“Este espetáculo é olhar o quotidiano e tudo aquilo que vamos vivendo no dia-a-dia. O que deixamos numa rua e trazemos dela, durante a nossa vida”, disse o músico em entrevista à agência Lusa.

Marco Oliveira, acompanhando-se à viola, apresenta “A Alma Encantadora das Ruas” na terça-feira à noite no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de S. Luiz, partilhando o cenário com os músicos Ricardo Parreira, na guitarra portuguesa, Carlos Barreto, no contrabaixo, e Diogo Duque, nos sopros.

O espetáculo conta ainda com a participação de Ana Sofia Paiva, que colaborou na sua conceção, e que vai ler excertos de textos de autores como José Rodrigues Miguéis (1901-1980) e José Gomes Ferreira (1900-1985), sobre Lisboa.

“O José Gomes Ferreira, numa das suas obras fala muito da sua rotina sobre Lisboa, o observar a rua, enquanto lugar de criação e de memória, e o Miguéis, que considero um dos nossos melhores escritores, e profundamente lisboeta”, afirmou.

Os textos são lidos, sem música, com o objetivo “de focar o essencial, que são as pessoas que vivem nesta cidade, e fazer a ligação daquela época com o que [se vive] hoje”.

Os dois escritores viveram, na então freguesia do Castelo, na rua da Saudade, onde também viveu o poeta José Carlos Ary dos Santos (1937-1984).

“Num dos temas que compus faço esta referência”, disse Marco Oliveira, adiantando que irá passar em revista os álbuns anteriores, “Retrato” (2008) e “Amor é Água que Corre” (2016), além de uma referência, “absolutamente incontornável, que é António dos Santos” (1919-1993), autor da balada “Minha Alma de Amor Sedenta”.

“Vou cantar fados tradicionais desses dois álbuns, nomeadamente poemas de José Saramago, que incluí no álbum de estreia, e levantar o véu sobre o próximo álbum, do qual vou antecipar alguns temas”, disse.

O próximo álbum “deverá sair ainda este ano”, mas por enquanto está ainda “em fase de pré-produção”.

A escolha do Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz “foi o local perfeito, ao ser um recolhimento dentro da grande cidade, e permitir observar o movimento nas ruas, através dos seus janelões de vidro”.

Marco Oliveira apresenta este espetáculo em Lisboa, depois de no passado dia 23 de fevereiro ter atuado no The Pheasantry, em Londres, no âmbito do ciclo "Songlines Fado Series", em que contou também com a participação da atriz Ana Sofia paiva.

No disco “Amor é Água que Corre” o músico assina a autoria de músicas e letras. Entre as autorias da letra, Marco Oliveira glosa uma quadra de Tristão da Silva (1927-1978), “O bem do mal”, no Fado Madre de Deus, de Ricardo Rocha, e junta versos seus aos de Carlos Conde (1901-1981), em “Disfarce”, que interpreta com o veterano António Rocha, o que, para si, constituiu “uma honra”, numa melodia de Filipe Pinto.

Esta parceria com António Rocha, fadista e poeta com mais de 50 anos de carreira, demonstra como Marco Oliveira se vê no fado: “Ser uma ponte entre a tradição e o que hoje fazemos e sentimos, a contemporaneidade, isto é, para mim, o fado”.