“Adrianopla” tem por pretexto um documentário que está a ser realizado sobre uma comuna anarquista, constituída por um grupo de utópicos que invadiu uma propriedade rural para ali instalar uma sociedade baseada na igualdade, segundo a sinopse da peça. A narrativa constrói-se sobre sobre múltiplas versões dos mesmos acontecimentos, num só dia, por cada um dos elementos do grupo, pondo em evidência diferentes perspetivas e contradições.

Na comuna ninguém pode ser proprietário de nada, o dinheiro é proibido, não existe monogamia e os filhos nascidos no seu interior têm paternidade coletiva.

A tentativa de manter a ordem social e as fragilidades do líder da comuna, que se vai revelando incapaz de aguentar os constantes subornos que lhe propõem, a par dos conflitos individuais que vão surgindo acabam por fornecer o verdadeiro documentário sobre “Adrianopla": a demonstração de como ideais de um mundo diferente cedem perante os mais banais pecados da dimensão humana.

A peça é “uma distopia que tenta mostrar a história de uma comuna utópica, onde um grupo de pessoas nos mostra como é esta vontade de viver num modelo social diferente, com uma grande liberdade, com uma outra forma de relacionamento e onde a arte - a pulsão interior - é aquilo que os move”, refere Pedro Saavedra, autor do texto e da encenação.

Em “Adrianopla”, cuja narrativa decorre ao longo de um dia, foi criado “um mecanismo que tem a ver com o registo e com a memória”, acrescenta Saavedra, sublinhando que “a experiência de um dia nesta comuna baseia-se numa equipa de filmagens que vai filmar esse dia e com as versões diferentes do que aconteceu nesse mesmo dia, ou seja, cada um dos habitantes retratados tem uma versão diferente”.

“Esse lado do registo está marcado por uma outra personagem: uma câmara de vídeo, que está ou não a registar tudo o que é feito nesta comuna e que está ou não apontada para os acontecimentos mais importantes", conclui.

A interpretar “Adrianopla” estão Paula Garcia, Rafael Barreto e Wagner Borges.

Com banda original de Ramón Galarza, a peça tem cenografia de Luís Santos, desenho de luz de Paulo Sabino e máscaras da autoria de Cláudia Ribeiro.

A peça fica em cena até dia 29 no Auditório Municipal António Silva, em Agualva-Cacém, e tem récitas de quinta-feira a sábado, às 21h00. No último dia haverá uma sessão em 'live streaming' no palco virtual do teatromosca, na plataforma BOL, pelas 21h00.