Esta terça-feira, ao final da tarde, a rua do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, teve ainda mais movimento do que o normal. O motivo? Madonna. A artista norte-americana subiu ao palco da sala lisboeta para mais um concerto da digressão de "Madame X", álbum que a ‘rainha da pop’ lançou em junho de 2019 e que foi influenciado por Lisboa, a sua "casa adoptiva".
"Bem-vindos ao mundo de Madame X", diz Madonna numa gravação antes das cortinas vermelhas do Coliseu dos Recreios se abrirem. "Não haverá nada entre nós esta noite", acrescenta no arranque do segundo concerto em Lisboa.
E a promessa inicial é respeitada: depois de centenas de concertos durante décadas em grandes salas de todo o mundo, Madonna apresenta-se mais intimista do que nunca - em entrevistas e nas redes sociais, a artista norte-americana confessou que quis arriscar para estar mais perto dos fãs. É uma oportunidade única de ver uma das maiores estrelas da música, numa sala pequena. Como diz o cliché, perto de todos e de cada um.
Em cada concerto desta digressão, o compromisso de Madonna é sempre o mesmo: oferecer uma experiência artística intimista e única. E talvez seja por isso que é proibido o uso de telemóveis - à entrada do Coliseu dos Recreios, os fãs têm de colocar os seus smartphones em bolsas seladas.
O álbum “Madame X” é o protagonista de todos os concertos e esta terça-feira não foi excepção. À semelhança do que tem acontecido em toda a digressão, Madonna arrancou o espetáculo com "God Control", um dos temas mais fortes do seu último disco e onde a artista deixa no ar algumas reflexões sobre o estado da democracia, o rumo dos Estados Unidos e o controlo de armas.
Os espetáculos da atual digressão de Madonna são talvez os mais políticos da sua carreira: tal como "Madame X", os concertos são intensos e estão repletos de mensagens fortes que a cantora quer que ganhem eco.
Depois de "God Control", Madonna seguiu viagem para "Dark Ballet”, com a cantora a deixar várias mensagens fortes envolvidas em batidas que foram ganhando intensidade a cada segundo. Pelo meio, há uma espécie de 'intervalo' com piano e vozes distorcidas, que transportaram o público para um mundo de fantasia e futurista.
Depois de dois temas, o público já se sentia totalmente dentro do universo de Madame X, da "casa" de Madonna, uma "casa" muito portuguesa. Lisboa, para onde Madonna se mudou em 2017, está na alma do concerto e todas as suas experiências na capital portuguesa foram transformadas em canções e inspiraram a criação da digressão.
"Não imaginam há quanto tempo esperava por este momento, por este regresso a Lisboa para vos mostrar o que me inspirou aqui", atirou Madonna.
Ao terceiro tema, a primeira viagem ao passado com "Human Nature”, do disco “Bedtime Stories". No palco do Coliseu dos Recreios, Madonna transformou o single de 1994 quase numa confissão, terminando rodeada por uma dezena de mulheres, incluindo as suas filhas Stella e Estere.
Depois de apresentar as suas filhas, Madonna deu a palavra Stella, que gritou "Hashtag #TimesUp!", merecendo uma grande ovação. De seguida, Madonna, com as filhas e um coro, cantou à cappella "Express Yourself".
Antes de seguir viagem pelo alinhamento, e enquanto se preparava atrás de um espelho, a cantora conversou com o público e arriscou uma anedota. "O que chamam a um homem com um pénis pequeno?", perguntou. "Donald Trump", gritaram várias vozes da plateia. "Gostava que fosse essa a resposta, mas não tenho nada que o comprove. A resposta é: não sei porque nunca tive de chamar um homem com pénis pequeno", gracejou, terminado a piada dizendo "c***lho"em português.
No alinhamento seguiram-se "Vogue", "I Don’t Search I Find” e "American Life", que serviram de banda sonora para mais uma viagem ao passado da ‘rainha da pop’. Entre as canções, Madonna teve ainda tempo para leiloar uma fotografia tirada em palco com uma polaroid - um fã ofereceu mil euros pelo registo fotográfico (o valor será doado a uma instituição).
Depois de "American Life", as cortinas do palco do Coliseu dos Recreios fecharam-se e ouviu-se "Maria, Mãe de Jesus", enquanto um grupo de bailarinos transportava um caixão. Pouco depois, as portas laterais da sala abriram-se e a Orquestra Batukadeiras entrou pelo meio da plateia e subiu ao palco para o tema "Batuka", carimbando um dos momentos altos da noite.
Depois da festa com as batukadeiras de Cabo Verde, Madonna relembrou como foi a sua vinda para Lisboa e recordou Celeste Rodrigues. Em palco com Gaspar Varela, bisneto da fadista portuguesa, a artista arriscou-se a cantar alguns versos de "Fado Pechincha". A julgar pelos aplausos, o desafio foi superado com sucesso.
O tema em português foi o mote para "abrir" a sua casa de fados em palco. Entre azulejos e mesas de café, Madonna apresentou "Crazy", tema do seu último disco, e viajou até ao passado com "La Isla Bonita", que contou com uns versos extra sobre uma casa de fado.
Além do cenário e das constantes referências a Portugal, nos concertos da digressão, Madonna faz ainda uma homenagem a Cesária Évora. No concerto desta terça-feira, a 'rainha da pop' teve ao seu lado Dino D'Santiago para o tema "Sodade", que foi cantado a uma só voz pelo público e com considerável eco.
Já depois de dançar e animar o público com "Medellín", Madonna fez o que provavelmente nunca teve oportunidade de fazer durante toda a sua carreira: descer do palco e sentar-se na plateia para conversar com um fã. Esta terça-feira, o privilegiado foi Ben, da Alemanha.
Depois da conversa, a cantora voltou a subir a palco para "Extreme Occident". Seguiu-se "Frozen", um dos temas mais aplaudidos da noite, "Come Alive", "Future"e "Crave". Os três temas de "Madame X" abriram caminho para "Like a Prayer", que foi celebrado de forma triunfal por todos os fãs e que serviu para o primeiro 'adeus' de Madonna.
Alguns minutos depois e com o público a pedir "só mais uma", Madonna regressou a palco para "I Rise", tema que faz parte do último álbum. Em comunhão com o público, a artista desceu do palco e percorreu todo o corredor central até à saída do Coliseu dos Recreios.
Mesmo depois do 'adeus' de Madonna, os aplausos fizeram-se ouvir durante largos minutos. Os primeiros comentários começaram a ser trocados pouco depois e "único" era uma das palavras que mais se ouvia nos corredores do Coliseu dos Recreios.
Durante cerca de duas horas e 40 minutos, Madonna surpreendeu e revelou de forma intimista o mundo de "Madame X" - ter a 'rainha da pop' tão perto é algo que muitos fãs não imaginavam nos seus melhores sonhos.
Canção após canção, a cantora entrega-se para estar mais próxima de todos, sem nunca deixar de ser uma das estrelas maiores da música. E todos os detalhes - cenário, figurinos, jogos de luzes e alinhamento - ajudam a construir o ambiente perfeito.
Ao longo da carreira, Madonna nunca se esquivou de arriscar. Os concertos de “Madame X” são mais uma prova disso e são, ao mesmo tempo, um testemunho da sua glória e loucura - porque é na sua diferença que Madonna encontra o seu maior trunfo.
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