A poetisa norte-americana Louise Glück é a vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2020. O anúncio foi feito ao final da manhã desta quinta-feira, dia 8 de outubro, em Estocolmo.
O galardão foi atribuido a Louise Glück pela sua "voz poética inconfundível que, com beleza austera, torna a existência individual universal", frisa a Academia Sueca nas redes sociais.
No anúncio do prémio, o secretário permanente da Academia Sueca, Mats Malm, disse ter falado momentos antes com a laureada, que recebeu a notícia “com surpresa, mas bem-vinda”, tanto quanto foi possível perceber tendo em conta a hora.
Considerada uma das melhores poetisas contemporâneas dos Estados Unidos, Glück é conhecida pela sua precisão técnica e sensibilidade, em obras sobre solidão, relações familiares, divórcio e morte. Os primeiros livros da autora focam-se em casos de amor fracassados, em encontros familiares que acabam mal e no existencialismo. Perda, isolamento, rejeição são outros dos temas abordados nas obras da norte-americana.
William Logan, do The New York Times, frisa que os poemas de Louise Glück são "sombrios" e que "é difícil desviar o olhar deles".
Em 1993, a norte-americana venceu o Pulitzer para obras de poesia. Nos Estados Unidos, Louise Glück já foi também distinguida com a Medalha Nacional de Humanidades, Prémio Nacional do Livro, Prémio National Book Critics Circle Award e com o Prémio Bollingen.
Gluck, por publicar em Portugal, fez a sua estreia literária com “Firstborn”, em 1968, e foi “rapidamente aclamada como uma das mais proeminentes poetas na literatura contemporânea americana”. Está representada na coletânea "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro", da Assírio & Alvim (2001), com o poema "O Poder de Circe".
O Nobel da Literatura, envolto em diversas polémicas nos últimos anos, tem um valor superior a 900 mil euros.
Numa lista de contemplados largamente masculina, Gluck torna-se na sétima mulher a ser distinguida este século e a 16.ª, desde o começo, entre as 117 pessoas a quem foi atribuido o Nobel da Literatura.
O nome do português António Lobo Antunes esteve entre os favoritos, mas os analistas defenderam que, este ano, o Prémio deveria ser atribuído a uma mulher.
Veja aqui o anúncio do vencedor:
Atribuído pela primeira vez em 1901, ao francês Sully Prudhomme, o Nobel da Literatura, um dos mais mediáticos ao lado do Nobel da Paz, tem sido sempre anunciado a uma quinta-feira, normalmente na primeira semana de outubro, na mesma semana em que outros quatro galardões criados por Alfred Nobel.
A guadalupina Maryse Condé, a canadiana Anne Carson, canadiana Margaret Atwood, que partilhou o Booker Prize de 2019 com Bernardine Evaristo, a russa Lyudmila Ulitskaya, o japonês Haruki Murakami, o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o e o checo Milan Kundera eram os principais favoritos à vitória nas casas de apostas.
Os prémios Nobel nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em doar a sua imensa fortuna para o reconhecimento de personalidades que prestassem serviços à humanidade.
O inventor da dinamite expôs este desejo num testamento redigido em Paris em 1895, um ano antes da sua morte. Os prémios foram atribuídos pela primeira vez em 1901.
O Nobel da Literatura, atualmente no valor de nove milhões de coroas suecas (cerca de 827 mil euros), é atribuído ao escritor que, nas palavras do testamento de Alfred Nobel, produza, “no campo da literatura, o trabalho mais notável numa direção ideal".
Recorde aqui todos os vencedores
Um total de 117 escritores – dos quais 16 mulheres – já foram distinguidos com o Prémio Nobel da Literatura, atribuído desde 1901.
Apenas um autor de língua portuguesa foi premiado: o português José Saramago, em 1998.
Após a controversa escolha de Bob Dylan, em 2016, a Academia Sueca foi apanhada pela agitação de um escândalo sexual e de crimes financeiros que a dividiu tanto que teve de adiar a atribuição do prémio de 2018, pela primeira vez em mais de 70 anos.
A polémica rebentou no final de 2017 com denúncias de 18 mulheres a um diário sueco, de que teriam sido vitimas de abuso sexual por parte do artista Jean-Claude Arnault, que foi condenado no final de 2018 a dois anos e meio de prisão por violação.
Ao rebentar o escândalo, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.
Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson, mulher do artista e membro do comité que decidia a atribuição do Nobel da Literatura, era coproprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, o que violava as regras de imparcialidade.
O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada várias vezes.
Após várias demissões e reestruturação dos lugares de topo, em 2019, a Academia premiou o romancista austríaco Peter Handke (nesse ano o Prémio referente a 2018 foi atribuído à escritora polaca Olga Tokarczuk), o que gerou forte controvérsia, devido às conhecidas posições pró-sérvias do escritor, durante a guerra na ex-Jugoslávia, tendo, inclusivamente, levado a principal associação de vítimas do genocídio de 1995 em Srebrenica a acusá-lo de defender responsáveis por crimes de guerra e a pedir a retirada do prémio.
Recorde os vencedores do prémio Nobel da Literatura dos últimos anos:
2020: Louise Glück (EUA)
2019: Peter Handke (Áustria)
2018: Olga Tokarczuk (Polónia)
2017: Kazuo Ishiguro (Reino Unido)
2016 : Bob Dylan (EUA)
2015 : Svetlana Alexievitch (Bielorrússia)
2014 : Patrick Modiano (França)
2013 : Alice Munro (Canadá)
2012 : Mo Yan (China)
2011 : Tomas Tranströmer (Suécia)
2010 : Mario Vargas Llosa (Peru/Espanha)
2009 : Herta Müller (Alemanha)
2008 : Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007 : Doris Lessing (Reino Unido)
2006 : Orhan Pamuk (Turquia)
2005 : Harold Pinter (Reino Unido)
2004 : Elfriede Jelinek (Áustria)
2003 : J.M. Coetzee (África do Sul)
2002 : Imre Kertész (Hungria)
* Notícia atualizada às 13h01
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