“Se as bandas são boas, temos conservatório, excelentes executantes e bandas com potencial, porque é que estas bandas não chegam lá fora? Porque é que, com tanto potencial, depois desistem e perseguem outras coisas? Como é que a COVID-19 poderia vir a afetar ainda mais essa situação?”, interroga o fundador da editora, Luís Banrezes.
Foi a partir destas questões que nasceu a Marca Pistola, “um projeto que surgiu em plena pandemia, em quarentena, sem perspetivas de futuro”, mas com a certeza “de que, nos Açores, musicalmente, somos muito fortes”, explica Banrezes à Lusa.
“A nossa história diz isso”, sublinha o criador deste projeto, codiretor artístico do festival Tremor, fundador da agenda cultural Yuzin e dono da La Bamba Record Store, em Ponta Delgada.
O objetivo da editora discográfica é “criar uma estrutura que possa, de alguma forma, albergar todos estes artistas, todas estas ideias e, sobretudo, (…) registá-las”.
Para já, estão planeadas edições, acompanhadas de produções audiovisuais, de projetos como PMDS, Ma’ç’arico, We Sea, Insecure Frank, Vitória, P.S. Lucas, Filipe Furtado, Tosco, Luís Senra, Flip e Rapeciaz, adianta a editora, em nota de imprensa.
O projeto assenta numa plataforma online, que promove o trabalho de artistas açorianos, em vários formatos, apostando não só no registo sonoro, com edição física em vinil e cassete, mas também em vídeo e fotografia.
Para o responsável, é importante a “ideia de criar um registo sonográfico, fonográfico, para criar memória, para criar uma identidade açoriana”, complementado com uma componente visual, que quer “transformar esta música da Marca Pistola, provavelmente, numa banda sonora de paisagens açorianas”.
“Quando as pessoas compram uma cassete ou um disco, que levem um registo único para casa, uma coisa que lhes faça sentido e que as transporte, sobretudo, para este universo dos Açores, de uma nova contemporaneidade sonora, visual, fotográfica”, reforça.
A Marca Pistola surge para potenciar “esta cena nova da música açoriana, ou não”, porque a editora também “bebe muito do passado e o passado também está muito presente neste projeto”, explica o responsável.
O passado renasce através da sub chancela Milhafre Discos, um ramo coordenado por Henrique Ferreira, conhecido como DJ Milhafre, que procura registos escondidos ou perdidos do reportório açoriano, adianta Luís Banrezes.
“Há tantas coisas, por exemplo, há músicas do Zeca [Medeiros] que não foram editadas, músicas do Luís Gil [Bettencourt] que também não foram editadas. Susana Coelho – incrível – onde está a Susana Coelho?”
Mas antes de começarem a editar esses trabalhos, vão esperar que o “projeto tenha alguma escala de interesse, [para] poder ir ao mais estranho, mais experimental, porque também existia isso na altura”, prossegue, acrescentando que “os Açores têm coisas inacreditáveis, que necessitam de ganhar vida”.
Com 11 edições em catálogo, para este ano, a Marca Pistola tem “mais 11 nomes na carteira para lançar para o ano”, garante o editor desta “’label’, representativa de tudo o que, à partida, não cabe”, que pretende “abrir totalmente o mercado” e gerar a “possibilidade de haver uma atividade cultural muito diversa”, nos Açores.
Para já, os lançamentos dos discos vão-se acumulando, porque “o mercado musical está completamente parado e atrasado”, e, para não deixarem cair “o projeto um bocadinho em desuso”, vão “criar cassetes, mas não são cassetes normais, são cassetes com surpresas lá dentro”, diz o fundador.
“Não posso agora revelar, mas são registos únicos e formatos únicos, que vão acrescentar ao próprio produto da cassete. Depois, obviamente, vamos ter de fazer aqui alguma comunicação digital. Isto tudo, enquanto os formatos físicos não saírem e ganharam vida, porque está tudo muito atrasado”.
O responsável acredita “que as pessoas vão ficar muito surpreendidas com o som que esta nova geração está a fazer nos Açores – super contemporâneo, super atual, um som super globalizado, mega independente… Nada a ver com o que temos ouvido recentemente – e nada contra – com bandas que estão aí na moda”.
Banrezes assevera que “isto não vai contra, em nada, o que já existe; pelo contrário, vem reforçar” e diz que a editora quer criar os seus “próprios contextos”, potenciando a realização de concertos e a criação de conteúdos para os seus artistas.
“O que queremos fazer é a criação de novos conteúdos, a criação de uma nova geração musical, que tem muito potencial e que é totalmente desconhecida. Temos bandas inacreditáveis nos Açores, que ainda não foram claramente projetadas”, remata.
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