anos, ainda assim tenho essa força, essa vontade e essa motivação de preparar-me para uma piscina que vai ter mais de mil pessoas”.
Os amigos e a família, “se pudessem”, fechavam-no “numa redoma”. “Mas ao fim deste tempo todo já perceberam que o que me faz feliz é estar com pessoas, falar com pessoas, inspirar pessoas e só vou conseguir sobreviver se for feliz”, contou.
Magazino salienta que “é muito importante tratar a doença”, e “no IPO são exímios nisso”.
Mas ele também precisa de cuidar de si: “Trato de mim com motivações e eu preciso de tocar”.
O DJ tem noção de que o regresso ao trabalho não será como dantes: “A minha ideia era tocar, não como dantes três ou quatro vezes por fim de semana e a viajar para o estrangeiro, mas só em Portugal e um trabalho por semana”.
Voltar ‘aos pratos’ é “fundamental para ter pensamento positivo”. “E eu acredito que a cabeça manda e o corpo reage, por isso tenho que ter pensamento positivo”, afirmou.
Magazino precisa de um transplante de medula e até já tem um dador compatível, mas para poder ser operado precisa que a percentagem de células cancerígenas que tem no sangue diminua bastante.
Em “Ao Vivo”, um dos três capítulos das cerca de 400 páginas, é dedicado a esta “luta pela vida”, que inclui mais de 30 dias em coma, na sequência de ter ficado infetado com COVID-19 no IPO, e a ajuda de terapias holísticas.
Os outros dois capítulos falam de “O Luís”, que nasceu em Setúbal, onde cresceu, foi jogador de futebol e se iniciou ‘nos pratos’, e de “O Magazino”, que aos 17 anos começou uma carreira que já o levou aos quatro cantos do mundo.
Com “Ao Vivo”, Magazino irá ajudar duas instituições, a Associação Portuguesa contra a Leucemia e a Heal Me, doando os lucros provenientes dos direitos de autor.
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