Marcelo curva-se perante o "génio" de Agustina

Numa nota publicada do sítio da Presidência da República, na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que “há personalidades que nenhumas palavras podem descrever no que foram e no que significaram para todos nós”, referindo-se à escritora, que morreu hoje, aos 96 anos.

Para o Presidente da República, Agustina Bessa-Luís evidenciou-se “como criadora, como cidadã, como retrato da força telúrica de um povo e da profunda ligação” entre as raízes dos portugueses e “os tempos presentes e vindouros”.

Na nota, Marcelo Rebelo de Sousa “curva-se perante o seu génio”.

Costa considera Agustina uma das mais notáveis escritoras contemporâneas

Morreu Agustina Bessa-Luís
Morreu Agustina Bessa-Luís
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O primeiro-ministro considerou que Portugal perdeu hoje uma das suas mais notáveis escritoras contemporâneas, salientando que a obra de Agustina Bessa-Luís constitui "uma imensa tela sobre a condição humana".

Numa nota de pesar publicada na rede social "Twitter", António Costa apresenta as suas sentidas condolências à família e amigos de Agustina Bessa-Luis, que faleceu hoje, no Porto, aos 96 anos.

"Portugal perdeu uma das suas mais notáveis escritoras contemporâneas. Como toda a grande literatura, a obra de Agustina Bessa-Luís é uma imensa tela sobre a condição humana, sobre o que temos de mais misterioso e profundo. Sentidas condolências à família e amigos", escreveu o primeiro-ministro.

O Governo, por indicação do primeiro-ministro, decretou para terça-feira um dia de luto nacional pela morte da escritora Agustina Bessa-Luís, disse hoje à agência Lusa fonte oficial do executivo.
Agustina Bessa-Luís nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas.

Agustina ocupa "lugar sem par na narrativa portuguesa contemporânea"

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, considera que a escritora Agustina Bessa-Luís "ocupa um lugar sem par na narrativa portuguesa contemporânea, sempre preocupada com a condição social e cultural em Portugal".

Em nota de imprensa, Graça Fonseca afirma que a autora de "Sibila" é uma das "grandes romancistas e mestre de um dos mais originais processos criativos da ficção portuguesa".

Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, no Porto, cidade onde se realizará o funeral na terça-feira, segundo fonte da família.

"Autora de uma obra tantas vezes virada para o passado mas sempre contemporânea, sempre presente", Agustina Bessa-Luís inaugurou "um novo espaço ficcional, à imagem de outras grandes mulheres e que, em conjunto com ela, revolucionaram radicalmente a prosa em português, como Maria Velho da Costa ou Maria Gabriel Llansol", afirmou a ministra da Cultura.

"Com uma dedicação inabalável e intransigente à criação literária, o legado de Agustina é vasto, composto por personagens, visões da história, lugares e, acima de tudo, um percurso pessoal e autoral únicos e exemplares", sublinhou Graça Fonseca.

PS destaca “enorme perda” de um vulto da cultura portuguesa

Agustina Bessa-Luís

O PS considerou hoje que a morte de Agustina Bessa-Luís constituiu uma "enorme perda para Portugal" e que esta escritora é "um dos maiores vultos" e "um dos grandes expoentes" da cultura portuguesa.

A escritora Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, realizando-se o funeral na terça-feira, no Porto. Um comunicado será emitido hoje, pelas 15:00, através do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, segundo a família da escritora.

"O PS associa-se ao pesar nacional que a notícia da morte de Agustina Bessa Luís não pode deixar de provocar, tratando-se de um dos maiores vultos da Cultura portuguesa. Com o seu desaparecimento, as letras portuguesas perdem um dos seus grandes expoentes, que figurará por direito próprio entre os grandes escritores portugueses de todos os tempos", lê-se numa nota de pesar publicada no 'site' deste partido.

Para o PS, Agustina Bessa-Luís foi uma "escritora extraordinária, romancista de exceção, atentíssima e mordaz observadora da sociedade", com "uma maneira muito portuguesa de estar no mundo".

