"Supergood - Diálogos com Ernesto de Sousa" é o título desta exposição que abre na quarta-feira, a par da mostra "Bem-vindos à cidade do medo", de João Fonte Santa.
O artista Hugo Canoilas foi convidado a evocar a obra de Ernesto de Sousa, e, por seu turno, convidou seis artistas que se debruçaram sobre o trabalho deste criador multidisciplinar, que marcou várias gerações das artes em Portugal.
"É um trabalho de gratidão e homenagem a Ernesto de Sousa", comentou Hugo Canoilas, que pesquisou profundamente a obra do artista - nascido em 1921 e falecido em 1988 -, composta por várias dimensões, política, cultural e ideológica.
Canoilas convidou dois artistas portugueses - Rita Sobral Campos e Vasco Costa -, e mais quatro artistas estrangeiros - Melanie Bonajo, Simon Dybbroe Moller, Supergood e Janis Varelas -, que pegaram em várias obras de Ernesto de Sousa para criar novas obras, que vão do vídeo, a escultura, instalação e performance.
Ao mesmo tempo, é apresentado um diálogo com uma seleção de documentos pertencentes ao arquivo de Ernesto de Sousa.
Numa das salas podem ver-se recortes de jornais com entrevistas ao artista, que foi grande defensor da arte experimental e livre, dedicando-se à curadoria, crítica, ensaio, teatro, fotografia e cinema.
Nesta exposição, para criar as suas obras, os jovens artistas, alguns deles, segundo o curador, desconhecedores da obra de Ernesto de Sousa, fizeram uma pesquisa e partiram de peças específicas para fazer os seus trabalhos, como o texto "Artes gráficas - veículo de intimidade", "O teu corpo é o meu corpo", uma série de performances e exposições, ou o filme "Dom Roberto" (1962).
Na exposição individual "Bem-vindos à cidade do medo", com novas obras do artista João Fonte Santa, comissariada por Sandra Vieira Jurgens, parte-se de uma reflexão sobre a crise financeira que afetou Nova Iorque nos anos 1970 para analisar o estado do mundo atual.
João Fonte Santa explicou, na visita guiada, que acompanhou a atualidade em Portugal e no estrangeiro, entre 2010 e 2014 para criar obras em desenho, pintura, vídeo e instalação que transmitem uma mensagem sobre o significado político e filosófico do medo, os conflitos e instabilidade permanentes e a contínua vigilância e controlo que marcam o mundo atual.
"Respondi ao que estava a acontecer através destas obras", explicou o artista, que percorre acontecimentos como as guerrilhas urbanas em várias cidades na Europa, a crise dos refugiados, os ataques terroristas ou a ascensão da estrema direita.
As obras fazem uma forte crítica ao movimento neo-liberal, mas também apresentam uma proposta final, como alternativa a esta orientação, através de uma democracia energética, a igualdade de género e étnica, o cuidado ambiental, os direitos humanos e o internacionalismo.
Estas ideias são expostas frontalmente em texto e pintura na parede, ao mesmo tempo que o artista criou uma homenagem ao pensamento alternativo, exibindo nomes de dezenas de ativistas "que dedicam as suas vidas a pensar um mundo mais justo", como Noam Chomsky, Naomi Klein, Dolores Huerta ou Lydia Gall.
As duas exposições inauguram hoje, às 19:00 e abrem ao público na quarta-feira no MAAT, no espaço da Central, e ficam patentes até 4 de junho, no caso de Ernesto de Sousa, e a de João Fonte Santa até 30 de abril.
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