A exposição apresenta “pela primeira vez peças que revelam comportamentos transgressores face aos rígidos estatutos da Ordem que são o reflexo tanto da evolução do próprio modo de vida franciscano, como dos paradoxos inerentes à dimensão humana dos frades”, afirmou a PSML, em comunicado.
A exposição apresenta “achados arqueológicos que permitem compreender melhor as vivências dos frades franciscanos que habitaram esta casa conventual durante mais de três séculos, incluindo as que gostariam de ter mantido em segredo”, como peças de jogo, cachimbos que revelam o hábito de fumar, e faiança vidrada, um sinal de luxo contrário à pobreza franciscana, um dos votos professados pelos frades.
A exposição revela os resultados de uma investigação histórica e arqueológica, realizada desde 2011, que traz uma nova luz sobre “as vivências dos frades franciscanos que habitaram esta casa conventual [na Serra de Sintra] durante mais de três séculos”, até meados do século XIX.
“A dualidade presente nos espaços do Convento dos Capuchos e na vida da comunidade que o habitou é o mote deste núcleo museológico: o espírito e o corpo; o divino e o humano; o bem e o mal; a luz e a sombra; a observância e a transgressão”, afirma a PSML.
Segundo aquela entidade, “o conceito expositivo assenta na contradição entre o que dizem os austeros Estatutos da Província [franciscana] da Arrábida [em Setúbal], que regiam a vida nesta casa conventual, e a realidade que os objetos exibidos”.
Apesar de os estatutos da Ordem referirem a proibição de fumar, sabe-se, agora, que “possuíam cachimbos em caulino, do século XVII, de proveniência holandesa, peças de jogo, um prato de fazer a barba, louças de barro e faianças decoradas, como um jarro com a inscrição ‘Cintra’ e um fragmento de uma tacinha onde se lê ‘Capuchos’, objetos ‘proibidos’ que permitem compreender que ao longo dos séculos, a comunidade foi deixando de ser tão restrita, por força da sua condição humana”, afirma a PSML.
A exposição inclui cerca de 70 peças, que estavam “em reserva”, provenientes da investigação arqueológica e do acervo do Convento.
A PSML anunciou também o regresso à Capela da Paixão da escultura do Senhor dos Passos, restaurada.
“Trata-se de uma peça articulada representando Jesus Cristo a caminho do Calvário, cuja autoria se desconhece. A escultura é um testemunho das representações artísticas típicas do século XVIII, época profundamente marcada pelo fervor religioso. Recorrendo a detalhes realistas, a expressões emotivas e a uma narrativa cuidadosamente elaborada, evoca a Paixão de Cristo e o seu objetivo é proporcionar uma experiência espiritual envolvente”, acrescentou.
“O seu regresso à Capela da Paixão permite uma melhor interpretação do espaço”, enfatiza a PSML.
O Convento dos Capuchos ou Convento da Cortiça foi fundado em 1560 por Álvaro de Castro, conselheiro de Estado do rei Sebastião, com o nome de Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra.
A PSML salienta a “extrema pobreza da sua construção, que materializa o ideal da Ordem de São Francisco de Assis”, e o “uso extensivo da cortiça na proteção e decoração dos seus pequenos espaços”.
“O edifício funde-se com a natureza e incorpora na construção enormes fragas de granito”, refere.
O Convento foi abandonado em 1834, com a extinção das ordens religiosas e foi adquirido pelo então conde de Penamacor e, mais tarde, pelo comerciante e colecionador de arte britânico Francis Cook. Em 1949, tornou-se propriedade do Estado português.
O Convento faz parte da Paisagem Cultural de Sintra, classificada, pela UNESCO, como Património Mundial da Humanidade, em 1995.
O processo de conservação e requalificação do Convento foi iniciado em 2013, pela PSML. Um projeto que recebeu o Prémio Europa Nostra na categoria Conservação e Reutilização Adaptativa, em 2022.
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