"O seu legado, além de um verdadeiro manual de bem tratar a nossa língua, na linha de um Camilo, constitui um notável acervo de obras que é importante que sejam lidas por todas as gerações, atuais e futuras. Essa será mesmo a melhor homenagem que os portugueses podem fazer à vida e à obra de Agustina Bessa Luís", salienta-se ainda na nota do PS, em que esta força política apresenta "as suas mais sentidas condolências, em particular à sua família e amigos" da escritora, "neste momento de enorme perda para Portugal".

Rio presta tributo à memória e à obra da escritora

O presidente do PSD, Rui Rio, prestou hoje tributo “à memória e à obra” de Agustina Bessa-Luís, que morreu aos 96 anos, considerando a escritora como “vulto maior da literatura portuguesa”

“A minha homenagem a Agustina Bessa-Luís, vulto maior da literatura portuguesa”, lê-se numa mensagem de Rui Rio divulgada na rede social Twitter.

Na mensagem, o presidente do PSD recorda ainda que teve “a oportunidade de lhe prestar um justo tributo em vida”, e fá-lo hoje “à sua memória e à obra” que deixa “para todo o sempre”.

CDS elogia “inteligência rebelde”

A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, lembrou hoje a escritora Agustina Bessa-Luís, a “inteligência rebelde” e “poder feminino num mundo de homens”, no dia em que morreu aos 96 anos.

Numa mensagem divulgada aos jornalistas, Cristas afirmou que a “obra de Agustina Bessa-Luís é tão preciosa, inacabada e desconcertante como a vida”.

“A sua morte, hoje aos 96 anos, é altura para reconhecermos o milagre improvável de termos tido, em Portugal, quem nos escrevesse”, lê-se na mensagem de Assunção Cristas, que transmite as suas condolências à família.

Para a líder centrista, “Agustina ficará, como poucos dos grandes, um nome próprio, como coisa própria dela: a inteligência rebelde, o poder feminino num mundo de homens, a ironia nos diálogos, a insolência da vaidade, a descrição atenta e o fundamental das pequenas coisas”.

Os centristas relembram, “em reconhecimento, uma vida tão original, que nunca aceitou nem se submeteu aos cânones nem a destinos traçados, escreveu e interveio em causas públicas num permanente exercido de liberdade e independência”.

"Um dos nomes mais geniais da literatura portuguesa", diz Ferro Rodrigues

O presidente da Assembleia da República afirmou hoje que recebeu com "grande consternação" a notícia da morte de Agustina Bessa-Luís, considerando que foi uma "prosadora excecional" e "um dos nomes mais geniais" da literatura portuguesa.

"É com grande consternação que acabo de tomar conhecimento do falecimento de Agustina Bessa-Luís. Agustina Bessa-Luís, que nos deixa aos 96 anos, depois de uma longa ausência de mais de dez anos por motivos de saúde, foi um dos nomes mais geniais da literatura portuguesa", escreve Ferro Rodrigues, na sua mensagem de pesar, à qual a agência Lusa teve acesso.

Na mensagem, o presidente da Assembleia da República refere que a obra da escritora "compreende a ficção, o teatro, os ensaios e até a literatura infantil, ‘sempre em torno de um universo romanesco de riqueza incomparável’ - como bem identificou o júri que, em 2004, lhe atribuiu o Prémio Camões".

"Agustina foi uma prosadora excecional, dotada que era de uma inteligência rara, como rara era a sua escrita. O mundo pelos olhos e pela pena de Agustina era um mundo diferente. E um pouco desse mundo também nos deixa hoje", observa Ferro Rodrigues.

Neste contexto, o presidente da Assembleia da República deixa depois um apelo: "No momento em que somos confrontados com o seu desaparecimento, evoquemos a sua memória e o seu legado, que tanto honra e enobrece a cultura e a língua portuguesas".

