Com texto de autores anónimos, traduzido do árabe por Hugo Maia, e dramaturgia e encenação de Suzana Branco, "Irmã Persa", é uma demonstração de “sonoridade, constância, subversão e coragem”, disse a encenadora à agência Lusa, sobre o espetáculo que será estreado na sede da companhia, em Palmela.

Num reino governado pelo rei Xariar, que todas as noites se casa com uma mulher diferente e que na manhã seguinte a manda matar, existe um vizir, o homem sombra de Xariar, que é pai de duas filhas, Xerazade e Dinarzade.

As duas irmãs elaboram um plano para que Xariar acabe de vez com a matança de mulheres, cabendo a Xerazade casar com o rei.

“No mundo em que também vivemos ter uma obra que trespassa vários povos e que tem várias adaptações faz-nos sentido para apelar à diversidade e a outras perspetivas e outras histórias que, em conjunto, fazem a nossa história universal”, afirmou Suzana Branco sobre a pertinência de pôr esta obra em palco.

O espetáculo apela também à “inclusão” e aborda “um bocadinho o porquê de Xerazade contar todas as noites uma história”, disse a encenadora.

Assim, há a possibilidade de outras "irmãs" dos futuros espetáculos, depois da "Irmã Persa", poderem vir a ser uma palestiniana, uma chilena ou uma indiana, embora essa escolha “ainda não esteja fechada”.

"Irmã Persa" é o primeira produção de uma tetralogia, a produzir ao ritmo de um espetáculo por ano.

No palco tudo começa nas sombras. Na sombra em que vive enclausurado Xariar, que manda matar as mulheres com quem se casa depois de ter sido traído por uma, e nas sombras onde as irmãs começam a elaborar um plano que permita libertar as mulheres do reino.

Situando a ação num tempo longínquo, de início apenas se vislumbra uma roda de madeira a girar, ao mesmo tempo que vai surgindo o fogo e mãos dançando ao ritmo de cânticos árabes.

Até 2026, todos os anos será estreado um espetáculo novo pela mão de encenadores diferentes a partir do final do anterior, à semelhança da teia tecida por Xerazade noite após noite em cada história que conta.

Um trio de personagens atravessará as quatro criações: Xariar, interpretado por Fabian Bravo, Xerazade, interpretada por Rita Brito, e Dinarzade, que será representada por uma atriz de uma cultura diferente, dando assim nome a cada uma das criações teatrais.

Este ano, num espetáculo que termina no momento em que Xerazade se casa com Xariar, a personagem de Dinarzade é interpretada pela atriz e bailarina iraniana Tara Fatehi, pelo que o espetáculo tem o título “Irmã Persa”.

Para 2024, ano em que O Bando comemora 50 anos, o espetáculo será uma coprodução com a Companhia Olga Roriz e a Orquestra Sinfónica do Porto, com encenação de João Brites, diretor artístico de O Bando, adiantou à Lusa Suzana Branco.

Ainda por definir está a nacionalidade de quem irá interpretar Dinarzade, não sendo, porém, de excluir a possibilidade de ser uma atriz palestiniana, avançou a encenadora à Lusa.

“Irmã Persa” assenta num trabalho sobre a linguagem e os ciclos do tempo, falando em simultâneo sobre a escrita, o desenho, a noite e o dia, o pesadelo e o sonho.

Com figurinos e adereços de Clara Bento, e máquina de cena desenhada por João Brites com o apoio de Rui Francisco, a corporalidade é de Vânia Rovisco e o desenho visual e a retroprojeção de Maria Taborda.

A interpretar estão Fabian Bravo, Rita Brito e Tara Fatehi.

A música de cena, composta por Jorge Salgueiro, é tocada ao vivo por dois violoncelos e um organette, instrumento de finais do século XIX que é operado por uma manivela que movimenta os foles e faz rodar o disco de cartão perfurado onde está inscrita a composição musical.

A dramaturgia de Suzana Branco conta com o apoio de Sabri Zekri Arabzadeh, investigador iraniano-egípcio especialista na obra, e de Hugo Maia, antropólogo e tradutor da mais recente versão das “1001 Noites” para português.

A peça estará em cena até 10 de dezembro, com récitas de quinta-feira a sábado, às 21h00, e, ao domingo, às 17h00.