O livro - que chega esta semana às livrarias - reúne 150 poemas que Mário Castrim escreveu enquanto colaborou nas revistas Além-Mar e Audácia, dos Missionários Combonianos, até pouco antes de morrer, em outubro de 2002, e apresenta-se numa edição "cuidada" e de capa dura, com ilustrações de Rogério Ribeiro, revelou a editora.

Como explica a escritora e sua companheira de vida, Alice Vieira, num resumo da obra aquando da sua publicação original, pela Campo das Letras, em 2007, "quando Mário Castrim morreu, deixou vasta obra por publicar" e "entre esses manuscritos deixou um de particular significado literário e religioso", que "foi escrito quando colaborava nas revistas dos Missionários Combonianos, e é-lhes dedicado".

A história deste livro foi contada por Alice Vieira, numa entrevista que deu na altura à Agência Ecclesia: Da leitura dos salmos, “da sua interpretação porque os sabia quase de cor”, Mário Castrim foi reescrevendo poemas, que resultaram nesta obra, que desejava ver publicada, mas que a vida não lhe permitiu acompanhar.

A autora de livros como "Rosa, minha irmã Rosa", "Lote 12, 2.º Frente" ou "Chocolate à chuva", relembra que o marido tinha uma posição “em desacordo com a hierarquia”, mas era “católico”, e que este livro oferece uma visão mais íntima do escritor, diferente daquela por que era conhecido, como crítico de televisão, com “opções e ideologias diferentes”.

Por isso, admitiu que "Do Livro dos Salmos" possa ser uma "surpresa" para quem não conheceu bem Mário Castrim, porque é um livro de grande fervor e com uma “grande ligação ao divino”, mas por outro lado, sublinha que conhecer esta obra é uma oportunidade para se ter uma ideia "mais completa da sua pessoa”.

Mário Castrim, pseudónimo de Manuel Nunes da Fonseca, nasceu em Ílhavo, em julho de 1920 e morreu em Lisboa, em outubro de 2002, aos 82 anos.

Professor, escritor, jornalista, foi crítico de televisão (considerado o precursor do género em Portugal) desde 1965, no Diário de Lisboa, até ao encerramento do jornal, em 1990, e, posteriormente, no Tal e Qual, tendo ficado conhecido pelo seu humor cáustico.

Foi casado com Alice Vieira, de quem tinha 23 anos de diferença. Conheceram-se quando ela foi trabalhar para o Diário de Lisboa, mas após o início da relação, Alice Vieira mudou-se para o Diário Popular, para evitar conflitos de interesse.

Militante comunista, Mário Castrim colaborou ainda com o 24 Horas e o jornal oficial do PCP, Avante!, no qual publicou poemas.

Nos últimos dez anos da sua vida, trabalhou com os Missionários Combonianos na revista Audácia, onde manteve uma crónica intitulada "O Lugar do Televisor".

Em 1957 criou, com Augusto da Costa Dias, o Diário de Lisboa Juvenil, até 1970, que sempre considerou a obra mais importante da sua vida. Desenvolveu intensa atividade social em conferências, palestras, congressos, e manteve um contacto permanente com as crianças e professores das escolas de todo o país.

No seu percurso literário, escreveu e publicou vários livros infantojuvenis, como “As aventuras da girafa Gira Gira” ou “O Cavalo do Lenço Amarelo é Perigoso” e ainda “Televisão e Censura” e duas obras de poesia, “Nome de Flor” e “Viagens”.

Em julho deste ano, no dia em que Mário Castrim faria 100 anos, o líder do PCP juntou, no centro de trabalho Vitória, em Lisboa, amigos, camaradas e a escritora Alice Vieira, que lembrou o seu companheiro como “homem de amizades improváveis”, e que “era profundamente comunista e profundamente católico”, que tanto escrevia para o Avante como para os missionários combonianos.