O “Ano da Agustina” terminou com a atribuição do doutoramento 'Honoris Causa' à escritora, em Vila Real, a primeira mulher a ser distinguida com este título honorífico pela UTAD.
“É sempre muito bom ver que a Agustina continua a ser homenageada, reconhecida e querida no seu país”, afirmou Mónica Baldaque, que hoje representou a mãe na cerimónia que decorreu no 'campus' da academia transmontana.
Ao longo de 2018 foram realizadas várias iniciativas, como exposições, palestras, ciclos de cinema, colóquios, bem como atividades nas escolas "para estimular os alunos a trabalhar, a ler e a interpretar Agustina Bessa-Luís".
“Há ainda muito trabalho para fazer, trabalho que não é só com Agustina, é um trabalho de educação, de preparação dos alunos e dos professores. Há muito, muito a fazer para preparar as novas gerações para lerem, para interiorizarem aquilo que leem e para utilizarem toda essa bagagem que devem adquirir ao longo do seu tempo de estudo”, disse Mónica Baldaque.
A pintora, conservadora e escritora referiu ainda que a experiência com a nova editora da obra da escritora “está a correr muito bem”. A Relógio D'Água assumiu a publicação da autora em 2017.
“Têm saído com muita regularidade as obras da Agustina num formato muito bonito e agradável e com prefácios muito especiais. Acho que foi uma boa aposta do editor escolher gente nova e com outra preparação, com outra abordagem sobretudo às obras da Agustina. E eu acho que isso tem sido um trabalho que já deveria ter acontecido há muito tempo”, salientou.
A homenagem pela UTAD partiu de um desafio lançado pelo presidente do Conselho Geral da academia, José da Silva Peneda.
“Entendi que Agustina Bessa-Luís merecia esta homenagem porque grande parte da sua obra tem o Douro como palco. Em muito do que ela escreveu o Douro está presente e, sendo a UTAD uma instituição que está sediada no Douro, não fazia sentido que não tivesse um ciclo de homenagens a uma figura tão marcante da literatura portuguesa”, afirmou Silva Peneda.
Por sua vez, o reitor da UTAD, António Fontainhas Fernandes, considerou que “se trata de uma das vozes mais importantes da literatura portuguesa”.
A escritora nasceu em Vila Meã, Amarante, em 1922, mas passou parte da sua juventude, entre os 12 e os 18 anos, na Régua.
“Não havia muito para fazer e ela lia compulsivamente e isso foi muito importante para a formação dela. Esta ligação ao Douro reflete-se muitíssimo na sua obra”, acrescentou Mónica Baldaque.
Alguns dos seus romances, como “O princípio da incerteza” ou “Vale Abraão” são passados no Douro.
“Eu encontro referências ao Douro em quase todos os romances que leio dela”, acrescentou a filha.
De acordo com Mónica Baldaque, a escritora encontra-se “bem de saúde”. “Está silenciosa, mas atenta a tudo o que se passa e a todos e lúcida. Não comunica, mas eu acho que não comunica porque não quer comunicar, já comunicou tudo o que tinha a comunicar na vida dela”, referiu.
A autora possui mais de 50 títulos publicados, entre romances, contos, peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem, ensaios e livros infantis.
Muitas das obras de Agustina estão traduzidas em diferentes idiomas, e algumas adaptadas ao cinema, nomeadamente por Manoel de Oliveira.
Foi agraciada com muitos prémios, como o Prémio Eça de Queirós (1954), Prémio Nacional de Novelística (1967), Prémio D. Diniz (1981), o Grande Prémio Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1983 e 2001) e o Prémio Camões (2004).
Foi igualmente distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a mais importante das ordens honoríficas portuguesas, e feita Officier de l’Ordre des Arts e des Lettres, da República Francesa (1989).
Até à data recebeu três doutoramentos ‘honoris causa’, pela Universidade Lusíada, Universidade do Porto (ex aequo com Eugénio de Andrade) e Tor Vergata de Roma.
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