"Em meu nome e em nome da Assembleia da República, endereço à sua família e amigos a manifestação do mais sentido pesar", acrescenta o antigo ministro e ex-líder do PS na sua mensagem.

"Tinha uma voz própria e uma obra esplêndida", refere Pilar del Río

Pilar del Río, em declarações à Lusa, destacou que a “grande escritora” Agustina Bessa-Luís “dinamizou a Cultura de Portugal com a sua obra, com a sua personalidade, com as suas declarações, que tinha uma voz própria e uma obra esplêndida”.

“Remeto-me ao que disse José Saramago sobre o que ela escreveu: que se há em Portugal um escritor que participe da natureza do génio, é Agustina Bessa-Luís”, afirmou.

Da obra da escritora, da qual leu vários livros, Pilar del Río partilhou que a primeira que a marcou, “que foi como um golpe”, foi “A Sibila”, de 1954, que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz.

A responsável máxima da Fundação José Saramago lembrou que, embora fosse público o estado de saúde de Agustina Bessa-Luís, “não é o mesmo saber que está ou que não está”.

Pilar del Río, que preside a Fundação José Saramago, fala num sentimento de “orfandade” com a morte da escritora Agustina Bessa-Luís, lembrando palavras do Nobel da Literatura.

Biógrafa de Agustina sublinha "obra extraordinária que não morre hoje"

A escritora Isabel Rio-Novo, autora da biografia de Agustina Bessa-Luís, considera que a "obra extraordinária" da autora "não morre hoje" e "continuará a ser lida e apreciada seguramente daqui por cem ou duzentos anos".

"Enquanto leitora, enquanto biógrafa e pessoa que ainda teve o privilégio de poder conhecer pessoalmente sinto-me profundamente grata por uma obra extraordinária que não morre hoje", disse Isabel Rio-Novo à agência Lusa.

A escritora, que publicou em janeiro a biografia "O Poço e a Estrada", sobre Agustina Bessa-Luís, recorda "uma obra inqualificável, extremamente prolífica, de uma forma de escrita e de uma forma de compreensão e de indagação da natureza humana absolutamente única no contexto da literatura portuguesa e mundial".

Isabel Rio-Novo disse ter conhecido pessoalmente Agustina Bessa-Luís no contexto de projetos de investigação, e recordou "toda a sua inteligência, o seu humor, a sua graça, cuja gargalhada cristalina era verdadeiramente contagiante".

Cavaco Silva recorda "a escritora imensa"

O antigo Presidente da República Cavaco Silva lembrou hoje Agustina Bessa-Luís como uma “escritora imensa” que marcou toda a literatura portuguesa do século XX, sublinhando a enorme admiração que sempre teve por “essa mulher desassombrada”.

“A morte de Agustina Bessa-Luís enche-nos, à minha mulher e a mim, de uma profunda tristeza. Agustina é uma presença constante ao longo das nossas vidas”, lê-se numa mensagem de Aníbal Cavaco Silva enviada à agência Lusa, a propósito da morte de Agustina Bessa-Luís, hoje, aos 96 anos.

Na nota, o antigo chefe de Estado lembra que teve o privilégio de conhecer a escritora e de ter “o seu apoio empenhado” quando se candidatou a primeiro-ministro e à Presidência da República, e salienta a “enorme admiração” que sempre teve “por essa mulher desassombrada, que sempre dizia e fazia o que queria e que compreendia muito bem Portugal”.

“É uma escritora imensa, que marca toda a nossa literatura do século XX. Sem Agustina a literatura portuguesa contemporânea seria, sem dúvida, muito mais pobre. Guardo um enorme sentimento de gratidão, pela amizade, pela confiança, mas, sobretudo, pelos seus livros”, refere ainda Cavaco Silva.

Contudo, acrescenta, “não fica um vazio, porque as obras magníficas de Agustina são um legado presente e vivo na literatura portuguesa”.

