A Casa da Achada - Centro Mário Dionísio comemora hoje, em Lisboa, o centenário do escritor, pintor e teórico do neorrealismo, autor de "A paleta e o mundo", com uma programação dedicada à sua obra, anunciou a instituição localizada na Mouraria.

Nascido a 16 de julho de 1916, Mário Dionísio está a ser celebrado com exposições, leituras de poemas e conferências, entre outras atividades, em Vila Franca de Xira, Guarda e Lisboa, onde, hoje, das 10:00 às 22:00, na Casa e no Largo da Achada, se realizarão oficinas, jogos, sessões de leitura de poemas e de interpretação de canções, além de haver "comes e bebes".

"Neste dia, fazemos saltar para a rua as nossas edições e mais uns tantos livros e objetos raros, sorteamos um tapete feito a partir de um quadro de Mário Dionísio e continuamos a campanha para a reedição d''A paleta e o mundo', [obra] atualmente esgotada", escreve o Centro Mário Dionísio, na informação sobre as iniciativas do centenário, publicadas na sua página na internet.

"Estão todos convidados a vir passar este dia connosco, a levarem para casa um exemplar da 'Poesia Completa de Mário Dionísio', acabadinha de editar pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, a verem o espetáculo 'Não se pode viver sem utopia', apresentado pelo Coro da Achada, a pegarem no megafone e contarem por onde é que pegam em Mário Dionísio, o que vos interessa nele, porque é que precisamos dele hoje, passados 100 anos", escreve a Casa da Achada no seu sítio na internet.

"Não faltarão formas de ajudar a Casa da Achada a continuar o seu trabalho de tratamento e divulgação do espólio literário, artístico e pessoal de Mário Dionísio", prossegue a instituição. Por isso, no dia em que se assinalam cem anos de vida do escritor e artista plástico, vai estar em exposição o quadro para cujo restauro foi pedido apoio, em dezembro do ano passado, "Já não há papel", e que já se encontra recuperado.

Nascido em Lisboa, Mário Dionísio licenciou-se em Filologia Românica, em 1940, foi professor do ensino secundário e, após o 25 de Abril, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Na sua obra literária destacam-se os contos, reunidos em coletâneas como "O dia cinzento", "Monólogo a duas vozes" e "A morte é para os outros", a poesia de "Solicitações e emboscadas", "O riso dissonante", "Memória dum pintor desconhecido" ou "Terceira idade", o romance "Não há morte nem princípio" e as memórias de "Autobiografia".

Colaborou ainda em publicações como Seara Nova, Vértice, Diário de Lisboa e Mundo Literário (1946-1948).

No âmbito das artes plásticas, Mário Dionísio, além de um volume dedicado a "Vincent Van Gogh", escreveu obras de "uma enverga­dura ensaística nunca antes pretendida", como assinalou o historiador de arte José Augusto-França, a propósito de títulos como "Conflito e unidade da arte contemporânea" e, sobretudo, em relação aos cinco volumes de "A paleta e o mundo", que combina história, biografia e uma abordagem analítica da arte.

Em Vila Franca de Xira, no Museu do Neo-Realismo, está patente a exposição "Passageiro clandestino – Mário Dionísio 100 anos", com a curadoria de António Pedro Pita, que "tem por objetivo "homenagear o poeta, artista e pensador, focando-se sobretudo, na documentação e interpretação da intervenção de Mário Dionísio, enquanto teórico do neorrealismo, o mais relevante desta corrente e um dos mais importantes teóricos da arte do século XX", como adianta a apresentação da mostra.

Esta exposição está patente até 26 de fevereiro do próximo ano, e pode ser visitada, de terça a sexta-feira, das 10:00 às 18:00, sábados e domingos, das 10:00 às 19:00.

Na Guarda, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, foram inauguradas, no início desta semana, as exposições "Mário Dionísio – Pintura" e "Mário Dionísio – Vida e obra", composta por 13 painéis biográficos, que dão conta do autor, através de documentos, textos, fotografias e outras imagens.

Na próxima semana, dia 23, no âmbito da homenagem ao escritor, artista e professor, será projetado o filme "Duas horas na vida de uma mulher", de Agnès Varda.

O espólio documental de Mário Dionísio está depositado na Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, em Lisboa, fundada por familiares, amigos, antigos alunos e admiradores da sua obra.

A instituição preserva a biblioteca privada do autor e de sua mulher, a professora Maria Letícia Clemente da Silva.