“Um dos CD é a banda sonora do documentário ‘Portugal, Um Retrato Social’, de António Barreto, tal como a gravámos há dez anos, e o outro são canções cantadas, todas em português, por vozes com quem tenho trabalhado mais nos últimos quatro, cinco anos - a Ana Vieira, a Selma Uamusse e o Camané - sendo uma [das canções] inédita”, disse Rodrigo Leão à agência lusa.

A canção inédita intitula-se “Restos da Vida”, uma letra de Ana Carolina para uma composição de Rodrigo Leão, que Camané gravou.

“Todas as canções do CD foram gravadas há dois meses, com novos arranjos, e são aquelas que eu fiz em português, tendo talvez ficado de fora duas ou três”, afirmou.

Há dois temas de grupos aos quais Rodrigo Leão pertenceu: dos Madredeus, “Guitarra” e “Pastor”; e, dos Sétima Legião, “Mil Maneiras de Amar”.

O músico disse que, há 25 anos, quando editou o álbum “Ave Mundo Luminare” (1993), quis cortar com a composição em português, mas, ao longo da carreira, “aqui e ali”, foi compondo para temas em língua portuguesa.

Rodrigo Leão afirmou à Lusa que, quando compõe, não imagina se vai colocar voz ou que tipo voz, mas enumerou algumas exceções, como “Restos de Vida”, que escreveu “a pensar” na voz de Camané, com o qual começou a trabalhar há cerca de quatro anos, quando apresentou o concerto “O Espírito de um País”, com a Sinfonieta de Lisboa, na escadaria da Assembleia da República, por ocasião do 40.º aniversário da Revolução de Abril.

O fadista, neste disco, além de “Restos de Vida”, gravou também “Segredos” e “Rosa”, um tema originalmente gravado pela brasileira Rosa Passos, mas do qual “ficou sempre a vontade de o trabalhar com uma voz masculina, que resulta de uma forma totalmente diferente”, disse Leão.

Quanto ao disco, produzido por si e por João Eleutério, o músico realçou o trabalho do enegnheiro de som Tobias Lahmann, dos estúdios Teldex, em Berlim, com quem tinha trabalhado anteriormente no álbum "Retiro", da Fundação Calouste Gulbenkian.

Referindo-se à sua música que qualificou como “reflexiva”, Rodrigo Leão disse que todos os seus temas “começam por instrumentais apenas, e depois há um ou outro que se percebe que pode dar origem a uma canção que alguém pode cantar, que pode ser uma melodia de voz, mas é raro”.

O sociólogo António Barreto, num texto sobre este álbum, afirma que, na música que Rodrigo Leão escolheu, “há uma melancolia estranha feita de ternura e de saudade”. “Foi esta linguagem que Rodrigo Leão utilizou e tão bem adequou ao país”, acrescenta.

Para o sociólogo, “em certo sentido, é a identidade portuguesa que fica a dever algo a Rodrigo Leão”.

O músico, à Lusa, disse que tudo o influencia, “as viagens, as idas à Ericeira ou ao Alentejo, mas não há a intencionalidade dessa busca” identitária.

“Trabalho de uma forma intuitiva, às vezes, melodias que me surgem gravo-as no telemóvel, antes de as trabalhar, só porque me surgiram naquele momento”, disse.

“Sinto-me como há 25 anos, a tentar procurar melodias, harmonias, às vezes com grande sofrimento, pois nem sempre aparece a inspiração”, disse o compositor, referindo também o “importante trabalho” da equipa de produção e dos músicos que o acompanham, com quem se sente mais perto. Os amigos também “são muito importantes para o trabalho final”, acrescentou.

Rodrigo Leão prepara um novo álbum, que estava previsto sair ainda este ano, mas dada a agenda muito preenchida, de concertos e gravações, só sairá em 2019.

Sobre este próximo trabalho, apenas adiantou que há certos temas para os quais imagina “umas vozes sem letra, uma coisa mais de ambiente”, talvez para "um coro de 50 vozes de crianças”.

“De há oito meses para cá, tenho já 30 ou 40 ideias, umas mais trabalhadas, outras menos, e algumas estamos a tocar num dos projetos, que se chama ‘O Ensaio’”, rematou.