Em “mixtape” ou “a remistura das memórias do povo lusoburguês”, o dramaturgo e encenador lusodescendente Pedro Martins Beja “puxa a fita atrás” para dar a conhecer as recordações de uma nação que vive noutro país, e onde vai ser possível ver, no palco do Teatro Carlos Alberto, a partir de quinta-feira, cenas da história do Capuchinho Vermelho, com incursões à Guerra Colonial e ao milagre das rosas da Rainha Santa.

Em entrevista aos jornalistas, após o ensaio da peça para a imprensa, Pedro Martins Beja explicou que a ideia foi lembrar o passado assente na ‘mixtape’ (remistura) de várias visões de 'lusoburgueses'.

“Fiquei mesmo interessado em conseguir reunir os sons do passado porque tinha memórias de infância de regressar no verão a Portugal de carro a ouvir as cassetes”, conta.

Ecos de fado num rádio roufenho, reclames televisivos, festas da matança do porco e histórias de bruxas e lobisomens são alguns dos temas das faixas que compõem a ‘tracklist’ desta cassete que viaja até às “raízes do povo ‘lusoburguês’”, que atualmente representa um sexto da população do Luxemburgo, lê-se no dossiê de imprensa entregue à comunicação social.

«O conflito entre o passado e o futuro, velhos e jovens, patriarcado e emancipação é um ‘leitmotiv’ do espetáculo, que não resume apenas as memórias pessoais do encenador, mas que serve de ponto de partida para agregar os contributos do elenco composto por atores 'lusoburgueses' e portugueses.

O ator português Jorge Mota revela que o espetáculo teve “um mês de ensaio” e que foi a sua primeira “incursão como emigrante”, pois foi trabalhar um mês e meio para o Luxemburgo, “cheio de expectativas por ir fazer um espetáculo num país onde os portugueses têm uma expressão enorme”, mas onde ainda se sente que há alguns “estereótipos” na sociedade luxemburguesa sobre o povo português.

A atriz luxemburguesa Hanna Sofia Lopes conta que “é sempre complicado quando se nasce num país e os pais são de outro país".

“Apesar de, no Luxemburgo, a comunidade estrangeira ser muito importante, quase metade da população do Luxemburgo tem origem portuguesa, italiana, espanhola (…), uma pessoa não é a única, mas sente-se sempre que há assim uns elementos que nos fazem sentir um bocadinho diferentes”, descreve.

O espetáculo “O Começo perdido: Mixtape #1” explora “sonhos cumpridos”, “ilusões desfeitas”, o reprimido, o inconsciente, o inquietante, a desmistificação do conceito pátria, “apresentando Portugal não como um lugar real, mas sim como uma projeção, o país distante da infância imaginado por palavras e sons”.

Além das ligações entre Portugal e Luxemburgo, a peça de teatro aborda também temáticas que ultrapassam esse contexto, entre elas a xenofobia sofrida pelos que decidem emigrar.

Depois da recente digressão de “Castro” ao Luxemburgo, este espetáculo é mais um reflexo do programa de cooperação entre o Teatro Nacional São João e o Théâtre National do Luxemburgo.

O espetáculo, com uma hora e meia de duração, para maiores de 12 anos, conta, na interpretação, com Hanna Sofia Lopes, Fábio Godinho, Jorge Mota e Marcus Steinekellner.

A cenografia e figurinos é da autoria de Matthias Koch, a música e desenho de som são assinados por Marcus Steinekellner e o desenho de luz é da autoria de Daniel Sestak.

A dramaturgia é da responsabilidade de Florian Hirsh e a tradução é assinada por Helena Tropa.

O espetáculo fica patente no Teatro Carlos Alberto nos dias 16 a 18 de dezembro, às 19h00, e termina no dia 19 de dezembro, às 16h00.