O projeto Esfera era uma ideia que o radialista Henrique Amaro “andava a trabalhar informalmente” com o realizador, compositor e músico André Tentúgal e que a pandemia acabou por “acelerar”, ao levá-los a pensar nas “dificuldades que iriam ter os músicos em criar novas obras e fixá-las no tempo, ter condições de gravação, etc.”, recordou o primeiro em declarações à Lusa.
“Quisemos oferecer condições de estúdio, nas suas etapas – gravação da obra, mistura, masterização -, a imagem gráfica [a cargo do Studio Dobra] e vídeo” dos temas criados, contou.
Na passada sexta-feira, foram editados cinco vinis, um por cada banda ou artista convidado, e um CD, com todos os temas que estarão também disponíveis nas plataformas de streaming.
De acordo com Henrique Amaro, “a coleção fecha quando o André no próximo mês apresentar dez vídeos, dois para cada um dos músicos convidados”.
Para este projeto, Henrique Amaro e André Tentúgal convidaram Joana Gama, Manel Cruz, Mão Morta, Miramar e Sensible Soccers, tendo feito a escolha “numa lógica de timbres diferentes, pessoas que abordam a música de uma maneira diferente entre si”.
Além disso, pediram a cada um que escolhesse “alguém externo ao seio criativo da banda” para se juntar no processo de residência artística de três dias, a que cada um teve direito, no Estúdio Arda Records, no Porto.
Aí surgem JP Simões com os Miramar, Carlos Maria Trindade (Madredeus e Heróis do Mar) com os Sensible Soccers, Angelica Salvi, Adolfo Luxúria Canibal e Haarvöl com Joana Gama, André Tentúgal e Miguel Ramos com Manel Cruz, e Pedro Sousa com Mão Morta.
As escolhas foram feitas “com total liberdade”, embora faladas com os curadores do projeto.
“Com os Mão Morta sugeri que trabalhassem o saxofone. Eles têm uma discografia muito grande, mas há timbres que nunca foram explorados tanto quanto outros, e o saxofone é um deles. Aparece fugazmente no início da discografia. Aos Miramar perguntou-se: ‘como é que será a vossa música com uma voz?’. E eles foram atrás disso”, contou Henrique Amaro.
A “pluralidade de timbres” era algo que interessava aos curadores, embora “ao reunir tudo haja quase uma unidade” entre os 12 temas gravados – cada artista foi desafiado a criar e gravar dois temas, mas Joana Gama e os Mão Morta acabaram por contribuir com três cada.
“Do ponto de vista de ambiente é um disco com uma certa densidade, algum negrume, mas é acidental. No fundo é o que aqueles músicos estavam a sentir naquela altura. O facto de eles se juntarem todos e resultar assim foi pura casualidade”, referiu Henrique Amaro.
A comercialização dos álbuns é “a única coisa” não assegurada pelo projeto. “Os discos são vistos como autoedição. Quem quiser comprar, vai ter que contactar cada um, não há o comércio dito tradicional”, explicou o radialista.
O projeto Esfera contou com o apoio do Garantir Cultura, criado pelo Governo para apoiar o setor cultural em contexto pandémico, e, se ainda não fosse, “não seria concretizável”.
“Não há fim comercial [no projeto Esfera], mas há investimento financeiro. Se não houvesse [dinheiro do Garantir Cultura], poderia concretizar-se, mas não com este tipo de volume e de condições. Não havendo um objetivo comercial, teria sempre um lado de mecenas, teríamos que encontrar um mecenas”, disse Henrique Amaro.
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