“Quem venha de outras regiões do país, de outras cidades que não estas localidades em que estamos a trabalhar, passar um dia, uma noite, connosco, vai sentir essa grande experiência que é o encontro, porque nós temos conseguido mobilizar, através dos artistas específicos que convidamos, através das questões específicas que os seus espetáculos trazem, pessoas com sensibilidades muito diferentes”, disse à Lusa a diretora artística do Festival Materiais Diversos (FMD), este ano a celebrar a sua 10.ª edição.

Para Elisabete Paiva, este é “um fator muito atrativo, sobretudo porque traz um cosmopolitismo a estas zonas mais interiores”.

“Por outro lado, para aqueles que já são profissionais, ou que são um público mais regular e mais assíduo e que querem ver coisas novas, o festival tem também essa dimensão, não só porque efetivamente este ano estreamos cinco criações de artistas portugueses, temos mais uma série de estreias em território nacional de artistas que ainda não tinham vindo a Portugal com aquelas criações - há esse lado da novidade -, e porque estamos a fazer uma coisa com este festival bienal que é produzir conhecimento”, acrescentou.

Além dos 17 espetáculos de dança, teatro, performance, na sua maioria com mais do que uma exibição em vários espaços das vilas de Minde e de Alcanena e da cidade do Cartaxo, no distrito de Santarém, o programa inclui uma série de debates, de conversas, “que proporcionam a quem nelas queira participar a possibilidade de refletir sobre grandes questões da programação e da produção cultural, da vida em sociedade, do país em que vivemos, da globalização, da contemporaneidade”.

“E isso é uma oportunidade para um público mais exigente e que procura outro tipo de coisas. É também um lugar de produção de discurso e isso sem dúvida esse público poderá encontrar connosco”, frisou.

Essa dimensão do festival vai ser materializada num livro que a associação Materiais Diversos está a preparar desde o ano passado, com um conjunto de pessoas especializadas em diferentes áreas da criação, da programação, da política cultural, convidadas para refletir sobre a programação fora dos grandes centros urbanos.

“O livro não é uma antologia, mas é, a partir do festival e das suas 10 edições, uma oportunidade para pensar o que é programar fora dos grandes centros urbanos, em particular uma iniciativa de uma estrutura independente e que está ligada à produção artística contemporânea, o que não é completamente evidente”.

“Não é evidente que seja dada a escolha em territórios mais interiores de uma oferta que podia perpassar por qualquer outro ponto. Não é que seja indiferente onde estamos, é porque aqui estamos ocupados em dar à escolha atividades de grande qualidade”, acrescentou.

Ao reunir um “leque muito diversificado de convidados, que tem desde um geógrafo, uma especialista em historia da dança e coreografia, pessoas mais ligadas à acessibilidade cultural, à politica cultural”, o objetivo é que “estas várias vozes ajudem a refletir” sobre vários projetos que, como o FMD, em Portugal têm feito história, às vezes de uma forma mais invisível, como é o caso do CiteMor (festival de Montemor-o-Velho), que é o mais antigo fora dos centros urbanos e que está “superligado à criação contemporânea”, salientou.

A Materiais Diversos é uma estrutura profissional independente que tem como missão “incentivar a investigação e experimentação artísticas, bem como sensibilizar múltiplos públicos para as artes performativas, com enfoque na dança contemporânea”.

Além do apoio à criação e difusão de projetos associados, a associação trabalha em parceria com os municípios de Alcanena e do Cartaxo “um programa de (des)envolvimento de públicos”.

O Festival Materiais Diversos surgiu neste território em 2009, então sob a direção do atual diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, tendo assumido em 2017 a opção por um programa bienal, para dedicar “mais tempo a cada parceiro, a cada artista e coletivo, a cada pergunta, processo, pessoa”, salientou.

O FMD tem ainda uma parceria com o Bons Sons, festival dedicado à música portuguesa que se realiza anualmente em agosto na aldeia de Cem Soldos (Tomar) e que é responsável pela programação das Noites Longas, este ano animadas por nomes como Manel Cruz, They Must be Crazy, SoulFlow Djs e Dj Maboku.