Maria de Vasconcelos, presidente da associação, e Telma Schmidt, vice-presidente, marcam a entrevista através de uma plataforma online. É precisamente através dela que têm trabalhado, cada semana, para o grupo de teatro comunitário lusófono que arrancou apenas quatro meses antes de começar a pandemia de covid-19.
“Fomos obrigados a ficar confinados, mas decidimos manter o grupo ativo e começámos a encontrar-nos pelo Zoom. Havia duas possibilidades, ou o grupo se desmembrava completamente e acabava, ou então surgia um espírito de união e solidariedade muito grande entre nós que nos permitiria evoluir”, contou à lusa Maria de Vasconcelos.
“Tivemos de nos reinventar com esse novo normal da pandemia. Penso que nos saímos muito bem como grupo. Era muito delicado, não sabíamos como trabalhar no esquema online. As primeiras reuniões foram um ‘brainstorming’ de como íamos continuar. Tivemos de deixar o nosso projeto cénico para criar uma coisa nova”, partilhou Telma Schmidt.
A associação ainda está em processo de constituição, as duas fundadoras admitem que o processo burocrático é longo e por vezes complexo. A organização pretende ser um espaço livre de hierarquias, onde todos possam partilhar, mesmo sem um passaporte de um país lusófono.
“O nosso objetivo é que esta associação seja lugar de fala da lusofonia, mas não tem que ficar restrita só a lusófonos. A lusofonia é aquilo que nos une, juntamo-nos porque temos em comum a língua portuguesa, mas isso não significa que os nossos associados tenham necessariamente que ter uma nacionalidade lusófona”, descreveu a portuguesa Maria de Vasconcelos.
“O que liga as pessoas à lusofonia não é a nacionalidade dos integrantes, mas sim a conexão com a língua portuguesa ou com a cultura”, acrescentou Telma Schmidt.
No grupo de teatro e na associação participam nesta altura, ativamente, 18 pessoas de Portugal, Brasil e Alemanha. São 13 os sócios fundadores, mas há já uma lista de espera com interessados em fazer parte.
Um dos objetivos da “Raízes” é “pensar, ou refletir, de forma crítica e assertiva” o período dos descobrimentos, e do impacto que esse período ainda hoje tem.
Todos os projetos da associação são em português. Ente eles está o ‘Sementes”, um grupo de teatro para jovens, a ‘Hora do Conto’, em que é lido e gravado, uma vez por mês, um conto de um escritor lusófono, ou yoga para famílias.
Há uma outra vertente que tem como objetivo criar projetos e iniciativas para a educação dos direitos humanos, e aulas de alemão, que começam este mês de maio.
“A língua alemã, sobretudo para nós, lusófonos, é muito diferente da nossa. A forma de pensar, a construção gramatical e a sintática, são completamente diferentes. Existem algumas palavras em alemão com raízes latinas, mas são muito poucas. É muito difícil para nós, é um grande dispêndio de energia, de tempo, de dinheiro, é um desafio na emigração aqui na Alemanha”, apontou Maria de Vasconcelos.
Ela é apontada pelas duas fundadoras, como “a maior forma de integração na sociedade”, mas que pode por vezes funcionar como um inimigo no dia-a-dia.
O maior desafio tem sido fazer tudo à distância, e durante uma pandemia, mas também conseguir financiamento para os projetos.
“Ninguém pode trabalhar sem ganhar dinheiro porque tu precisas de dinheiro para sobreviver. Um projeto com esta dimensão, se não for financiado, torna-se inviável. Encontrar financiamento na Alemanha, para projetos como os nossos, falados em português, é muito difícil. É um dos grandes desafios que temos”, acrescentou.
A associação está também a organizar cursos de teatro comunitário, 'workshops' e parcerias com outros movimentos, como o grupo de teatro comunitário argentino em Berlim.
Comentários