"Foi com grande consternação que acabei de saber do falecimento, aos 77 anos, de José Mário Branco. José Mário Branco é inquestionavelmente um dos maiores nomes da canção portuguesa, num percurso que começou muito antes do 25 de Abril e que durou até aos dias de hoje. E que durará, na verdade, enquanto tivermos memória", escreveu Ferro Rodrigues numa mensagem de pesar enviada à agência Lusa.

Como autor, segundo o presidente da Assembleia da República, ficarão de José Mário Branco "álbuns incontornáveis da música portuguesa, como "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" (1971), "Margem de Certa Maneira" (1973), "FMI" (1982), "Correspondências" (1990) ou "Resistir é Vencer" (2004)".

"José Mário Branco foi uma figura ímpar da música de intervenção, da canção de Abril, tendo a sua música sido rica no recurso a vários géneros musicais, do cancioneiro popular à clássica, passando pelo rock, o jazz ou a música francesa. Ficarão também na memória coletiva as suas colaborações com outras figuras maiores da música portuguesa, como José Afonso, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Manuela Azevedo ou Camané", referiu também Ferro Rodrigues.

Nesta sua mensagem, Ferro Rodrigues destacou também que José Mário Branco foi um "antifascista, perseguido pela PIDE" e "a sua intervenção cívica empenhada e atividade política levaram-no ao exílio em França no tempo da ditadura (em 1963), onde, apesar da distância, nunca deixou de aspirar e lutar pelo fim do regime".

"Regressou a Portugal em 1974, com a liberdade, para ajudar a construir um País mais justo, propósito que nunca deixou de o inquietar. Hoje é um dia de enorme tristeza pessoal. À família (nomeadamente aos filhos e netos) e aos muitos amigos, quero transmitir, em meu nome e em nome da Assembleia da República, a expressão do mais sentido pesar, assim como reconhecer a importância da obra que José Mário Branco deixou ao país, bem como o seu exemplo de inconformismo, coerência e rebeldia", acrescentou Ferro Rodrigues.

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974. O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.

Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge ou Samuel.

Estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto, foi militante do PCP até ao final da década de 60 do século passado e a ditadura forçou-o ao exílio em França, para onde viajou em 1963, só regressando a Portugal em 1974.

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.