No fim, lá estavam todos em palco – exceto o português Kura – para dar um épico final ao público presente. Durante seis horas, cada um tomou conta da mesa de DJ e cumpriu o seu gig habitual, sem  oportunidades para arriscar ou inovar numa sonoridade que rompesse com o que estamos habituados a ouvir, estreando apenas um ou outro tema – malha, como se costuma chamar – para alegrar os jovens português (e não só) presentes.

Mega Hits Kings Fest

Eram 21h em ponto quando Kura, um dos portugueses com mais sucesso na Eletronic Dance Music internacional, fazia as hostes do Mega Hits Kings Fest, a primeira edição de um festival inteiramente dedicado à música eletrónica, se não contabilizarmos o MEO Sudoeste deste ano. Por todo o lado o ambiente respirava Mega Hits - com a habitual coroa laranja em cima do palco -, a rádio que dá nome ao evento e que, nos últimos tempos, tem marcadamente mudado o seu espólio de músicas, dedicando uma grande fatia de tempo de antena à música eletrónica, acompanhando assim uma moda não só nacional, mas também internacional. Está a olhos vistos: a EDM continua em crescimento.

O countdown estava feito, Kura em palco, e um ‘Are you ready?’ que se prolongaria a noite toda de mãos dadas com um ‘Put your hands in the air’, as frases-bastões deste estilo de música. Love Me Again, de John Newman, foi das primeiras canções a ouvir-se no set de Kura (que significa galinha em polaco, sabias?), e logo depois o DJ já estava em cima da mesa a comandar as palmas de todo o público. Bouncer, dos Showtek com Ookay, e Pompei, dos Bastille, aqueceram o público num bom início do nº42 do top da DJ Mag, seguidas de Rather Be, de Clean Bandit, e um novo tema do DJ português. O trabalho de luzes, background video e efeitos especiais era notável – para um show produzido por portugueses, nomeadamente da Genius y Meios -, sendo assim um dos melhores aspetos deste Mega Hits Kings Fest. A cereja em cima do bolo foi mesmo o trabalho de pirotecnia com o fogo (também de artífico) a fazer parte de um grande espetáculo, acima de tudo.

A noite ainda estava a começar, é verdade, mas o recito estava também longe de estar cheio. As bancadas, na realidade, estavam mais vazias do que cheias, quase como o Golden Circle. Era no centro que mais se concentravam os fãs ferverosos de EDM, desde portugueses a espanhóis, chilenos, belgas, ingleses, polacos, colombianos, mexicanos e, de certeza, muitas mais nacionalidades que se faziam acompanhar de bonecas insufláveis, t-shirts alusivas ao mundo do Djing, bandeiras dos respetivos países, e muitos mais objetos. É este o efeito contínuo da música eletrónica, tal como se confirmou no final com a presença de todos os DJ’s em palco para um final em grande.

Blasterjaxx seguiram-se em palco, anunciados por uma voz feminina numa intra que anuciava o set alternativo que aí vinha. Diferentes de todos os outros, os Blasterjaxx brindaram o MEO Arena com uma atuação muito mais recheada de intrumental, mais técnica – mostrando no ecrã atrás a parte mecânica do processo, recheado de número e de código, numa alusão pura às tecnologias -, e menos bigroom, com a ausência de refrães várias vezes por alongados momentos. Exceções de Heads Will Roll, Show Me Love e Lovers On The Sun, que tiveram a sua altura para brilhar noite fora, repetidamente, ou de Turn Down For What, com o hip-hop a dar ar de sua graça recheado de fumo, como bem se quer, seguido de Niggas in Paris.

Às 23h30 começamos a ouvir Bootcamp e sabemos que quem está em campo é Jay Hardway. Com um set bem mais mainstream, que agradou certamente ao público presente, Hardway conseguiu passar Eat, Sleep, Rave, Repeat, Hey Brother, Love Me Again, Need Your Love, Work Hard Play Hard (o lema de muitos dos presentes!) e We Like To Party sem enjoar, introduzindo sempre novas roupagens às habituais canções trabalhadas pelos DJ’s. A finalizar, Jay Hardway até cedeu ao pop mais feminio, num remix de Iggy Azalea e o seu Fancy, nunca ouvida noutros set’s da noite.

Contudo, seria às 00h30 que a cabeça-de-cartaz saltava para a frente de palco, antecipada por uma silencioso suspense. Martin Garrix, o ‘puto’ holandês de 18 anos, entrou a matar com um forte ‘Hello, Portugal!’ e assim se manteu durante toda a atuação, seja aos saltos ou com as mãos no ar. “This is the time to turn off your mind”, ouvimos. Mais agressivo do que Jay Hardwar, mas ainda comercial o suficiente para alegrar os fãs, Garrix levantou ondas com os hits do momento, e ainda deu-nos claridade com o maior êxito de Zedd: Clarity. À 1h, Jay Hardway invade o palco e mostra a amizade que tem com Garrix, até porque partilham os dois o mesmo agente, numa altura em que Bootcamp soava no MEO Arena. Greyhound e Antidote, dos supracitados Swedish House Mafia, e Boss Mode deram o pontapé final do primeiro show de Martin Garrix em Lisboa. Apesar disso, o espetáculo não podia acabar sem um dos maiores hits de sempre da música eletrónica (principalmente se notarmos o facto de que não tem refrão): Animals.

O fim definitivo do Mega Hits Kings Fest era dado pelos DVBBS e uma Pursuit Of Happiness que define bem o objetivo do público que ali está. Bad, de David Guetta, ou Ping Pong, foram das únicas diferenças em relação a outros set’s da noite, assim como Pyramids, um dos novos temas dos DVBBS. O grande final é já dado com todos em palco (exceto Kura) e um Tsunami literalmente, com direito a problemas de eletricidade, silêncios prolongados, DJ’s em cima mesa, DJ’s a deitar fumo (quase literalmente) e um verdadeiro Welcome To The Jungle. “You have a beautiful country here”, disseram os DVBBS. Fica sempre bem a terminar.