A escritora extraordinária a quem só falta superar a imortalidade, diz Mário de Carvalho

O escritor Mário de Carvalho classificou Agustina Bessa-Luís, que morreu hoje, aos 96 anos, como uma “escritora extraordinária” e “uma das grandes” do século XX, a quem já só falta superar um desafio, o da imortalidade.

“Agustina Bessa-Luís é uma escritora absolutamente extraordinária, uma das grandes escritoras, sem dúvida, do século XX”, considerou Mário de Carvalho, em declarações à Lusa.

O escritor destacou que a autora de “A Sibila” “ganhou o reconhecimento praticamente unânime de todos os seus confrades, porque, no meio literário, havia um consenso generalizado sobre a grande qualidade literária de Agustina Bessa-Luís.

Na opinião de Mário de Carvalho, a escritora, autora de uma extensa bibliografia, que inclui, além de romance, teatro, contos infantis, ensaios e biografias, conseguiu em vida ultrapassar os desafios que se colocam a um escritor, faltando-lhe agora um último.

“Até agora, tinha conseguido superar o desafio da qualidade, o desafio do reconhecimento, pelos seus semelhantes e pelos leitores. A partir de agora, o desafio é outro: o desafio da imortalidade, e não estaremos cá para saber se ela o ganhará ou não”, afirmou.

No entanto, vai avançando: “Do que conheço, impressiona a torrencial imaginação da Agustina, o grande domínio e elasticidade do tratamento da língua portuguesa e, do ponto de vista pessoal, uma maneira de ser também muito própria, que causava muitas vezes a admiração dos seus confrades”.

Agustina deixa "uma das obras mais importantes do século XX", diz Lídia Jorge

A escritora Agustina Bessa Luís, que morreu hoje aos 96 anos, deixa, para a também escritora Lídia Jorge, “do ponto de vista da ficção, uma das obras mais importantes do século XX”.

“Agustina Bessa-Luís deixa, do ponto de vista da ficção, uma das obras mais importantes do século XX, e, como escritora, sem dúvida alguma, a mais importante”, afirmou hoje Lídia Jorge, em declarações à Lusa.

Lídia Jorge classifica a obra de Agustina Bessa-Luís como “absolutamente extraordinária, multifacetada e que toca praticamente todos os géneros”, salientando que “onde ela brilha com fulgor único é na ficção”.

“Para ela, a análise dos comportamentos é o fundamental, e ela faz uma análise dos comportamentos nos romances que publicou, que são tantos, de um ponto de vista de uma espécie de exigência das suas personagens, que [estas] se movam na direção da ação”, disse.

Lembrando que Agustina Bessa-Luís “sempre se assumiu não como uma feminista”, Lídia Jorge destaca que a escritora “coloca-se na perspetiva das mulheres de uma forma única, defendendo essa perspetiva, mas não defende as mulheres como vítimas”.

“Ela defende as mulheres como vencedoras, como lutadoras, como figuras de ação. Muita gente diz que a escrita dela é viril, mas não é viril, é forte, é voluntariosa, é diferente, é uma escrita em que as figuras femininas são voluntariosas, como ela própria era”, considerou.

Para Lídia Jorge, a literatura de Agustina Bessa-Luís “é o prolongamento daquilo que ela era como mulher, como figura pública, como amiga, como pessoa”.

“Era uma mulher de ação, ela tinha uma ação dentro dela, ela queria transformar as coisas e queria dar notícia dessa transformação, e toda a escrita dela é nesse sentido, no sentido de reclamar uma espécie de progresso que ela não define quais são os limites, mas é uma espécie de marcha, ela entende a marcha da humanidade”, afirmou.

Lídia Jorge considerou que Agustina Bessa-Luís “fez isso com um vigor criativo e com um domínio da língua portuguesa que só se encontra nos escritores do século XIX, como Camilo [Castelo Branco]”.

