Promovido pelo grupo Eufémias, o primeiro a representar, em Portugal, o Magdalena Project – Rede Internacional de Mulheres no Teatro Contemporâneo, o certame inclui ainda uma componente formativa através da realização de mesas redondas destinadas a promover o debate sobre as perspetivas de género e a construção de identidades nas artes cénicas, segundo a organização,
O nome do certame, a realizar em espaços como a biblioteca de Marvila, o auditório da Escola Secundária Camões e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), “remete para as mulheres trabalhadoras, as suas lutas, as denúncias contra as diferentes violências do sistema patriarcal - heteronormativo-branco, a força e a vulnerabilidade das que são mães, o direito e o dever de falar e o direito e o dever de dizer não”, acrescenta uma nota da organização.
Idealizado e construído a partir da questão das perspetivas de género, que denuncia a captura da identidade nas redes de poder-saber patriarcais e aponta a necessidade de um novo tipo de ação feminista através das artes cénicas, os espetáculos “procuram configurar a prática artística/cénica como prática política, e, como tal, transformadora do social”, refere a mesma nota da organização do certame.
Protagonizado, sobretudo, por mulheres, o festival promove práticas destinadas a todas as pessoas, numa perspetiva multicultural, com o objetivo de contribuir para a formação de artistas locais, o enriquecimento mútuo das artistas e comunidades envolvidas pela troca de experiências, reflexões e saberes entre pessoas de culturas diversas, histórica e socialmente ligadas.
A violência contra as mulheres, a violência de género, as diferentes formas de opressão pós-colonialista, as identidades e a sua relação com a memória histórica ligada às ditaduras, a desigualdade no mercado do trabalho, as novas masculinidades, o racismo, a discriminação e a homofobia são temas a abordar na iniciativa.
Um concerto do grupo musical português CRUA, composto por seis mulheres e outros tantos adufes, assinalam a abertura do festival, no dia 26, na biblioteca municipal de Marvila, seguido de “Silêncios persistentes”, uma performance de Joana Craveiro pelo Teatro do Vestido, sobre os segredos de famílias.
No dia seguinte, no mesmo local, A Corda Teatro representará "Epopeia" (dia 27).
Um dia depois é a vez da artista brasileira Tita Maravilha, com "Tita no país das maravilhas".
A estreia do novo trabalho da coreógrafa e bailarina Marisa Paulo, “(In)visível”, sobre o corpo da mulher africana na diáspora, um concerto pelo grupo cabo-verdiano Batuko Ramedi, composto por nove mulheres (ambos no dia 29), e o espetáculo “Semillas de memoria”, da atriz argentina Ana Woolf, no dia seguinte, 30, completam a lista de espetáculos a apresentar naquela biblioteca em Lisboa.
“Mulheres em rede: O legado e a transmissão através do Magdalena Project“, “Arte, política e memória como estratégia de resistência”, “Feminismos, interseccionalidade e a desconstrução de estereótipos de género-raça-classe” e “Artes, corporalidades e Construção de Identidade” são os temas dos quatro debates, a realizar ao ritmo de um por dia, entre dias 27 e 30, na FCSH-UNL e no auditório da Escola Secundária de Camões.
Quatro ações de formação, a ministrar por atrizes e formadoras como a argentina Ana Woolf, a portuguesa Joana Pupo, a francesa Brigitte Cirla e a australiana Jaime Mears, no Mercado de Culturas de Arroios e na Escola Secundária de Camões, constam também do programa.
Como atividades complementares, o Festival propõe ainda exibições de trabalhos artísticos em curso, a exibição do filme de Raquel Freire “As mulheres do meu país”, e uma "Parada final”, de Ana Woolf e Brigitte Cirla, com intervenções artísticas dos participantes do Festival Eufémia, aberta à comunidade, a realizar no último dia do certame, em espaços públicos em Arroios.
O grupo Eufémias tem o nome inspirado na ceifeira alentejana Catarina Eufémia, mãe de três filhos, assassinada grávida, com um deles ao colo, aos 26 anos, em 1954, pelos algozes da ditadura de Oliveira Salazar enquanto protestava junto com outras trabalhadoras rurais.
As Eufémias são Catarina Sobral, Elsa Maurício Childs, Mafalda Alexandre, Maria Catarina Amaral, Poliana Tuchia e Stefania Macua.
O festival é inspirado no Magdalena Project – Rede Internacional de Mulheres no Teatro Contemporâneo, uma rede multicultural dinâmica fundada em 1986, no País de Gales, e que atualmente reúne grupos de teatro de mulheres dos continentes europeu e americano, e de países como Austrália, Nova Zelândia e Índia.
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