“Não consigo ver uma perspetiva, porque não tem. Não se vê uma liderança. (…). É uma situação muito complicada mesmo. Sempre aguardei muito a eleição, (…) sempre tive muita certeza em quem ia votar. E agora estou (…) em quem vou votar? Não sei em quem vou votar para Presidente”, desabafou, em declarações à agência Lusa.

A divisão entre direita e esquerda pulverizou-se e não há um debate político refletido, o que faz deste “um momento perigoso”, porque “é aí que os monstrinhos chegam”, realçou a artista, que nasceu em Salvador da Baía e vive no Recife.

Um desses “mostrinhos” que vem a ganhar espaço eleitoral é Jair Bolsonaro, militar na reserva e pré-candidato pelo Partido Social Liberal.

Representante de uma direita “mais perigosa do que a direita velha, que é mais assumida”, Bolsonaro “tem uma coisa como se fosse engraçada, mas não é nem um pouco engraçada, faz piadas racistas e machistas o tempo todo, é homofóbico”, criticou Buhr.

“Muita gente não bota fé, ‘ah não, Bolsonaro não vai ganhar’. Já vi esse filme, outras vezes, e dá um medo de isso acontecer”, lembrou.

“Muita gente diz, ‘se ele ganhar, vou para Portugal’. Eu não vou não, vou ficar lá”, prometeu, realçando que “a maioria” dos brasileiros “não entende completamente" o que está a acontecer.

Ainda assim, Buhr tem algumas convicções: Dilma Rousseff, a anterior Presidente eleita, “saiu por nada, foi golpe mesmo”; e “não tem ninguém” para ocupar o lugar que Lula da Silva, o Presidente que antecedeu Dilma e que agora está preso por crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais, mas que vive no “solta, não solta” dos tribunais.

“Se soltar, ele ganha”, acredita Buhr. “Toda a conquista que teve, com Lula, uma geração inteira que entrou na universidade (…). Só isso, já foi uma mudança muito forte. Um monte de gente que não tinha voz passou a ter”, assinala.

Mas, “o Brasil é colonial” e “tem uma coisa muito forte de escravidão ainda”, retratou.

“Não sei se essa geração que alcançou isso vai conseguir perpetuar essa mudança ou se isso vai ser simplesmente sufocado por essa loucura que está vindo agora”, declarou.

“Ave-maria, acho que desinspira (…)” reagiu Buhr, quando lhe foi perguntado sobre o que o Brasil lhe dá atualmente, enquanto artista.

“A atual situação no Brasil está bem difícil, a gente vive uma mentira em todos os setores”, resumiu, destacando que na cena cultural e artística, “a maioria posiciona-se contra, mas é um contra que também não tem uma proposta a favor”, refletiu.

Karina Buhr, que atuou sexta-feira em Porto Covo, está em digressão com o seu mais recente trabalho, “Selvática”.

Depois do Músicas do Mundo, estará no Bairro Intendente em Festa (Lisboa, sábado, às 22:00) e na Casa da Música (Porto, dia 27).

“Estava contando os dias para chegar”, desabafou, animada.

Mas nem só de música se preenche a agenda da artista brasileira, que vai também lançar o livro "Desperdiçando Rima", na Confraria Vermelha, no Porto (dia 28) e depois na Tigre de Papel, em Lisboa.

Na música e na literatura, as mulheres “bravas, mesmo as que não sabem”, foram-lhe aparecendo “cada vez mais e de um jeito mais agressivo”. Assumidamente feminista, Buhr torce “para não precisar mais ser”.