“Ela manteve-se nessa senda de buscar o português mais puro, o português múltiplo, vernáculo, tradicional, juntando o português moderno. Basta dizer que ela utilizou no texto que escreveu para o cinema, o ‘Party’ ela utilizou a palavra party [festa, em português]. Ela utilizava neologismos e estrangeirismos com todo o à vontade, como mulher moderna que foi”, recordou.

Lídia Jorge defendeu ainda que “essa síntese que Agustina Bessa-Luís foi capaz de fazer, e a interpretação que faz, do mundo atual, do pós-modernismo, está patente de uma maneira absolutamente extraordinária no último livro que escreveu, ‘A Ronda da Noite’”.

“[O livro] mostra que ela foi uma mulher, além de uma grande ficcionista que explorou os lados poéticos da língua, que soube interpretar as patologias do nosso tempo, e exaltar também as virtudes do nosso tempo”, afirmou.

Embora aprecie vários livros de Agustina Bessa-Luís, há um de que Lídia Jorge gosta em particular: “Fanny Owen”.

“É uma obra gigante, uma obra gigantesca, um livro extraordinário, em que ela coloca o contraste entre figuras fortes e figuras fracas, as figuras românticas e as figuras que ultrapassam a espécie de melancolia romântica, e ela consegue fazer isso nesse livro com uma destreza absolutamente extraordinária. Para mim seria o livro de eleição da Agustina Bessa Luís”, partilhou.

Gulbenkian: obra de Agustina é "expressão riquíssima" para compreender o humano

A escritora Agustina Bessa-Luís "é uma das grandes referências da cultura portuguesa contemporânea", afirmou a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota.

"A língua portuguesa tem na sua obra uma expressão riquíssima para a compreensão do género humano e para uma inteligente e paradoxal abordagem da vida e da sociedade", afirmou Isabel Mota, em comunicado.

História da Literatura portuguesa não se faz sem Agustina, diz Maria Teresa Horta

A escritora Maria Teresa Horta considera que "não é possível fazer a história da literatura portuguesa, neste momento, sem passar pela obra da Agustina Bessa-Luís", que morreu hoje, aos 96 anos, no Porto.

"Considero que a Agustina é dos melhores escritores - não é escritora só - da literatura contemporânea portuguesa, mas também morre uma escritora e alguém que eu conheci", afirmou Maria Teresa Horta à agência Lusa.

Presidente da Associação Portuguesa de Escritores: "uma das figuras nucleares da literatura portuguesa"

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), considera Agustina Bessa-Luís “uma das figuras nucleares da literatura portuguesa do século XX”, que deve ser recordada muito além dos seus romances e das suas obras mais conhecidas.

José Manuel Mendes recordava assim a escritora Agustina Bessa-Luís, que morreu hoje, no Porto, aos 96 anos.

“A Agustina foi uma das figuras nucleares da literatura portuguesa no século XX, particularmente após a publicação do romance ‘A Sibilia’, que marca uma linha muito pessoal, muito à revelia das correntes estéticas dominantes em Portugal e fora do nosso país”, afirmou.

A sua escrita era “ao mesmo tempo embebida na história e nas tradições e na realidade portuguesa, e num percurso de descoberta das personagens que poderiam, de um ponto de vista psicológico, representar o grande drama humano em toda a sua dimensão”, acrescentou, sublinhando a forma como, de livro em livro, a autora proporcionou “páginas admiráveis”, cujo “grau de elaboração” advinha muito da sua “vastíssima cultura” e das suas leituras, “visando criar-lhe uma base muito pessoal de construção da escrita”.

Na opinião do presidente da APE, Agustina deve ser recordada como romancista – “sobretudo nos seus romances mais referenciados”, embora confesse não estar “muito à vontade” para excluir alguns do que têm sido menos indicados, como por exemplo “Ternos Guerreiros” -, mas sem esquecer “a cronista, a ensaísta, a autora de textos dispersos, não raro fulgurantes, designadamente em crónicas de rádio, em intervenções com pequenas peças radiofónicas, e também nas diferentes circunstâncias para as quais o mundo literário a convocou”.

