A ficção como elemento fantástico abrange praticamente todas as formas de arte, com milhões de fãs em todo o mundo.

Em Portugal, o Fórum Fantástico reúne durante três dias artistas, produtores culturais e fãs do género para uma série de palestras e “workshops” em áreas como literatura, banda desenhada, cinema, música e música, entre outras.

O programa inclui  também diversas atividades para crianças e todos os eventos têm entrada gratuita.

A presença especial este ano cabe a Mike Carey, argumentista com uma vasta carreira na BD, que participará de eventos sobre a sua obra na sexta e no sábado. Trabalhou em números de “X-Men”, “Batman”, “Sandman” e “Lúcifer”, entre muitos outros, e na literatura – área na qual publicou diversos romances.

O SAPO Mag conversou com os organizadores, em nome da Épica – Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes, Rogério Ribeiro e João Morales.

O Fórum Fantástico vai para a sua 11ª edição. O que podem contar sobre a sua criação e o percurso ao longo destes anos?

Rogério Ribeiro – O evento nasceu realmente em 2004, fruto de um grupo de amantes de literatura fantástica. O objetivo era propiciar uma ocasião anual onde este tipo de obras pudesse ser apresentado e debatido e que os leitores e os estudiosos pudessem interagir diretamente com os escritores.
O evento, realizado na Faculdade de Letras de Lisboa, que não foi uma escolha fortuita, correu tão bem que o Fórum Fantástico nascia logo no ano a seguir. Desde o início ele assumiu a sua vocação internacional e congregadora de vários meios e subgéneros.
De um lado estava a ficção científica, a fantasia, o horror, o fantástico e, de outro, a literatura mas também o cinema, a banda desenhada, a música, as artes plásticas e performativas, os videojogos e jogos de tabuleiro, o modelismo, etc. Somos naturalmente ecléticos e gostamos que isso se reflita na forma como o Fórum Fantástico é organizado e programado.
Claro que todos estes anos já incluem um historial considerável de pequenos episódios. Trouxemos escritores como Nick Sagan, a quem toda a gente perguntava por histórias do pai, e organizamos a primeira vinda do George R.R. Martin a Portugal, ainda antes do sucesso da série televisiva "A Guerra dos Tronos" – o que proporcionou uma estadia bem mais calma do que as posteriores. Através de esforços diplomáticos também alcançámos a atribuição do visto ao sérvio Zoran Zivkovic.
Todos os anos temos tido desafios que nos dá gozo ultrapassar, o que fiz em conjunto com a Safaa Dib durante vários anos e, mais recentemente, a par com o João Morales.

João Morales – Esta é a edição mais ambiciosa no que respeita ao aproveitamento dos diversos espaços desta magnífica biblioteca. Vamos ter atividades no auditório, nas salas de leitura, nos espaços infanto-juvenis, na fonoteca, no pátio interior ao ar livre…Os “workshops” direcionados a crianças e jovens são também uma nova aposta, alargando o leque de possíveis interessados e estreitando relação com a comunidade local de Telheiras – desde logo nas suas camadas mais jovens.

Portanto uma das ideias centrais do Fórum é esta interdisciplinaridade…

Rogério Ribeiro – Sim, a programação do Fórum Fantástico é um exercício de abrangência, tomando o Fantástico precisamente como o ponto central. Afinal de contas, se não for a capacidade de Imaginar a unir-nos, nenhuma outra coisa o fará.
Quanto aos espaços, nesta edição ocupamos todos os cantos da casa… É notório o aumento e disseminação das atividades, entre os dois edifícios que constituem a Biblioteca e o Auditório, assim como pelos dois pátios. Aliás, com o apoio da Junta de Freguesia do Lumiar foi possível trazer a feira do livro para o exterior, e desafogar o exíguo foyer do auditório, cujos engarrafamentos se tornaram míticos no Fórum Fantástico.

João Morales – É muito importante desmistificar a ideia de que os amantes da literatura não se interessam por música, os cinéfilos não querem saber de artes plásticas ou os melómanos não lêem ficção. Todos somos seres complexos que procuramos em diferentes formas de expressão a materialização das nossas afinidades e anseios.

Por que acham que o elemento Fantástico alcança essa abrangência?

Rogério Ribeiro – Uma obra fantástica pode ter tanto elementos de escapismo como de reflexão. Atrevo-me a dizer que a boa ficção tem ambos! De resto, possui propriedades e regras que são transversais a todos os meios criativos.
O facto de alguns criadores não compreenderem que o fantástico não é uma carta-branca para o “vale-tudo”, mas, pelo contrário, é um género cujo sucesso depende ainda mais de regras – e sim, isso inclui respeitá-las e subvertê-las –, é o que explica alguma incompreensão e atrapalhação quando se tenta aproximar uma obra ao fantástico. Por isso também se torna um género mais complexo de consumir.

João Morales – O fantástico, a ficção científica, até mesmo muitas das histórias de terror, acabam por ocultar uma abordagem a diversas dimensões da condição humana, da mesma forma que as mitologias são, quase sempre, uma incursão pelas possibilidades que a alma humana acolhe.
Além disso, muitos dos temas que poderiam parecer fantásticos há alguns anos hoje são da mais evidente atualidade. Veja-se, por exemplo, o debate que vamos ter em torno da Inteligência Artificial e compare-se com as notícias que dão conta de discussões internacionais ao mais alto nível sobre a criação de uma personalidade jurídica para robôs.

Em termos de produção, acham que o fantástico em Portugal tem uma saída melhor na literatura e na BD do que no cinema? Como é que avaliam essa produção?

Rogério Ribeiro - Num dos painéis do Fórum Fantástico deste ano desaprovamos essa ideia com três exemplos portugueses de longa-metragem de cinema fantástico – assim como demonstramos a capacidade de internacionalização dos poucos, mas bons.
Aliás, penso que a banda desenhada está a atravessar uma fase particularmente profícua, com o cinema a manter-se com bons exercícios. Já a literatura fantástica, na sua expressão portuguesa, tem decaído em relação há alguns anos. E quanto aos seus melhores executantes, até tem vivido mais de reedições do que de obras originais. Mas surpresas também têm acontecido, como, por exemplo, uma pequena editora como a Divergência a trazer o António de Macedo de novo aos originais publicados!

O que é a parceria com a Liga Steampunk?

Rogério Ribeiro – A parceria com a Liga Steampunk nasceu da vontade de, mais do que integrar algumas atividades “vaporpunk” na programação, contribuir para o ressuscitar da EuroSteamCon Portugal. Aliás, para mim não é novidade, dado ter feito parte, com a Joana Lima, Sofia Romualdo e André Nóbrega, da organização da primeira ESC, em 2012, no Porto. Daí também o lado afetivo para com essa iniciativa.
Quando abordei a Liga com a ideia, constatei que eles próprios partilhavam dessa ambição. Então foi rápido montarmos. É gente dinâmica, bem vestida, e a respeitar a hora do chá, é o que se quer!

Também prevêem muitas atividades para crianças…

Rogério Ribeiro – Sim, este ano, desafiados pela BLX e pela própria Biblioteca Orlando Ribeiro, focamos parte da programação nos mais novos e aqui também foi preciosa a colaboração da Liga Steampunk e do Especulatório. De jogos à escrita, de modelismo a impressão 3D, muito haverá para entreter as crianças. Mas os adultos continuam a beneficiar da fatia de leão, com três dias repletos de palestras e “workshops”.

A programação completa pode ser encontrada em forumfantastico.wordpress.com.

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