Pelas 21h00 de sábado, o espetáculo dirigido por João Brites e Olga Roriz, que se reencontram muitos anos depois cruzando teatro, dança e música, segue-se a “Irmã Persa”, em 2023, e tem ainda a parceria da Banda Sinfónica Portuguesa, inserido na programação do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI).
Integrado nas celebrações dos 50 anos do Teatro O Bando, “Irmã Palestina” coloca em cena o rei Xariar, com Xerazade, aqui interpretada por Rita Brito, e a irmã, Dinarzade, desta feita pela palestiniana Maria Dally.
O texto, na tradução de Hugo Maia, o desenho de luz, de Rui Monteiro, e a música envolvem o espectador em torno do elenco, completo com António Bollano, Fabian Bravo, Maria Fonseca, Marta Lobato Faria, Nicolas Brites e Yonel Serrano.
“O facto de se chamar ‘Irmã Palestina’ aumenta a nossa responsabilidade. Se calhar, as pessoas esperam um espetáculo muito literal e próximo do que se passa na atualidade. É um espetáculo sobre a guerra, a violência, a incapacidade de falarmos uns com os outros, sobre poder. Dito isto, é-o de forma absolutamente poética”, explica à Lusa João Brites.
Para o diretor artístico, neste espetáculo conjugou-se “uma parelha de pessoas que se aproveitam umas das outras”, no bom sentido, entre o trabalho em colaboração com Olga Roriz, “muito especial”, à conjugação de fatores em que “a obra, o teatro e a dança, são mais do que se possa explicar”.
“Não fazemos teatro para expor ideias, fazemos teatro para compreendermos melhor as ideias que temos. (...) Construímos uma utopia concreta no presente, não longínqua. Algo que parece uma quimera, e trabalhamos juntos não tanto para nos questionarmos a nós próprios, mas perceber que o Outro traz coisas”, acrescenta.
Neste “texto de tradição oral muito ancestral”, que serve quase como “um código de conduta das relações entre seres humanos”, conta João Brites, encontra-se um mecanismo de “história dentro da história dentro da história”, completa Olga Roriz.
“Há a história de Xerazade e Dinarzade, e dentro dessa a história do mercador e do génio, que vão ramificar em duas outras, as três damas e as três maçãs. (...) Essa belíssima repetição seduziu-me imenso, pelo lado estilístico, da literatura, e por serem histórias ancestrais, quase o reduto da Humanidade”, explica.
Para a coreógrafa, a junção de ideias com João Brites foi uma proposta “muito desafiante”, de cruzar “métodos e processos de trabalho muito diversos”, mas que se foi juntando, ao longo de residências artísticas que se realizaram nos últimos dois anos, e de uma união de grupo que tornou difícil, na parte final, distinguir os bailarinos dos atores.
“Também tem muito a ver com o elenco. Como os fomos preparando para esta duplicidade, que era pôr os bailarinos mais a pensar na palavra e os atores mais a pensar no corpo, começámos a ter uma união de grupo em que olhávamos e já não percebíamos quem era quem”, revela.
Sem “sentir que havia espaço para coreografias, no sentido de danças”, coube-lhe trabalhar estas personagens a partir “das mudanças de cada um, da movimentação ao longo da peça”, com um trabalho em que tanto um como outro diretor iam orientando o elenco, e o interesse pela obra fá-la pensar em, “daqui a uns dois anos, pegar nas 1001 Noites”.
Em cima da mesa, um diálogo de linguagens, com ambos os criadores a exaltarem o elenco, o trabalho de luz e a Banda Sinfónica Portuguesa, mas também de línguas, uma vez que Maria Dally diz as suas falas em árabe-palestiniano, sem legendas, com o resto do espetáculo falado em português.
Em entrevista à Lusa, Maria Dally descreve a experiência “fantástica e muito interessante” de chegar a um entendimento sem compreender a língua do outro.
“É uma mensagem para o público, sobre como somos povos semelhantes, mesmo que vivamos em territórios diferentes, e entendemo-nos, partilhamos sentimentos, momentos, uma forma de pensar”, acrescentou.
Esse encontro é tão patente “no dia-a-dia como nestas histórias antigas”, podendo viver-se “a beleza, a injustiça, a violência”, e em cena estarão estes conceitos “mas também a forma como se decide lidar com isso, com a história”.
“Nestes tempos tão críticos, como os que o meu povo está a atravessar, é muito sensível. A plateia vai sempre ver-me como uma palestiniana. Será difícil separar isso. (...) Eu trago algo diferente, mas nesta diferença posso encontrar o que é comum, o que é partilhado”, lembra.
Depois do FITEI, “Irmã Palestina” estará de 30 de maio a 2 de junho no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e de 7 a 16 de junho no Cine-teatro São João, em Palmela, no distrito de Setúbal, seguindo depois, a 6 de julho, para o Festival de Teatro de Almada.
A 47.ª edição do FITEI decorre até 26 de maio e passa por 14 palcos diferentes no Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo, com nove espetáculos internacionais e várias estreias nacionais em cartaz, num ano sob o tema “Trauma, Bravura e Fantasmagorias”.
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