“FE…DE…RI…CO…” será apresentado no Teatro Aberto, em Lisboa, como ponto de partida da edição deste ano do Festival que vai decorrer sob o signo da compositora Constança Capdeville (1937-1992), “um nome cujo desconhecimento injusto torna ainda maior a necessidade de dar a conhecer o seu percurso e obra”, segundo comunicado da organização enviado à agência Lusa.

”A missão, desde 2011, do CriaSons é promover e divulgar amplamente a criação contemporânea. Nesta quarta edição, apostamos na reabilitação de um género performativo muito impactante para a cultura musical nacional da segunda metade do século XX: o 'Teatro-Música'”, disse à Lusa fonte da organização.

“Fazemo-lo através de uma homenagem ao seu arquétipo, Constança Capdeville, responsável por cunhar esse termo, por vezes erroneamente confundido com a expressão do teatro musical”, prosseguiu.

“Profundamente originais, modernas e iconoclastas, e bebendo inspiração a [compositores como] John Cage ou Edgar Varèse, as obras de Capdeville são criações contemporâneas únicas que combinam diversas expressões artísticas e elementos tecnológicos, que repensam o conceito de música, de teatro e de dança, colocando novos desafios tanto à criação, como à interpretação. Em suma, um legado inestimável de um dos nomes de maior relevo da música em Portugal”, acrescentou a mesma fonte.

No palco da Praça de Espanha será apresentada “uma recriação moderna do original de 1987 de Capdeville, uma produção que, à época, pretendia romper com as formas canónicas dos eventos culturais coevas (ópera, cabaret, teatro musical, entre outros), com o objetivo de repensar o palco e a criação”.

“Em 'FE...DE...RI...CO...', ‘non-sense’ ganha lugar e tudo pode acontecer. Entre o surrealismo e o musical!”.

Constança Capdeville partiu da obra múltipla do poeta Federico García Lorca (1898-1936) para assinalar os 50 anos da sua morte.

O espetáculo “FE…DE…RI…CO” foi estreado a 10 de janeiro de 1987, no Centro de Arte Moderna, em Lisboa, no âmbito da programação do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE), da Fundação Calouste Gulbenkian.

O “espetáculo insere-se no contexto de teatro-música original e colagens” de Capdeville.

Igualmente no âmbito do festival, no dia 30 de novembro, pelas 21h30, sobe ao palco do Teatro Aberto “Manifesto NaDa”, de António de Sousa Dias, um espetáculo inspirado “no irreverente movimento ‘DADA’ de Tristan Tzara (1896-1963), que provocou ruturas na perceção da arte e inspirou inúmeros artistas e coletivos de vanguarda”, lê-se no documento divulgado.

“Aqui, a ação em palco e a música de António de Sousa Dias propõe uma viagem possível a este universo usando e abusando da desconstrução, da colagem, da irreverência, num piscar de olhos a diferentes expressões musicais contemporâneas ou próximas do movimento ‘DADA’, onde a lógica não é a regra”.

O festival, com direção artística do maestro Brian MacKay, é uma produção da Musicamera Produções, e promove, na próxima quarta-feira à tarde, no Teatro Aberto, uma mesa redonda sobre o percurso e obra de Constança Capdeville, com o maestro João Paulo Santos, o contrabaixista da Orquestra Sinfónica Portuguesa Pedro Wallenstein, o compositor António Sousa Dias, o violinista Luís Pacheco Cunha e a musicóloga Filipa Magalhães, do Grupo de Investigação em Música Contemporânea, do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa.