A 16.ª edição do LeV fica marcada pelo regresso ao formato presencial, depois de dois anos a apresentar-se online ou em regime misto, trazendo consigo um total de três dezenas de convidados.

Pela Biblioteca Municipal Florbela Espanca, vão passar conferências, mesas de debate, entrevistas, concertos, programação infantil e ainda duas exposições, uma documental, de Antonio Nobre, e uma fotográfica, de Alfredo Cunha, que estão patentes desde 9 de maio.

Na conferência inaugural, o jornalista Carlos Fino, correspondente durante vários anos em países como os Estados Unidos e a Rússia, e que fez a cobertura da invasão do Iraque, debruçou-se sobre o tema “A guerra em direto nos vários palcos do mundo. Somos todos testemunhas ou réus?”.

Falando sobre a guerra na Ucrânia, lamentou que a informação chegue “de uma perspetiva unilateral que cria uma perceção no terreno não inteiramente coincidente com a realidade”, e defendeu a importância de ter “correspondentes nos vários pontos da guerra, para dar perspetivas diversificadas”.

“Não há nada que substitua o repórter no local, aquela visão do que se está a passar no terreno é essencial. Mas é no terreno, não é na capital e nos hotéis, é o mais próximo possível da linha da frente”, frisou.

Antes, Frederico Lourenço apresentou o relançamento do seu romance “Pode um desejo imenso”, 20 anos depois.

O escritor, tradutor e professor universitário, especialista em línguas e literaturas clássicas, explicou o seu afastamento da ficção, para se dedicar à tradução de grandes clássicos do grego e do latim, com um interesse crescente por estas obras.

“Houve o papel determinante de um aluno, que me perguntou porque não havia a tradução dos clássicos. E então comecei a dedicar-me a isso, a gostar e tem um valor incomparavelmente superior a qualquer coisa que eu escreva minha”, afirmou.

Frederico Lourenço contou que, depois de ter escrito “Pode um desejo imenso”, começou a questionar-se sobre o que é boa literatura e começou a inibir-se, porque “a fasquia estava tão inatingível” que lhe começou a tirar o gosto.

Quanto às grandes diferenças entre as duas tarefas – ficção e tradução -, afirmou serem ambas “muito absorventes”, mas em planos diferentes.

“A mais valia de tradutor é colocar-me em segundo plano em relação ao texto, estar como discípulo do texto e não estar com a responsabilidade de o produzir. Claro que tenho de ter muita atenção a cada palavra, é uma viagem extraordinária que me deixa exausto”, confessou.

Este sábado, a sessão ficará marcada pela mesa de debate “Territórios literários”, com o académico norte-americano Benjamin Moser, autor da biografia de Clarice Lispector e, agora mais recentemente, da Susan Sontag, vencedora do Prémio Pulitzer.

No mesmo dia, os escritores Afonso Reis Cabral e Joana Bértholo debatem sobre os marginalizados e os que vivem à margem, e as histórias que escondem.

No domingo, haverá mesas de debate com Bruno Vieira Amaral, Francisco José Viegas e Patrícia Müller, sobre “quanto de verdade há na ficção”, e com Afonso Cruz, Margarida Cunha e Vitor Cardoso, sobre “os limites da ciência e da ficção”.

O dia termina com uma entrevista de vida a Alberto Manguel, escritor, tradutor, editor, bibliófilo argentino-canadiano, a residir em Lisboa, onde é responsável pelo Centro de Estudos da História da Leitura.

O LeV arrancou no dia 9 de maio, antes do início da programação de debates, com a inauguração de uma exposição bibliófila dedicada a “António Nobre, o Poeta Só – 130 anos depois da primeira publicação” e outra com fotografias de Alfredo Cunha, sobre “O tempo das mulheres”.

Paralelamente decorreu o LeVzinho, de 11 a 13 de maio, que levou a escolas do concelho de Matosinhos as autoras Adélia Carvalho, Cátia Vidinhas, Joana Estrela, Marta Madureira e Raquel Patriarca.