Que Mazgani é um dos fenómenos de culto mais bem escondidos em Portugal, isso já sabíamos. Que Mazgani pegou em várias canções dos seus músicos favoritos e deu uma nova vestimenta, tornando-os seus, isso já sabíamos. Que Mazgani tem um vozeirão... isso já sabíamos. Portanto, quem se deslocou ao Lux Frágil na passada quinta-feira tinha noção de que iria acontecer algo mágico.
Quando PJ Harvey criou The Desperate Kingdom of Love, admitiu que fora a música mais íntima e especial que alguma vez tinha cantado. Mazgani pegou no tema, arranjou, deu um cunho pessoal, renovou o contexto, tornando-a também especial para si. Ou seja, colocou a fasquia alta logo no início.
Continuando no campo do amor, não tardou em chegar ao tema mais especial/mais conhecido até agora deste Lifeboat, To Love Somebody. O arpejo inicial da música original dos Bee Gees fez tremer as pernas do público presente, duas vezes. Isto porque Mazgani fez questão de repeti-la no encore, dedicando-a a Paulo Junqueiro, conhecido nome da indústria musical, que fez questão de estar presente no concerto de lançamento do português mais iraniano, ou melhor dizendo, do iraniano mais português que existe.
Acompanhado na guitarra por Sérgio Mendes, na bateria por Fernando Tavares, nas teclas por Paulo Cavaco e no baixo por Victor Coimbra, Mazgani cedo partiu em busca de sons e experiências que fazem recuar alguns dos projectos mais antigos. Se conhecemos Chilly Winds Don't Blow da voz de Nina Simone, colocou-se uma pele mais rock e partiu numa aventura que resultou muito bem. O mesmo se aplica ao On My Way To Canaan Land, que resultou num dos melhores momentos da noite.
Não podemos considerar que tenha existido momentos baixos, por isso é que a fasquia esteve sempre alta. These Arms are Mine, que é de Otis Redding, e de 1964, mas sempre actual) e a balada Friday's Child foram alguns dos outros temas que foram tocados.
Como é apanágio destes concertos de apresentação, é habitual revisitarmos músicas mais antigas, e neste caso, músicas da autoria de Mazgani. A revoltante história amorosa de Dog at your Door ou o dançável e eletrizante Loving Guide são provas vivas que o cantor não se esgota em reciclar e transformar em ainda maiores as obras dos outros artistas.
Ainda assim, o público, ou por cansaço de quinta, ou simplesmente por ser um pouco mais velho e parado, não aderiu muito ao entusiasmo que Mazgani queria transmitir. O que levou, em tom de gozo, o músico declarar que o este era "fraquinho". Algumas gargalhadas por parte dos poucos "loyal" fãs e siga para bingo. Rebel Sward e o gritante Mercy compuseram um concerto que fazia voar a hora e meia que durou o concerto.
Broken Tree e To Love Somebody compuseram o resto do alinhamento, que ainda contou com uma vinda ao meio do público por parte do cantor. Algo que acordou os presentes. Mazgani rematou: "Eu disse para aproveitarem mais cedo".
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