Com curadoria da dupla artística de Daniel Moreira e Rita Castro Neves, a Saco Azul - Associação Cultural deu-lhes "liberdade total" para escolher o tema da próxima exposição, integrada no ciclo "Outros Portos", dinamizado pela associação e o Maus Hábitos, com entrada livre.

"Estas são temáticas que nós já trabalhamos enquanto artistas. Achámos que era uma boa oportunidade. (...) Há pouco trabalho de investigação contemporâneo desenvolvido à volta do rural e da terra, e sobretudo uma visão que não seja idealizada e traga a complexidade do tema", explica Rita Castro Neves.

Segundo a curadora, os cinco artistas reunidos, Alice Geirinhas, José de Almeida, Maria Lino, Pedro Saraiva e Tânia Dinis, apresentam diferenças não só geracionais, como ao nível de género, do material usado para as suas criações e na geografia em que habitam e trabalham.

"Resolvemos juntar estes artistas, que seguíamos, trazendo, pela junção dos seus universos diferentes, um aprofundamento em várias visões da temática da serra", completa.

Os dois curadores confirmam o pendor etnográfico da mostra, para a qual desenvolveram uma instalação na qual assenta o esquema expositivo, não só pelo "interesse natural" dos dois pelo tema como pela "dificuldade" em distinguir arte popular, a que poderia ser associado o trabalho de José de Almeida, por exemplo, da arte contemporânea.

"Estamos todos a contribuir para uma visão do mundo. Faz muito sentido, tudo no mesmo plano", explica a dupla, que vive entre a Serra de São Macário, na zona de São Pedro do Sul, e o Porto.

Assim, as mais de três dezenas de obras expostas vão de um trabalho de vídeo de Tânia Dinis, "Arco da velha", rodado em 2015 em Super 8, com texto de Regina de Guimarães e a partir das vivências da avó da artista, a uma série de esculturas de José de Almeida, de 90 anos.

"É a primeira vez que expõe no circuito artístico, porque estas obras estão sempre expostas no restaurante dele, o Salva Almas, na Serra de São Macário. Não tem formação artística, foi mineiro, almocreve, construtor civil e depois abriu este restaurante", conta Rita Castro Neves.

Destas esculturas, a partir da lenda de São Macário, que se tornou eremita após uma atrocidade patricida, passa-se para outras, como as pequenas figuras em barro preto, "Bruxas", de Alice Geirinhas, que explora uma "sexualidade" feminina, nestas figuras colocadas em conversa como em relicários feitos com linóleo.

Maria Lino traz uma série de bordados que realizou com mulheres da aldeia do Feital, em Trancoso (Guarda), onde instalou uma associação, da série "A vida de Santa Margarida", que vai da pastorícia aos rituais religiosos, mas também desenhos com tinta da china, esculturas em osso, pedra sabão da Noruega e outros elementos.

Já Pedro Saraiva, professor catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, trabalha a montanha entre esculturas em gesso, pintura em óleo sobre tela e desenhos a carvão.

"Sobre o trabalho único e original destes artistas, [é que] alguns trabalham mais no interior e não saem tanto do espaço de trabalho, e daí ser tão diferente do que estamos habituados a ver na arte contemporânea", refere Daniel Moreira.

Essa variedade de elementos, que atravessa não só "questões ecológicas" como a memória, o tempo e a "ancestralidade dos materiais usados", da madeira à cerâmica e ao carvão, entre outros, associando-os à própria ideia da serra e dos lugares a ela associados, marca a mostra, que os curadores, que escolheram peças já existentes em detrimento de encomendas para poderem colocar várias visões em diálogo, pretendem que possa circular após este período.

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