“Uma figura maior que fisicamente desaparece mas que nos deixa numa perspetiva de valoração do nosso património que é simultaneamente presente e devir. Uma obra singularíssima e irrenunciável”, considerou.

Paula Rego sublinha legado de Agustina, "uma extraordinária mulher"

A pintora portuguesa Paula Rego lamentou hoje a morte da escritora Agustina Bessa-Luís, com quem colaborou há quase vinte anos, sublinhando que foi surpreendida pela morte da autora.

"Foi uma extraordinária mulher, escritora, que deixou um enorme legado a todos nós", afirmou Paula Rego, em nota enviada à agência Lusa pela Casa das Histórias.

Paula Rego colaborou com Agustina Bessa-Luís no livro "As Meninas", editado originalmente em 2001, que reúne textos da escritora sobre pinturas da artista plástica.

"Quando pego na pena para escrever sobre Paula Rego, faço-o como se reatasse um antigo encontro. Desde a infância. Lentamente, desdobro as pregas dessa vida de menina e em muitos detalhes eu estou lá", admitia Agustina Bessa-Luís no livro, que resultou de um convite feito por Manuel S. Fonseca, então editor da Três Sinais.

A obra seria mais tarde reeditada pela Guerra & Paz, do mesmo editor.

Rui Zink considera Agustina Bessa-Luís "tesouro nacional"

O escritor e professor universitário Rui Zink considerou hoje que Agustina Bessa-Luís é “um tesouro nacional”, recordando que a escritora deixa “a obra e o cheirinho do seu humor e da sua ironia”.

“Quando uma pessoa é tratada pelo primeiro nome como é o caso dela, - há muitos, muitos, anos -, significa que ela é um tesouro nacional”, disse Rui Zink, em declarações à agência Lusa, explicando que a escritora “era chata, porque [nos] via por dentro e isso, às vezes, é um bocadinho incómodo”.

De acordo com professor universitário, Agustina Bessa-Luís era uma pessoa que não precisava de acessórios para conseguir ver o detalhe.

“Ela era o tipo de pessoa que não precisava de microscópio para ver mais longe, mais dentro”, referiu Rui Zink, admitindo que “é mais interessante” conseguir ver mesmo a “nível do nano”, e que “mais fácil as pessoas verem mais longe para fora”.

Para Rui Zink, Agustina Bessa-Luís deixa “um labirinto enorme de páginas e páginas para nós irmos desbravando”, lembrando que, quando era estudante e dava aulas, teve de reler "A Sibila" para ajudar a passar os alunos, sendo a escritora uma presença desde sempre para o professor universitário.

A escritora Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, disse à Lusa fonte da família. A autora nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas.

Esposende lamenta morte de Agustina, que perpetuou nome do concelho

A Câmara de Esposende lamentou hoje a morte da escritora Agustina Bessa-Luís, sublinhando que se trata de uma “figura grande” da literatura portuguesa, e que perpetuou em registos autobiográficos o nome do concelho, onde chegou a viver.

“Hoje perdemos uma figura grande da literatura portuguesa. Agustina Bessa-Luís pautou a sua vida pela elevação no trato da língua portuguesa e pela discrição na vida pública”, refere a Câmara, em comunicado.

Acrescenta que Esposende “ficou gravado em registos autobiográficos” da escritora, citando um trecho sobre o concelho do "Livro de Agustina", obra de caráter autobiográfico, publicada originalmente em 2002, nos 80 anos da escritora, com a chancela Três Sinais.

“Em Esposende conheci dias duma perfeita harmonia comigo mesma. As pessoas foram boas para mim, com essa bondade que não se interpreta, só se regista. Nada acontecia e tudo era importante (…). Nessa altura já me chamavam a eremita de Esposende. Estava a tornar-me típica e, além disso, a ficar bronzeada”, escreveu Agustina nesse livro, reeditado posteriormente, em 2007 e 2017, pela Guerra e Paz.