A exposição narra o caminho criativo e a "metamorfose" de Picasso (1881-1973), perante a emergência da "guerra e do nazismo", que o levou a conceber "Guernica", em 1937, por encomenda do Governo da II República de Espanha, para a Exposição Universal de Paris, sublinhou Borja-Villel.

Daí o título da mostra, "Piedade e terror em Picasso: o caminho até Guernica”, a inaugurar na quarta-feira, para celebrar o 80.º aniversário da criação do quadro, e os 25 anos da chegada da obra ao museu Reina Sofia (Rainha Sofia).

Patente até 4 de setembro, trata-se de “uma grande exposição” que reunirá perto de 180 obras-primas do artista, vindas da coleção do museu e de mais de 30 instituições de todo o mundo, como o Museu Picasso e o Centro Georges Pompidou, de Paris, a Tate Modern, de Londres, os museus de Arte Moderna e o Metropolitan, de Nova Iorque, entre outros, assim como da coleção privada de Claude Ruiz-Picasso.

Segundo o diretor do museu espanhol, ao contrário de outras retrospetivas, "esta centra-se na evolução do universo pictórico de Picasso, tendo 'Guernica' como epicentro, e percorrendo o período que vai da década de 1920 aos anos 40, em que o artista provocou uma mudança radical na sua obra".

"Antes de 1937, Picasso estava perplexo. Com os acontecimentos [da guerra], o terror, o medo e a morte converteram-se no seu tema. Está presente em algumas das suas obras, como 'As três bailarinas'", disse o comissário da exposição Timothy J. Clark, investigador da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.

A comissária Anne M. Wagner, também da universidade californiana, destacou os desenhos a vermelho e negro do artista, nos quais aborda a morte de inocentes, até chegar a "Guernica": "Não há homens e essa é a razão por que ['Guernica'] atraiu de forma poderosa o público".

A par da exposição, o Reina Sofia publicará um catálogo, organizado pelos comissários, e um segundo livro com documentação sobre as viagens do quadro, até ao seu regresso a Espanha, em 1981.

Será igualmente criada uma área de consulta sobre a obra, no sítio do museu na internet, no âmbito do Fundo Documental Guernica, do Museu Rainha Sofia.

Quanto ao quadro, que apresenta "algumas fissuras" e "zonas de fragilidade", Borja-Villel disse hoje à imprensa que não será sujeito a restauro. "Estudamos apenas a possibilidade de retirar o verniz", colocado em 1992.

"Guernica", pintura a óleo sobre tela, de 349,3cm de altura e 776,6cm de largura, mostra os horrores do bombardeamento à cidade basca de Guernica, por aviões alemães do regime nazi, apoiando o ditador Francisco Franco, em 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil de Espanha, naquele que foi visto como um teste dos bombardeamentos aéreos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Alguns anos antes de morrer, Picasso pediu para que o quadro só fosse devolvido a Espanha quando as liberdades públicas fossem restauradas no país.

"Guernica", o quadro, chegou a Espanha em 1981, depois da morte do ditador Francisco Franco (1939-1975) e da restauração da democracia, em 1977. Ficou depositado no Museu do Prado, tendo sido transferido para o Reina Sofia em 1992.

Depois da Exposição de Paris, em 1937, o quadro de Picasso foi exibido em Oslo, Copenhaga, Estocolmo e Gotemburgo, Londres, Leeds, Liverpool e Manchester.

Em 1939, antes do início da II Guerra Mundial, o quadro foi enviado para os Estados Unidos, onde foi mostrado no Museu de Arte Contemporânea de São Francisco, primeiro, e no Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova Iorque, mais tarde, instituição onde se manteve até 1981, depois de breves passagens por cidades como Chicago e Filadélfia, e pelo Brasil, na década de 1950.