Dirigida por Pablo Viar, nascido em Bilbau, em 1974, “Enigma Pessoa” está integrada na programação da Mostra Cultura Portuguesa, a decorrer em Espanha, de 21 de setembro, a 9 de dezembro.

“Enigma Pessoa” centra-se na identidade múltipla do escritor que a investigação na área literária coloca a par de Camões, como a figura mais universal da poesia portuguesa de todos os tempos e que, para o crítico, professor e ensaísta Harold Bloom, é o poeta universalmente mais representativo do século XX.

A peça concebida a partir da seleção de materiais literários e plásticos de Pessoa, ou com ele relacionados, de poemas e cartas, a imagens das vanguardas artísticas do tempo do autor.

Fernando Pessoa nasceu há 130 anos, em 13 de junho de 1888, e morreu em 30 de novembro de 1935, no Hospital S. Louis, em Lisboa, deixando uma obra labiríntica e fascinante, como destaca o encenador.

Ao longo da peça, protagonizada por David Luque e Emilio Gavira, o poeta escreve, recorda e dialoga com algumas das personagens mais relevantes de quantos fizeram seus dramas pessoais.

Para Pablo Viar, em entrevista ao diário espanhol El País, o legado literário de Fernando Pessoa é transbordante de teatralidade e relevância permanente, que interessa pela complexa identidade do ser humano, da ficção, do homem moderno e de sua experiência subjetiva do real e do imaginário, além de transbordar de ocultismo e esoterismo, história, política, filosofia e psicologia.

Pablo Viar é um apaixonado da vida e obra de Fernando Pessoa desde que leu o autor, na adolescência. É Pessoa que o faz deslocar-se regularmente a Lisboa, nomeadamente aos locais onde o criador de Álvaro de Campos e Alberto Caeiro viveu e trabalhou, para rastrear os enigmas da sua vida e da sua obra.

“Há algo na figura de Pessoa que me apaixona porque, apesar [de ter um título como] 'Livro do desassossego', é um autor cuja obra é muito reparadora”, observou Pablo Viar, ao matutino espanhol.

Para o encenador da peça, ler o escritor português é “uma companhia balsâmica e consoladora, encerra um encanto que nunca se desgasta”.

“É como uma personagem mágica porque combina a profundidade e a leveza”, acrescentou Pablo Viar, confessando-se “arrebatado” pela obra deste escritor “elegante, sempre de chapéu, que teve uma existência profundamente triste e que, segundo o próprio confessou, renunciou a ter uma vida em troca da literatura”.

"Enigma Pessoa" não pretende recorrer aos abismos da imensa obra poética do autor, nem tão pouco transitar pelos jogos literários de Pessoa, mas antes seguir um fio biográfico e cronológico, oferecer uma visão sobre todos os heterónimos que o povoaram em vida, entre os quais Pablo Viar destaca Alberto Caeiro, o autor de "O Guardador de Rebanhos", como parte da personalidade do autor português.

O homem que se proclamou “inimigo da ignorância, do fanatismo e da tirania”, foi, para Pablo Viar, um "autor valente" pela forma como enfrentou as angústias vitais que o perseguiram.

“Pessoa confrontou-se cara a cara com os seus dilemas interiores, como fazem os grandes poetas. No seu caso, de uma forma obsessiva até ao final”, acrescentou o encenador, que reconhece que o mais doloroso nesta peça foi ter de escolher poemas e textos, já que não podia colocar a obra completa na peça.

“Longe de desvendar o 'enigma Pessoa', o meu objetivo é partilhá-lo”, concluiu Viar, em entrevista ao El País.

"Enigma Pessoa" tem cenografia de Ricardo Sánchez Cuerda, figurinos de Jesús Ruiz.

Após a estreia em Madrid, a peça partirá em digressão por cidades espanholas.