Esta será a primeira vez que a Schaubühne, em Berlim, apresenta peças portuguesas no programa do FIND – Festival Internacional de Novas Dramaturgias, que decorre entre 18 e 28 de abril, anunciou em comunicado a plataforma Arena Ensemble, que tem como diretor artístico o cineasta e encenador Marco Martins.

Assim, nos dias 20 e 21, o teatro europeu dirigido por Thomas Ostermeier recebe as peças “Pêndulo”, de Marco Martins - Arena Ensemble, e “Catarina e a beleza de matar fascistas”, de Tiago Rodrigues, que representarão a nova dramaturgia portuguesa.

Durante o festival, no dia 25 de abril, será celebrado o 50.º aniversário da “Revolução dos Cravos”, motivo pelo qual a FIND escolheu apresentar três produções em português, lê-se no site do Teatro Schaubühne, reunindo as criações de Tiago Rodrigues e Marco Martins, mais a produção brasileira “O manifesto transpofágico”, de Renata Carvalho.

“A ‘Revolução dos Cravos’ anunciou o fim do último regime fascista na Europa e do colonialismo europeu em África. Mas o que resta das utopias de mudança democrática meio século depois?”, questiona, em jeito de mote para os espetáculos escolhidos.

Tiago Rodrigues diz que língua portuguesa vai ser convidada em Avignon
Tiago Rodrigues

“Catarina e a beleza de matar fascistas”, do dramaturgo e encenador Tiago Rodrigues, aborda o legado antifascista português sob a forma de uma parábola grotesca, em que uma família dissidente desenvolveu um ritual: todos os anos, apanham e matam um fascista a tiro.

Mas, de repente, a resistência à violência começa a surgir até nas suas próprias fileiras, pondo em causa a sua tradição heroica e abrindo caminho para um novo fascismo explorar precisamente este humanismo como uma fraqueza.

“Em ‘Pêndulo’, Marco Martins percorre as relíquias do colonialismo português no presente”, descreve o texto na página da Schaubühne.

Colaborando com as suas protagonistas e coautoras, todas elas oriundas das antigas colónias de África e da América Latina, e que trabalham agora como cuidadoras e empregadas de limpeza em Portugal, “Marco Martins cria um panorama de uma sociedade apanhada no movimento do epónimo ‘pendular’”, acrescenta.

Maja Zade, dramaturga e curadora do Festival, citada pelo comunicado da Arena Ensemble, destaca a importância do lado desafiante de “Pêndulo”, na forma como confronta o espectador com a herança do colonialismo e os movimentos migratórios contemporâneos, através desse elenco composto por mulheres que imigraram para a Europa para trabalharem como cuidadoras.

Marco Martins trabalha mais uma vez a partir das biografias de um elenco não-profissional, desta vez constituído por sete mulheres cujas vidas são pautadas pelo movimento pendular: entre a periferia e o centro da capital (Lisboa), entre a sua casa e a casa de quem as emprega, e entre o país de origem e o país de destino, Portugal.

“Pêndulo” incide sobre a natureza do trabalho doméstico, para falar das relações familiares, do confronto entre diferentes modos de vida, contextos, expectativas, sonhos e quotidianos, especifica o comunicado.

A peça de Marco Martins estreou-se em 10 de junho do ano passado no Barreiro, antes de ficar em cena no Teatro de S. Luiz, em Lisboa.

O terceiro espetáculo em português integrado no festival chega do Brasil, “um país que ainda luta para se reconciliar com o seu legado colonial patriarcal”, refere a Schaubühne.

“O manifesto transpofágico” (São Paulo), de Renata Carvalho, lança luz sobre a realidade da vida dos "travestis", ameaçados diariamente pela violência.