“Esta é uma celebração da amizade, daí o título, 'O amigo Paredes', e aquilo que ele representa”, disse à Lusa Luísa Amaro, a última acompanhadora do guitarrista.

Luísa Amaro afirmou que “Carlos Paredes tocou tão bem, que, por si só defende a sua obra, que permanece preservada e cuidada por ele próprio”, mas reconhece o risco “de a sua memória se tornar nublada”.

A guitarrista irá interpretar, de Paredes, com arranjos seus, peças como “Canto de embalar” e “Sede”, com os músicos Gonçalo Lopes (clarinete baixo) e Paulo Sérgio dos Santos (piano). Também com estes músicos será interpretado “Verdes anos/Summertime”.

“Paredes, para compor os ‘Verdes anos’, inspirou-se em ‘Summertime’ [de George Gershwin], mas, apesar de se poder comparar o fraseado, sem se atropelarem, a composição de Paredes tem uma identidade própria”, disse Luísa Amaro, que irá "brincar com estas duas composições", no palco da avenida da Liberdade.

Do cartaz fazem ainda parte os Bonecos de Santo Aleixo, do Centro Dramático de Évora (Cendrev), com quem Carlos Paredes atuou várias vezes. “O Carlos [Paredes] trocou muitas impressões sobre a guitarra com o Manuel Jaleca, que era o músico que acompanhava os Bonecos de St.º Aleixo, e ele próprio gostava muito dos Bonecos, que, nos seus textos, muitas vezes brincavam com ele, referindo-se-lhe como 'o senhor que toca com a cabeça no chão e de pés grandes'”, contou Luísa Amaro. Atualmente é José Russo, o guitarrista dos Bonecos de Santo Aleixo.

Do cartaz faz ainda parte António Eustáquio, que toca guitolão, um instrumento imaginado por Carlos Paredes e construído por Gilberto Grácio, construtor de guitarras portuguesas, e a Tuist, a tuna do Instituto Superior Técnico, de Lisboa, que irá apresentar um “medley” de composições de Carlos Paredes (1925-2004) e do seu pai, Artur Paredes (1899-1980).

Luísa Amaro realçou que a Tuist tem “uma versão muito interessante” de “Verdes anos”, acrescentando que “é através destes jovens e das aproximações que se vão fazendo à obra de Paredes, como aconteceu com Pedro Jóia e Mariana Abrunheiro, por exemplo, que a obra de Paredes viverá sempre, porque, felizmente, tal como ela é, tocada de forma perfeita pelo próprio Paredes, temos todas as gravações, e viverá por si só”.

Em comunicado enviado à Lusa, a editora Althum, que organiza o espetáculo, afirma: “A modéstia de Carlos Paredes esbarra habitualmente num muro de opiniões diversas, provenientes de críticos, especialistas e admiradores, que o apontavam como ‘simplesmente genial’, assim é qualificada a sua música”.

“A esse propósito, houve quem quisesse verificar de perto se Paredes teria mais de cinco dedos, tal a agilidade com que dedilhava a guitarra; houve ainda quem dissesse que as suas notas eram o melhor espelho do país, as que melhor o retratavam, as que melhor expressavam a alma portuguesa”, segundo o mesmo texto.

“Carlos Paredes legou-nos uma obra de valor incontestável, não só pela beleza das suas composições e da sua interpretação, mas também pela dimensão que deu à guitarra portuguesa, elevando-a a instrumento autónomo, ao invés de mero acompanhamento, transformando-a num símbolo da música portuguesa além-fronteiras”, remata a editora, segundo a qual, “a sensação de liberdade que a sua arte transmite, e a mística da obra que deixou, dão-nos conta de uma história de dedicação profunda e de uma certa nostalgia de futuro.”

Luísa Amaro disse que à Lusa que está previsto a edição, "ainda este ano", de uma biografia do músico e compositor, de autoria de Paulo Sérgio.